domingo, 30 de setembro de 2012

Lula não se leva à sério.





Não se deve levar a sério o que Lula diz. 

Fala pelos cotovelos, não raro pelos calcanhares, a exemplo da exortação para que militantes arrancassem materiais de adversários das ruas de São Bernardo.


E não tem qualquer apreço pela coerência entre o que disse ontem, o que diz hoje e o que dirá amanhã. 

Muito menos pela verdade. 

Sobre o mensalão, navegou entre o traído que de nada sabia ao humilde que pede desculpas à nação pelo escândalo que pegou de calças curtas os seus mais caros auxiliares. 

Daí, migrou para a fantasiosa versão do caixa 2, expressa em entrevista mais fantasiosa ainda, transmitida pelo Fantástico, da TV Globo, em julho de 2005, dois dias depois de ser gravada em Paris. 

A esse enredo, Lula e sua turma penduraram adereços. A ênfase de que culpados seriam punidos "doa em quem doer" ecoou no vazio. 

A fala dura do ex-presidente do PT e hoje governador gaúcho Tarso Genro preconizando a refundação do partido deu lugar à de um Ricardo Berzoini (PT-SP): "A prioridade é reeleger o presidente Lula. Depois veremos isso (a apuração) com calma. E essa história do mensalão é uma ficção." 

E por aí foi. 

Mensalão virou algo que nunca existiu, com Lula assegurando que como ex se dedicaria integralmente a provar que tudo não passara de farsa, coisa da direita para derrubar o primeiro presidente operário. 

Algo, aliás, que a dócil oposição nem mesmo cogitou. 

Se o transmudar dos fatos já era de admirável desfaçatez, o que se vê agora bate todos os recordes dessa categoria. 

Antes de o julgamento começar, Lula mexeu vários pauzinhos ou toras inteiras. Tentou em vão convencer ministros pelo adiamento, manobra que veio à tona quando Gilmar Mendes denunciou a tentativa de coação. 

Instigou seu partido a conclamar o povo a ir às ruas, tarefa cumprida, pateticamente, pelo deputado Rui Falcão. 

Julgamento em curso, constrangeu aliados para que assinassem nota de apoio a ele, contestada no seio dos mesmos partidos que a subscreveram. 
Do cineasta Luiz Carlos Barreto, amigo do réu José Dirceu, obteve carta aberta com 264 assinaturas da elite intelectual. Barreto batizou o documento como "filosófico-doutrinário". 

Seja lá o que isso quer dizer, não é nada filosófico, ou muito menos doutrinário, alertar o país para a presunção da inocência, como se a Suprema Corte não fosse capaz de enxergá-la. 

Agora, com condenações se acumulando e a proximidade da análise dos crimes do núcleo petista, Lula já antecipou seu novíssimo truque: o julgamento só está acontecendo porque ele, Lula, combateu como ninguém a corrupção. 

"Se juntarem todos os presidentes da história do Brasil, vocês vão ver que eles não criaram instituições para combater a corrupção como nós criamos em oito anos.

Sintam orgulho porque se tem uma coisa que fizemos, foi criar instrumentos para combater a corrupção."

Mais desfaçatez, impossível. 

*Texto de Mary Zaidan, no blog do Noblat.  Mary é Jornalista, trabalhou nos jornais “O Globo” e “O Estado de S. Paulo”, em Brasília. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência Lu Fernandes Comunicação e Imprensa 

O povo,consciente,não quer o PT.




                    Por Reinaldo Azevedo

Luiz Inácio Inconformado da Silva não está sendo julgado no Supremo Tribunal Federal, embora, a meu juízo, devesse. 

Supor que a quadrilha do mensalão tenha se reunido naquela orgia de corruptos ativos e passivos, no embalo de peculatos e gestão fraudulenta, sem a sua anuência vai além da ingenuidade, não é?

Trata-se mesmo de uma forma de cretinice. 

A Procuradoria-Geral da República, de todo modo, diz não ter conseguido reunir indícios suficientes para denunciá-lo. 

Nas conversas que mantém com interlocutores, reveladas por VEJA, Marcos Valério diz o que a todos parece óbvio: “Lula era o chefe”

É bem verdade que há outros inquéritos que investigam outras franjas do mensalão — inclusive aquele que diz respeito ao BMG e que corre na Justiça Federal de Minas. 

Nunca é tarde para chegar ao Babalorixá de Banânia. Naquele caso, as pegadas de Lula parecem muito claras. 

O Apedeuta resiste, para usar palavra de sua predileção sobre si mesmo, a “desencarnar”.
E agora, na sua compreensão sempre perturbada da democracia — espero que aquele rapaz que resenhou meu livro, o tal Bernardo Mello Franco, não se abespinhe por eu estar “atacando” Lula —, resolveu que existe uma contradição inelutável entre o “STF” e o “povo”. 

Um estaria de um lado, e o outro, de outro!!! 

Na coluna Holofote da VEJA desta semana, lemos a seguinte nota:
“’Eu não vou deixar que o último capítulo de minha biografia seja escrito pelos ministros do Supremo Tribunal Federal. Quem vai escrevê-lo é o povo’.

Foi com essa frase que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerrou um almoço com um ex-ministro há duas semanas. 

Lula não aceita a interpretação corrente de que a condenação dos mensaleiros e o fracasso do PT nas eleições representarão o fim de sua carreira política.

O interlocutor ficou em dúvida se ele pretende voltar às urnas em 2014 ou se liderará uma campanha para tentar reverter a condenação dos mensaleiros.” 


