sábado, 11 de novembro de 2017

O terror vermelho

O primeiro Estado policial bolchevique se entregou às orgias de estuprar, torturar e matar.
Em agosto de 1918, uma mulher atirou e quase matou o então líder soviético, Vladimir Lênin, enquanto ele visitava uma fábrica em Moscou. O assassino era Fanya Kaplan, uma socialista descontente cujo partido político havia sido banido no início desse ano pelos comunistas bolchevistas de Lênin.
Antes de sua execução, vários dias depois do ataque a Lênin, Kaplan disse que agia sozinha, porém haviam muitos que compartilhavam suas queixas. Um ano antes, os bolcheviques rapidamente estabeleceram a ditadura do proletariado com a Revolução de outubro de 1917. Eles cederam vastos territórios à Alemanha em troca da paz e dissolveram o primeiro experimento democrático que sucedeu a queda do Império russo e a abdicação do imperador Nicolau II.
Muitos comunistas e revolucionários de esquerda que fizeram parte das revoltas do início de 1917 que culminaram na queda do czar russo e, que ajudaram na ascensão de Lênin ao poder, estavam descontentes com o comportamento do líder bolchevique.
Com o estabelecimento da ditadura marxista, os revolucionários não-bolchevistas haviam perdido sua utilidade. Após várias revoltas por uma série de grupos socialistas, e pouco antes de ser baleado por Kaplan, Lênin havia declarado que um “terror em massa” era necessário para limpar o movimento.
E o terror chegaria, não apenas sob o domínio de Lênin, mas décadas depois de sua morte na União Soviética, Europa Oriental, China, Coréia do Norte, Vietnã, Camboja, Cuba e a todos os países onde se estabeleceu o controle por um partido comunista.
Construindo o Estado policial soviético
Antes dos comunistas, os governos russos já possuíam suas próprias polícias secretas, como a temida Oprichnina do czar Ivan “o Terrível” (1530-1584), que suspeitava da aristocracia de conspirar para derrubá-lo.
E, nos dias de Lênin, salvaguardar a revolução soviética e cimentar sua ideologia violenta, caminharam de mãos dadas com o terror de Estado. Poucas semanas após a Revolução de outubro de 1917, o Partido bolchevique estabeleceu o Comitê de Emergência, mais conhecido como Cheka – a polícia secreta bolchevique.
O líder desse comitê era um ex-nobre polonês, Felix Dzerzhinsky, um homem magro e fanático que se converteu ao socialismo e depois ao comunismo em sua juventude. Com apenas algumas centenas de membros em 1917, o Cheka se expandiu rapidamente quando os bolcheviques intensificaram a guerra contra o Exército Branco — também conhecido como a Guarda Branca ou os Brancos, uma confederação dispersa de forças anticomunistas -, e encontraram crescente e violenta dissidência entre as fileiras comunistas. Dentro de dois anos, a polícia secreta bolchevique tinha cerca de 200 mil funcionários.
Quando Felix criou o Cheka, ele próprio era um bolchevique novo, pois acabará de desertar de outra facção vermelha, entretanto sua criação se tornaria uma arma permanente e infalível do regime soviético até seu colapso em O Terror Vermelho
A tentativa de assassinato a Lênin em agosto de 1918 foi um catalisador para as centenas de milhares de execuções que o Cheka realizou até o início da década de 1920.
“Defendemos o terror organizado – isso deve ser francamente admitido”, disse Felix, em julho de 1918. “O terror é uma necessidade absoluta em tempos de revolução. … Nós julgamos rapidamente. Na maioria dos casos, apenas um dia se passa entre a apreensão do criminoso e sua sentença”.
Vestidos em uniformes com casacos de couro, os agentes do Cheka seguiam os exércitos bolcheviques, agrupando os suspeitos que haviam sido capturados, incluindo os proprietários de terras, a nobreza, os empresários e até aqueles que simplesmente se encontravam vagando após o toque de recolher. Esta rotina era seguida por execuções em massa.
Já em 1924, o historiador russo, Sergei Melgunov – que escapou dos bolcheviques -, revelou em seu livro “Terror Vermelho na Rússia” (Red Terror in Russia) a matança sistemática, fornecendo documentos e fotografias. A própria Cheka divulgou relatórios anunciando orgulhosamente números parciais dos mortos. Em muitas regiões, todo crime – real ou falso – carregava uma sentença de morte.