Voltei

As dúvidas desse interlocutor não fazem sentido político e jurídico. 

Comecemos por este último: a decisão do STF é irrecorrível.

Os “embargos infringentes” estão mais para “embargos auriculares”, que se fazem só nas orelhas do interlocutor.

A maioria dos réus, até agora, está condenada por placar expressivo. 

Há casos de 11 a zero, 10 a zero (depois da saída de Cezar Peluzo), 10 a 1, 9 a 2…

O que Lula pretende fazer?

Mandar os bate-paus do petismo cercar o Supremo de tacape na mão? 

É retórica balofa para realidade frouxa, oca. 

No que concerne à política, qual a saída? 

Dar um pé em Dilma e tomar o lugar dela como candidata natural à reeleição? 

No petismo, atenção!, há entusiastas de sua candidatura ao governo de São Paulo. 

É… Talvez pudesse tentar. 

Não custa lembrar que este senhor perdeu todas as disputas se considerarmos só o eleitorado do Estado. 

Se dependesse só de São Paulo, ele e Dilma nunca teriam sido eleitos presidentes da República. 

Luiz Inácio Faroleiro da Silva pode correr esse risco? 

Muitos ficarão francamente melados de emoção. 

Se der certo, bem… 

Se não der, será um enterro político sem glórias. 

O desempenho vexaminoso do PT nas capitais — e tudo indica que o resultado será muito ruim nacionalmente — demonstra que seus poderes mágicos eram frutos da mística e da mistificação. 

Não! 

O eleitorado não faz o que Lula manda.

E ponto! 

Se Fernando Haddad passar para o segundo turno em São Paulo, o projeto do chefão manco do PT ganha sobrevida porque é bem provável que Russomanno não tenha fôlego para a segunda rodada. 

Se não passar, os tais coelhos que ele prometeu assar quando se tornasse ex-presidente o aguardam… 

Lula está desesperado. 

Ontem, os petistas fizeram dois comícios na Zona Leste da cidade. O Apedeuta, que disputou uma vez o governo de São Paulo e cinco vezes a Presidência — tendo sido eleito, então, depois de quatro derrotas para cargos executivos —, recomendou, com a grosseria que lhe é peculiar, que José Serra se aposentasse… 

Sabem o que é fabuloso? 

No próximo dia 27, o petista completará 67 anos. 

É apenas três anos mais novo do que o tucano — diferença que, convenham, a partir, sei lá, dos 20, já não faz mais…diferença! 

Dia desses, afirmou que, caso Dilma não queira se candidatar à reeleição (era um convite…), ele aceitaria a parada. Se isso viesse a acontecer, estaria com 69 anos… 

Não pensem que Lula está brincando quando recomenda que o adversário se aposente! 

Ele fala a sério.

E agora começo a ligar os pontos, leitor: o homem que não reconhece a autoridade do Supremo e pensa em apelar ao “povo” para contraditar o tribunal é o mesmo que não reconhece a legitimidade do adversário e da oposição. 

Quando sugere a aposentadoria de Serra, está deixando claro que não quer vencer o seu opositor, mas eliminá-lo do jogo político. 

Esse demiurgo inescrupuloso pode avançar também para a delinquência política pura e simples.

Referindo-se a Marta Suplicy, que estava presente ao comício, afirmou que “não deixaram Marta se reeleger” por ela “se meter a fazer coisas para os pobres”. 

“Não deixaram”??? 

Quem “não deixaram”, cara-pálida? 

Em 2004, Serra foi eleito contra Marta pelo povo. 

Em 2008, Kassab foi eleito prefeito contra Marta pelo povo! 

Entendi: o Babalorixá de Banânia não reconhece o poder do Supremo, não reconhece a legitimidade da oposição e não reconhece nem mesmo a autoridade do povo se este não votar em quem ele manda.

Entendo seu nervosismo: o PT perdeu a eleição para o governo de São Paulo duas vezes (2006 e 2010) e a para a Prefeitura duas vezes (2004 e 2008) com ele na Presidência da República, tentando dar ordens aos paulistas e paulistanos. 

Lula não se conforma de não ser o nosso Maomé, ainda que certa imprensa faça esforço para isso.

É que eu não sou um exímio desenhista, viu, Mello Franco? 

Se fosse, agora faria uma charge de Lula pendurado na brocha do próprio rancor.

Joaquim Barbosa detona Marco Aurélio Mello.


As Últimas do Mensalão, BARBOSÃO DETONA MARCO AURÉLIO EM NOTA NA IMPRENSA!



Barbosa diz que Marco Aurélio é obstáculo à presidência do STF

Débora Zampier Repórter da Agência Brasil Brasília - O ministro Joaquim Barbosa, do Supremo 
Tribunal Federal, reagiu hoje (28) a críticas feitas pelo também ministro do STF Marco Aurélio 
Mello. Nos últimos dias, Marco Aurélio acusou Barbosa de destempero e pôs em dúvida seu 
desempenho como futuro presidente do STF. 
As críticas começaram quando ambos protagonizaram áspera 
discussão durante o julgamento da Ação Penal 470, conhecida como processo do mensalão. 
''Um dos principais obstáculos a ser enfrentado por qualquer pessoa que ocupe a presidência 
do Supremo Tribunal Federal tem por nome Marco Aurélio Mello. Para comprová-lo, basta que 
se consultem alguns dos ocupantes do cargo nos últimos dez ou 12 anos'', disse Joaquim 
Barbosa, em nota à imprensa. Com a aposentadoria do presidente, ministro Ayres Britto, em 
novembro, quando atinge a idade limite de 70 anos, Barbosa, atual vice-presidente, é o 
candidato natural a assumir o comando do Supremo. 
Embora seja tradição na casa, a condução do vice à presidência precisa ser confirmada por 
votação entre os ministros da Corte. Barbosa diz que, se assumir a presidência do STF, não 
tomará  "decisões rocambolescas e chocantes para a coletividade" e também não adotará 
posições "de claro e deliberado confronto para com os poderes constituídos, de intervenções 
manifestamente gauche, de puro exibicionismo", que, segundo ele, parecem ser o forte do 
ministro Marco Aurélio no momento. 
O ministro ainda afirma que, diferentemente de quem o critica, conquistou o posto de ministro do 
STF por esforço acadêmico e profissional. ''Jamais me vali ou tirei proveito de relações de natureza 
familiar". 
Marco Aurélio foi indicado ao STF na década de 1990 por seu primo, o então presidente Fernando 
Collor de Mello. A discussão entre os ministros começou na última quarta-feira (26), quando 
Barbosa insinuou que o revisor Ricardo Lewandowski estava fazendo "vista grossa" a evidências 
do processo. Marco Aurélio sugeriu a Barbosa que policiasse suas palavras, e este reagiu, dizendo 
não tolerar hipocrisia. Os ânimos só foram acalmados após intervenção do presidente Ayres Britto e 
do decano Celso de Mello, que ressaltaram a importância de opiniões diferentes no órgão colegiado. 
Edição: Nádia Franco

A serpente do mal


Conta a lenda que uma vez uma serpente de cor marrom-repugnante, com uma estrela vermelha na testa, começou a perseguir um vagalume.
Este fugia rápido, para se livrar da maldade e do veneno da serpente, mas esta nem pensava em desistir. 

E passavam-se os dias e a serpente a perseguir o vagalume.
Certo dia, o vagalume, que sempre optou pelo diálogo, perguntou à cobra: 

- Posso lhe fazer três perguntas? 
- Não costumo abrir esse precedente para ninguém, mas já que vou te destruir mesmo, pode perguntar... 
- Pertenço a sua cadeia alimentar ? 
- Não. 
- Eu te fiz algum mal? 
- Não. 
- Então, por que você quer me destruir? 
- Porque não suporto ver você brilhar.... 
* Lenda, péssimamente, adaptada pelo blogueiro

sábado, 29 de setembro de 2012

Malufismo e petismo...


"Maluf sempre exibiu uma perversão pessoal, quando parecia colocar-se acima da verdade e da mentira, do bem e do mal, com uma cara de pau absoluta. 
Sempre pareceu um psicopata.

Os petistas se colocam acima da moral, do bem e do mal por uma identificação ideológica, onipotente. 
Não é uma deformação pessoal, é uma deformação grupal. Têm uma ideologia absoluta, onipotente e, portanto, dentro de uma “práxis” pela causa, nada os atinge. Estão acima de qualquer julgamento moral, da verdade e da mentira. Dentro desse delírio grupal, eles põe o malufismo no chinelo.

Nada exemplifica melhor isso do que, após a condenação de João Cunha, vir o presidente do PT dizer que o condenado fora vítima de um golpe político. Nem Maluf ousaria tanto."

* Texto por Valfrido Medeiros Chaves, enviado por e-mail, via Grupo Resistência Democrática

Improvisação e imediatismo.


A condução da política econômica vem sendo marcada por duas dificuldades: improvisação e prevalência do imediatismo sobre preocupações mais permanentes, de prazo mais longo. São tantos os exemplos que não há como dar conta de todos neste artigo. Mas basta mencionar alguns deles para que a extensão dessas dificuldades possa ser percebida.


1. Desde meados do ano passado, o governo vem fazendo grande alarde com a desoneração da folha de pagamentos da indústria. O que começou como um projeto piloto, que favorecia quatro setores, assumiu agora proporções bem maiores.



Desonerar a folha é, em princípio, uma boa ideia. Mas, em vez de simplesmente reduzir a contribuição patronal, o governo partiu para desastrada mudança de base fiscal. Contribuição sobre faturamento e não mais sobre a folha, com alguma desoneração embutida na troca.



O problema é que a mudança reintroduz, pela porta dos fundos, a famigerada tributação cumulativa sobre faturamento, uma deformidade fiscal desnecessária da qual o país havia praticamente se livrado, graças ao louvável esforço de reforma tributária do primeiro governo do presidente Lula.



2. Desonerar a energia elétrica também era uma boa ideia. Mas, para que houvesse redução significativa da brutal carga tributária que recai sobre as tarifas, era essencial que os governadores fossem engajados no esforço de desoneração, já que boa parte da carga advém das escorchantes alíquotas de ICMS impostas pelos Estados. Não seria fácil, mas a União teria muito o que oferecer numa negociação séria com os Estados sobre a questão. Em vez de tentar avançar nessa linha, o que fez o governo? Preferiu uma redução arbitrária de preços pagos ao produtor de energia, que desincentiva investimentos na expansão da oferta e deixa a conta da desoneração nas costas do contribuinte.



3. Desde pelo menos 2008, o governo parece empenhado num esforço metódico de demolição da construção institucional que redundou na Lei de Responsabilidade Fiscal.