Sobre os assassinatos, Melgunov diz: “o número de nomes publicados foi uma pequena fração da realidade. Além disso, quando os bolcheviques estavam prestes a levantar vôo em seu avião desgovernado [a revolução], eles disseram aos trabalhadores que, se eles (os trabalhadores) não se juntassem a eles, eles (os bolcheviques), ao retornar, enforcariam todos os trabalhadores que ficaram para trás em um poste de telégrafo”.
As ações da Cheka seguiam a filosofia comunista da luta de classes, o abandono da moral e da dignidade humana. Qualquer coisa que se opunha a essas ideias era contra-revolucionária. As vítimas ou os membros da família das vítimas foram muitas vezes obrigados a se despir antes de serem baleados. Outros prisioneiros foram forçados a subir em barcaças e levados para o mar, se afogando após os bolcheviques afundarem o navio.
Melgunov observa: “Em Kiev, era prática fazer os condenados prostarem-se sobre o sangue coagulado no chão antes de serem atingidos na parte de trás da cabeça ou cérebro”.
Além da execução sumária, os membros do Cheka também apreciavam tortura e estupros. Um artigo do período diz: “Torturas nesses distritos [Ekaterinodar e Kuban] são físicas e mentais. Ekaterinodar tem um método particular de sua aplicação, como segue. A vítima é colocada de costas no chão de sua cela, enquanto dois membros corpulentos do Cheka puxam sua cabeça e outros dois seus ombros, até que os músculos de seu pescoço estejam absolutamente esticados e tensionados. Então um quinto homem começa a bater no pescoço da vítima com um instrumento cego – geralmente o cano de um revólver – até que, com o pescoço inchado, o sangue comece a jorra da boca e das narinas, sofrendo uma espantosa agonia.”
As mulheres prisioneiras atraentes aos olhos dos policiais secretos eram estupradas antes de serem mortas, as mulheres dos homens condenados tentavam resgatá-los através da servidão sexual. Normalmente, os prisioneiros eram mortos de qualquer maneira.
Em algumas áreas do sul da Rússia, oficiais locais do Cheka mantinham orgias com as presas, usando eufemismos como “comunização das mulheres” ou “dias de amor livre“.
Melgunov lembra: “Uma testemunha que já citei em conexão com eventos na Criméia disse ao Tribunal de Lausanne que cada um dos marinheiros ativos naquela região possuía quatro ou cinco amantes e que, na maioria dos casos, essas pobre mulheres eram esposas de oficiais massacrados ou fugidos, uma vez que a rejeição das propostas dos marinheiros significava execução, e apenas algumas senhoras de mentalidade mais forte conseguiam reunir coragem para resolver o problema pelo suicídio”.
Um “padrão comunista de pensar e reagir”
Ao longo do tempo, a intensidade e a crueldade dos assassinatos no Terror Vermelho afetaram os carrascos do Cheka.
Melgunov escreve: “Sobre tudo, é incontestável dizer que por um tempo os hospitais psiquiátricos da Rússia registraram um grande número de casos de uma doença que se tornou conhecida como “demência do executor”, devido à sua tendência de levar os pacientes a um remorso intenso pelas vítimas (reais ou imaginárias) do derramamento de sangue, causando alucinações angustiantes”.
Mas para o regime comunista, matar tornou-se uma ferramenta valiosa para manter a população na linha. Depois que Lênin morreu em 1924, o Cheka foi renomeado várias vezes, mas servindo a mesma função. Joseph Stalin, que substituiu Lênin e continuou a ditadura comunista, saudou Felix como “um cavaleiro devoto do proletariado” com a morte deste último em 1926.
A repressão política na União Soviética alcançaria seu auge sob Stalin e a série de purgas conhecida como o “Grande Terror”. Centenas de milhares de vítimas seriam os compatriotas poloneses de Felix.
Em 1919, Lênin teria feito uma visita secreta a Ivan Pavlov, um psicólogo famoso por seus experimentos com treinamento de estímulos condicionados em cães. Segundo o historiador britânico Orlando Figes, o líder soviético disse: “Quero que as massas da Rússia sigam um padrão comunista de pensar e reagir”.
“Quer dizer que você gostaria de padronizar a população da Rússia? Fazendo com que todos se comportem do mesmo jeito?”, perguntou Pavlov surpreso.
“Exatamente”, disse Lenin. “O homem pode ser corrigido. O homem pode se tornar o que queremos que ele seja”.
Estima-se que o comunismo tenha matado mais de 100 milhões de pessoas, mas seus crimes não foram totalmente compilados e sua ideologia ainda persiste.
1991.

*Graça dgferraz [resistencia-democratica] resistencia-democratica@yahoogrupos.com.br


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