Especialmente lamentável nessa demolição foi a violação da regra de estrita separação entre contas do Tesouro e das instituições financeiras federais. Nos últimos anos, montou-se no BNDES um gigantesco orçamento fiscal paralelo, alimentado por fartas transferências diretas do Tesouro, não contabilizadas nem no Orçamento e nem nas estatísticas de dívida líquida e de resultado primário. Com o avanço da demolição institucional, tal esquema foi agora estendido à CEF e ao Banco do Brasil, que passaram a ser também nutridos, nas mesmas bases, com generosas transferências do Tesouro.



4. Políticas improvisadas costumam ser marcadas por pouca reflexão prévia e percepção incompleta dos prováveis desdobramentos de medidas supostamente bem intencionadas. É o que se observa com especial nitidez nas impensadas restrições que o governo decidiu impor à exploração do pré-sal. De um lado, exige-se que a Petrobras tenha monopólio da operação dos campos do pré-sal e participação de pelo menos 30% em cada consórcio que venha a explorar tais campos. De outro, que os equipamentos utilizados no pré-sal tenham nada menos que 65% de conteúdo nacional. Está a cada dia mais claro que tais restrições vêm impondo enorme ônus à Petrobras, sobrecarregando em demasia suas necessidades de investimento e trazendo atrasos inaceitáveis à exploração do pré-sal. A questão agora é como livrar a Petrobras e o pré-sal dessa estapafúrdia camisa de força, sem que o recuo imponha custo político excessivo ao governo.



5. Na condução da política comercial, o governo achou que o Brasil poderia, impunemente, esquecer sua estatura e passar a se comportar como uma Argentina. Agora, queixa-se da perda do respeito internacional que, a duras penas, o país havia conseguido angariar nessa área, ao mostrar, durante anos, que estava seriamente engajado num jogo cooperativo de combate ao cerceamento do comércio mundial. Bastaram poucos meses para que tal reputação fosse destruída. Agora é tarde. E não adianta esbravejar.
*ROGÉRIO FURQUIM WERNECK, em O GLOBO - 28/09

O PT na hora do lobo.





A Hora do Lobo é um filme de Ingmar Bergman. Os antigos a chamavam assim porque é a hora em que a maioria das pessoas morre... e a maioria nasce. Nessa hora os pesadelos nos invadem, como o fizeram com o personagem Johan Borg, interpretado por Max von Sydow. 

Como projeto destinado a mudar a cultura política do País, o PT fracassou no início de 2003. Para mim, que desejava uma trajetória renovadora, o PT sobrevive como um fósforo frio. Entretanto, na realidade, é uma força indiscutível. Detém o poder central, ocupou a máquina do Estado, criou um razoável aparato de propaganda e parece que o dinheiro chove em sua horta com a regularidade das chuvas vespertinas na Floresta Amazônica. Mas o PT está diante de um novo momento que poderia levá-lo a uma crise existencial, como o personagem de Bergman, atormentado pelos pesadelos. Pode também empurrá-lo mais ainda para o pragmatismo que cavou o abismo entre as propostas do passado e a realidade do presente. 

O PT sempre usou duas táticas combinadas para enfrentar as denúncias de corrupção. A primeira é enfatizar seu objetivo: uma política social que distribui renda e reduz as grandes desigualdades nacionais. Diante dessa equação que enfatiza os fins e relativiza os meios, alguns quadros chegam a desprezar as críticas, atribuindo-as às obsessões da classe média, etiquetando-as como um comportamento da velha UDN, partido marcado pela oposição a Getúlio Vargas e pela proximidade com o golpe que derrubou João Goulart. A segunda é criar uma versão corrigida para os fatos negativos, certo de que a opinião pública ficará perdida na guerra de versões. Esta tática é a que enfatiza o desprezo da política moderna pelas evidências, como se o confronto fosse uma guerra em que a verdade é vitimada por ambos os lados. 

Acontece que essa fuga das evidências encontra seu teste máximo no julgamento do mensalão. O ministro Joaquim Barbosa apresenta as acusações com grande riqueza de detalhes. As teses corrigidas foram sendo atropeladas pelos fatos. Não era dinheiro público? Ficou claro que sim, era dinheiro público circulando no mensalão. Ninguém comprou ninguém, eram apenas empréstimos entre aliados. Teses que se tornam risíveis diante da origem e do volume do dinheiro. O PT salvando o PP de José Janene, Pedro Correa e Pedro Henry da fúria dos credores? 

O relatório de Joaquim Barbosa apresenta o mensalão como uma evidência reconhecida pela maioria do Supremo, dos órgãos de comunicação e dos brasileiros. Como ficará a tática do PT diante dessa realidade? Negar a evidência? É um tipo de reação que, mesmo em tempo de prosperidade econômica, não funciona quando os fatos são inequívocos. 

Ao longo de minhas viagens observei que o mensalão não havia afetado as eleições municipais. Mas o processo está em curso. Algumas cidades já estão afetadas, como São Paulo e Curitiba. Nesta ocorre algo bastante irônico: o candidato Gustavo Fruet (PDT) é acusado de ter o apoio do PT e por isso perde votos. Fruet foi um dos deputados que investigaram o mensalão na CPI dos Correios. 

A reação do PT diante da possível condenação de seus líderes vai ser decisiva. Encontrará forças para reconhecer seu erro, aceitar o julgamento do STF e iniciar um processo de autocrítica? Tudo indica que não. A teoria conspiratória domina suas declarações. O mensalão foi uma invenção da mídia golpista, dizem alguns. Na nota dos partidos aliados, que deviam ser chamados de partidos submissos, acusa-se uma manobra da oposição, como se tudo isso tivesse sido construído por ela, que descansa em berço esplêndido. 

Numa entrevista raivosa, um dos réus, Paulo Rocha (PT-PA), alega que as denúncias do mensalão ocorrem porque Lula abriu o mercado brasileiro aos países árabes. A tese conspiratória é tão clássica que os judeus não poderiam ser esquecidos. 

O ex-presidente Lula parece viver realmente a hora do lobo. Percorre o Brasil atacando adversários e diz que, tal como venceu o câncer, vai derrotar os candidatos de oposição. Se o ressentimento e o rancor brotam com tanta facilidade dos lábios do líder máximo, o que esperar do exército virtual de combatentes pagos para atirar pedras? 

Este é um momento crítico na história do PT. Deve contestar estas evidências com a mesma eloquência com que contestou outras. Mas as de agora são transmitidas ao vivo, foram submetidas ao exame de ministros do Supremo, estão coalhadas de fatos, depoimentos, provas. 

Ao contestar as evidências o PT não inventa um caminho. Paulo Maluf foi acusado durante anos de desviar dinheiro para o exterior e sempre negou. A condenação e a eventual prisão de líderes não afastam o PT do poder, mas transformam o encontro nos jardins da casa de Maluf em algo mais que uma simples oportunidade fotográfica. O PT não só verteu milhões para os caixas do partido Maluf, como aceitará a tática malufista de negar as evidências, mesmo quando são esmagadoras. 

Em defesa de Maluf pode-se dizer que ele nunca prometeu a renovação ética da política brasileira. Usa apenas um mesmo e fiel assessor de imprensa para rebater críticas nos espaços de cartas de leitores. Descendente de árabes, Maluf jamais, ao que me consta, culpou uma conspiração sionista por sua desgraça. Sempre foi o Maluf apenas, sem maiores mistificações. 

Montado numa máquina publicitária, apoiado por uma miríade de intelectuais, orientado por competentes marqueteiros, o PT viverá em escala partidária a aventura individual de Maluf: negar as evidências. Até o momento nada indica que assumirá a realidade. Seu caminho deve ser negar, negar, como o marido infiel nas peças de Nelson Rodrigues - por sinal, o inventor da expressão "óbvio ululante". 

O mensalão não é um cadáver no armário, invenção de opositores ou da imprensa. 

Nasceu, cresceu e implodiu nas entranhas do governo. 

É difícil sentar-se em cima dos fatos.

Ele são como uma baioneta: espetam. 

Pesquisa eleitoral.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Não vote nulo.

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Pressão do governo forçou mudança no comando da Rede Globo


Octávio Florisbal, Roberto Irineu Marinho e Carlos Henrique Schroder (João Cotta/TV Globo)
Octávio Florisbal, Roberto Irineu Marinho e Carlos Henrique Schroder
JORGE SERRÃO
O executivo Octávio Florisbal será substituído da Direção-Geral da Rede Globo porque cansou de suportar as pressões diretas e indiretas do governo, sempre que o jornalismo da emissora detonava matérias negativas contra os esquemas petralhas e de seus aliados.
Alegando que a maior rede de televisão do País não pode aceitar se submeter à censura, Florisbal pediu aos irmãos Roberto Irineu e João Roberto Marinho para sair do cargo que será ocupado por alguém com sangue mais frio para suportar tentativas constantes de ingerências políticas: o jornalista Carlos Henrique Schroder – atual diretor-geral de Jornalismo e Esportes.
A versão de que a família Marinho preferiu se blindar contra as armações político-econômicas dos petralhas no poder vazou entre conversas de lobistas que trabalham para importantes afiliadas da Rede Globo. Os irmãos Marinho aceitaram a troca de Florisbal por Schroder porque as pressões sobre a Globo aumentaram, de forma insuportável, depois que o julgamento do Mensalão no STF ganhou os impensáveis desfechos de condenação para os principais réus políticos.
Dirigentes globais foram “desaconselhados” por “emissários do governo” a não tentarem uma entrevista exclusiva com o publicitário Marcos Valério. Muito menos a Globo deveria cogitar decomprar e veicular o conteúdo das tais quatro bombásticas fitas que Valério teria mandado um famoso cineasta gravar e editar para comprometer o ex-presidente Lula da Silva e a cúpula do PT com os mafiosos esquemas do Mensalão.
O comando das Orgnizações Globo preferiu acreditar nas ameaças e anunciou, depressa, a programada e futura substituição de Florisbal por Schroder. O ex-diretor-geral – que cansou de sofrer pressões – acabou “promovido” para um cargo no novo conselho da emissora, cujos sócios são os herdeiros do falecido Roberto Marinho.
Bronca maior – Além de neutralizar a televisão Globo, a máquina de censura petralha gostaria muito de atingir três jornalistas que operam a contra-ofensiva da família Marinho no jornal O Globo.
Merval Pereira, Ricardo Noblat e Miriam Leitão – que publicam artigos mais contundentes contra os esquemas mafiosos no governo federal – são os alvos preferenciais da petralhada.
Se a pressão sobre os controladores da Globo aumentar e se tornar insuportável, pode sobrar alguma malvadeza contra um dos três.
Tudo dominado – Reportagem do Valor Econômico desta segunda-feira antecipa a tese jurídica que será usada para condenar o famoso consultor de empresas José Dirceu de Oliveira e Silva no julgamento do Mensalão no Supremo Tribunal Federal.
Será a “Teoria do Domínio do Fato” – muito usada entre juristas da Europa para combater crimes econômicos, principalmente aqueles com ares mafiosos.
A tese do Domínio do Fato atribui responsabilidade penal a quem pertence ao comando de um grupo criminoso e que ordena aas ações sem “sujar as mãos” direta e operacionalmente com a prática da ação criminosa propriamente dita.
Se a tese pegar, é bom que o chefão acima de Dirceu comece a ficar mais preocupado ainda…(Alerta Total)

Azares de Lula.



Durante três eleições seguidas houve árduas tentativas da parte do PT para chegar à presidência da República, mas faltava ainda o essencial, um bom marketing capaz da mágica que faz do feio o bonito, do sórdido o honrado, do mentiroso o verdadeiro. Afinal, não é com imagens construídas com perfeição que a política é feita?

Então, apareceu o mago Duda Mendonça e sua arte suprema de propaganda enganosa como o é quase toda propaganda, sobretudo, a política. Foi elaborada a Carta do Povo que apaziguou com êxito os desconfiados. Adesões e coligações inimagináveis para o PT de outrora foram consumadas. E o mais importante: foi cuidadosamente fabricada a imagem falsificada do “Lulinha de paz e amor”.

Estas técnicas e táticas levaram finalmente o PT ao cobiçado cargo na quarta tentativa. Como normalmente acontece com os revolucionários que alcançando o poder se esmeram em fazer com mais precisão o que antes criticavam, ao vencer Lula e companheiros deram alegremente adeus à ética e à ideologia de esquerda que varia conforme as circunstâncias e possui tendência acentuada para o desfrute das delícias da burguesia. Ás favas com escrúpulos e transparência. E, assim, aconteceu entre outros fatos nada edificantes a compra de votos dos congressistas da enorme base aliada de Sua Excelência Lula da Silva. Foi o maior escândalo de corrupção nunca antes havido nesse país e alcunhado por Roberto Jefferson de “mensalão”.

Lula sempre dizendo como qualquer ladrão de galinha que não sabia de nada que se passava sob seu nariz. Quer dizer, ou ele é totalmente idiota ou se locupletava com a corrupção, exercendo seu mandonismo e seus instintos autoritários a todo vapor para alicerçar um poder cada vez maior no qual o Executivo se avantajava e o Legislativo se tornava um bando de marionetes manipulado por seus desejos. Lula não é idiota. Por isso começam pela primeira vez a surgir várias opiniões afirmando que é ele e não José Dirceu o poderoso chefão da engrenagem de compra de votos que teve como “gerente” ou “boy de luxo”, Marcos Valério. Esta suposição que enxovalha o mito não está ainda comprovada juridicamente. Contudo é significativo que Lula tenha feito o possível para evitar o julgamento do “mensalão”, desde implantar a CPI do Cachoeira para distrair as atenções até chantagear o ministro Gilmar Mendes para que este adiasse o processo para depois das eleições.

Dirão alguns que foram exatamente as eleições que preocuparam Lula. Ele quer ganhar todas as prefeituras que puder e, mais do que todas, a de São Paulo. Mas, seria só isso ou intuía que viria à tona a perigosa desconfiança sobre seu envolvimento no escândalo?

Impressiona também a fúria de que foram tomados seus adeptos para defendê-lo e ao seu lugar-tenente, José Dirceu. Partem para ultrajar a instância mais alta da Justiça no sentido de desqualificar o julgamento que tem tido na figura do ministro Joaquim Barbosa o exemplo de como se julga estribado na lei e na justiça. Surge um manifesto sem pé nem cabeça de artistas e o presidente do PT, Rui Falcão, afirma que o julgamento do “mensalão” é golpe das elites sujas e da imprensa. Golpe em quem? Lula não é mais presidente, portanto, não pode sofrer um impeachment. Tudo está sendo julgado com base nos fatos, provas e testemunhas armazenados em enormes calhamaços de milhares de páginas. Oito ministros foram nomeados por Lula e Rousseff e é notório que o ministro Lewandowski procura retardar ao máximo o julgamento enquanto o ministro Toffoli que deveria ter se considerado impedido de participar dadas suas ligações com José Dirceu permanece para votar. Mais ainda, o julgamento ainda levará bom tempo e, apesar da maioria dos ministros estarem seguindo o voto técnico do ministro Barbosa não se sabe o que vai acontecer. Por que, então, o desespero dos defensores de Lula?

Golpe é dos que afrontam o Judiciário. Parecem querer igualar esse Poder independente ao servil Legislativo. Até a presidente Rousseff, de forma prepotente e imprópria, mandou recado para o ministro Joaquim Barbosa por ter este citado uma sua afirmação quando era ministra de Minas e Energia. Ela deve pensar que ele faz parte de seu ministério onde manda e desmanda.
Note-se que quando o PT ajudou a derrubar o presidente Collor, tendo sido o então deputado Lula que propôs o impeachment, ninguém falou em golpe. Muito tempo depois Collor foi inocentado pelo STF.
Em todo caso, muitos têm sido os azares do Lula que sem cargo já não dispõe da imensa sorte que sempre o acompanhou. A doença lhe tira vigor nos palanques. As campanhas não estão favorecendo os candidatos do PT. O pouco comparecimento aos comícios em que ele aparece indica que a estrela do PT está decadente.
O julgamento do “mensalão” e as urnas confirmarão se isso é verdade ou se novos tempos estão por vir. Como se diz, “a esperança é a última que morre”.
*Texto por Maria Lucia Victor Barbosa, socióloga - mlucia@sercomtel.com.br



quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Russomanno cai pela 1ª vez; Haddad cresce e empata com Serra, diz Datafolha


O candidato do PRB à Prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno, caiu cinco pontos percentuais e tem 30% das intenções de votos, de acordo com pesquisa Datafolha concluída nesta quinta-feira.
A dez dias da eleição, esta é a primeira queda do candidato fora da margem de erro desde o início da campanha. Apesar da queda, Russomanno mantém a liderança na disputa, conquistada ainda em julho. A margem de erro desta pesquisa é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
O levantamento mostra também crescimento de Fernando Haddad (PT), que saiu de 15% para 18%, e voltou a aparecer em empate técnico com José Serra (PSDB), que aparece com 22% das intenções de voto. Na pesquisa anterior, divulgada na semana passada, Serra tinha 21% e havia se descolado de Haddad.
Serra e Haddad disputam uma vaga no segundo turno e adotaram a estratégia de concentrar as críticas no líder das pesquisas, antes poupado dos ataques. A mudança de postura ficou evidente no último debate, realizado pela TV Gazeta na segunda-feira (24). Os ataques também foram levados à propaganda eleitoral na TV e exploram, principalmente, a falta de capacidade de Russomanno para governar.
Gabriel Chalita (PMDB), que tinha 8%, aparece com 9% das intenções de voto. Soninha (PPS) aparece com 4%. Os candidatos Paulinho (PDT), Carlos Giannazi (PSOL) e Ana Luiza (PSTU) têm 1%. Os demais candidatos não pontuaram na pesquisa.

Venezuela e seu "negócio da China"




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Outdoor anuncia entrada de estatal chinesa em projeto ferroviário em Los Caminos, Venezuela (Reprodução/Bloomberg)

NEGÓCIO DA CHINA
Empréstimos chineses financiam reeleição de Chávez
Além de proteger as grandes entregas de petróleo, a maior parte do dinheiro emprestado é devolvido sob a forma de contratos para estatais chinesas na Venezuela

A venezuelana Edelmina Flores agradece a Deus e ao presidente Hugo Chávez por seu apartamento em um novo complexo habitacional no país. Ela também poderia agradecer ao governo chinês.
Desde 2007, o Banco de Desenvolvimento da China emprestou para a Venezuela 42,5 bilhões de dólares para garantir acesso a suas abastadas reservas de petróleo, de acordo com dados compilados pela Bloomberg a partir de anúncios feitos pelo governo Chávez. Isso é cerca de 23% de todos os empréstimos no exterior por parte do credor estatal chinês e bem mais do que os 29 bilhões de dólares que os EUA gastaram na reconstrução do Iraque entre 2003 e 2006. Pelo menos US$ 12 bilhões foram prometidos nos últimos 15 meses, quando a produção de petróleo mundial estagnou e custos de exportação dos mercados emergentes aumentaram.
Os empréstimos estão alimentando um aumento dos gastos do governo Chávez. Além de casas para os pobres, Chávez tem investido em outras ações “socialistas”, tudo para conquistar votos no próximo dia 7 de outubro, em sua batalha mais difícil nas urnas até agora.
Os empréstimos também dão influência chinesa sobre Chávez, que fala regularmente de recuperar a soberania da Venezuela, depois de décadas de subjugação para o “império” dos EUA. Além de proteger as grandes entregas de petróleo para a China, a maior parte do dinheiro emprestado é devolvido sob a forma de contratos para estatais chinesas, que têm sua expansão global financiada também pelo Banco de Desenvolvimento da China, com sede em Pequim, o maior investidor do mundo.
Entre os beneficiários estão a Corporação Petroquímica da China, a maior petrolífera do país, e a produtora de gás, a Corporação Nacional de Petróleo da China.  Ambas ganharam participações na indústria de petróleo da Venezuela depois que a Exxon Mobil Corp (XOM) e ConocoPhillips (COP) abandonaram o país sob a ameaça de nacionalização.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

PRB quer Lula, Dilma e PT no palanque de Russomanno no 2º turno


Por FERNANDO RODRIGUES, DE BRASÍLIA 26/09/12
O presidente nacional do PRB, Marcos Pereira, disse considerar "natural" que o PT, a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva apoiem o candidato Celso Russomanno num eventual segundo turno pela Prefeitura de São Paulo se o adversário for José Serra (PSDB).
Em entrevista ao Poder e Política, projeto da Folha e do UOL, ele disse: "Nós temos essa expectativa. Acho que é muito mais do que justo, porque o PRB já nasceu aliado com o presidente Lula, com o PT, elegendo o José Alencar vice-presidente no segundo mandato do presidente Lula".
Trechos da entrevista com Marcos Pereira -

Dilma apoia PRB contra Serra no 2º turno
Se o adversário for Haddad (PT), presidente do PRB disse esperar poucas críticas por parte dos petistas. Ele falou ao UOL e à Folha em 25 de setembro de 2012.
Licenciado de suas funções de pastor (desde 1994) e de bispo (desde 1999) da Igreja Universal do Reino de Deus, Marcos Pereira é o principal operador político do Partido Republicano Brasileiro, ligado à Igreja Universal do Reino de Deus (Edir Macedo)
O "bispo licenciado" é uma categoria de religiosos da IURD para trabalhos externos em áreas de “interesse da organização”. De licença, Marcos Pereira não exerce atividades religiosas em tempo integral, mas mantém o vínculo com a igreja.
No caso de Fernando Haddad (PT) passar ao segundo turno na eleição paulistana, o dirigente do PRB dá um sorriso. Sugere uma fórmula para a presidente Dilma:
"Eu imagino que ela deverá, obviamente, apoiar o Fernando Haddad. Mas sem críticas e sem tons agressivos ao outro candidato, que a apoiou na sua eleição em 2010 e o partido que a apoiou e hoje faz base do governo dela".
Marcos Pereira relatou também como foi o processo que levou o PRB a assinar um manifesto de partidos governistas em defesa de Lula, insinuando que a oposição estaria preparando um golpe.
Segundo o dirigente do PRB, coube ao ministro Marcelo Crivella (Pesca), que é do seu partido, analisar o documento a pedido do presidente do PT, Rui Falcão. "Eu não tive participação nenhuma na construção do texto, nem sequer li o texto", afirma Pereira.
Ele não diz que discorda, mas faz uma ressalva sobre o trecho que fala em golpe: "Eu teria discutido um pouco mais com eles o conteúdo da carta. Não há que se falar em golpe, na minha opinião".
Conciliador, Marcos Pereira retirou nesta semana de seu blog um texto escrito há um ano e meio e considerado ofensivo pela Igreja Católica. O líder do PRB sugeria ligação de católicos à proposta de distribuir um kit anti-homofobia em escolas. O caso agora ficou para trás: "Eu não estou aqui para julgar o que a Igreja Católica faz e deixa de fazer. Nós não devemos ficar discutindo religião [na campanha] porque isso é muito ruim para o fortalecimento e amadurecimento da democracia brasileira".
PERFIL
O advogado Marcos Antonio Pereira, de 40 anos, pode ser encaixado dentro do grupo de brasileiros emergentes dos quais tanto se fala neste início de século 21. De origem humilde, ascendeu a postos de direção na Igreja Universal do Reino de Deus e na TV Record. Hoje, é o presidente nacional do PRB (Partido Republicano Brasileiro).
Logo ao nascer, Marcos conta ter sido entregue para uma família de um mecânico de automóveis em Linhares, no interior do Espírito Santo. Nunca conheceu a mãe biológica. "Procurei, mas não achei. Agora, só se eu fosse no Programa do Ratinho, mas não acho que seja o caso", diz, bem humorado. Ele se diz resolvido sobre esse assunto e mostra, espontaneamente, um documento no qual só aparece o nome da mãe e não o do pai.
"Minha mãe era empregada doméstica em São Paulo. A história que me contam é que ela engravidou do patrão. Voltou para o Espírito Santo. Depois que eu nasci, foi embora e ninguém mais teve contato com ela".
Aos cinco anos, Marcos Pereira foi morar com a mãe de seu padrasto, em São Mateus, outra cidade do interior capixaba. Estudou em escolas públicas. Formou-se em 1989 como técnico em contabilidade após ter cursado o antigo segundo grau (hoje ensino médio) profissionalizante.
Tinha 17 anos e havia sido educado na fé católica. Chegou a pensar em ser padre. Mas acabou mesmo entrando para a Igreja Universal do Reino de Deus, em São Mateus. O templo funcionava na casa de sua futura (e até hoje) mulher. Aos 20 anos, já era pastor e tinha um escritório próprio de contabilidade.
Loquaz e com raciocínio organizado em suas apresentações, passou dois anos em Colatina, uma cidade média do Espírito Santo. Em 1994, a Universal o chamou para o Rio, onde passou a desempenhar funções administrativas na organização religiosa.
Em 1999, foi promovido a bispo. Em outubro do mesmo ano, foi transferido para São Paulo para ser o segundo homem na hierarquia administrativa da igreja no Brasil.
Sua capacidade organizacional o catapultou em 2002 para a TV Record, emissora ligada à Igreja Universal. Lá, foi diretor de rede, vice-presidente ("quando só havia um vice-presidente"), vice-presidente executivo e de relações institucionais.
Todas essas atribuições fizeram com que Marcos Pereira atrasasse suas pretensões acadêmicas e políticas. Só em 2005 formou-se em direito pela Unip. No ano seguinte, matriculou-se num mestrado na PUC, mas cursou só um semestre.
Preferiu se dedicar a uma maratona de aulas diárias no Instituto Berlitz em 2006. Hoje, é fluente em inglês. "Falo inclusive inglês jurídico. Falo com advogados internacionais em inglês", afirma. Em 2009, fez uma especialização em direito e processo penal no Mackenzie.
O curso no Mackenzie o animou a fazer carreira fora da Igreja Universal e fora da Record. Ele havia montado LM Consultoria em 2003, para prestar assessoria contábil e jurídica. Resolveu então deixar em 2010 o cargo de direção que ocupava na emissora de TV do bispo Edir Macedo.
Durou pouco tempo esse afastamento. Em 9 de maio de 2011, Marcos Pereira foi aclamado presidente nacional do PRB. Ele nem havia participado da montagem da legenda nos anos de 2004 e 2005. Mas o partido que passou a ser o braço político da Universal e da TV Record precisava dele para uma nova fase de crescimento.
"Quando eu tinha 18 anos, cheguei a pensar em me candidatar a vereador em São Mateus. Mas não deu. Eu passei muitos anos filiado ao PT. Depois, no início dos anos 2000, estive no PSB", relata.
Com 1m62 de altura e 60 quilos, o presidente do PRB é crítico com sua forma: "Estou precisando emagrecer. Mas de esporte eu não gosto muito. Torço para o Vasco, só que acompanho futebol mesmo durante a Copa do Mundo", diz. Vai se candidatar? "Não posso descartar. Só que 2014 talvez ainda seja cedo para mim".

Chute na imagem da Padroeira do Brasil. Um desrespeito ou intolerância?