Lobão é suspeito de ser sócio oculto de holding em Cayman.
Ex-ministro de Minas e Energia, senador é alvo de
inquérito que investiga se ele lavou dinheiro em negócios da Diamond Mountain.
BRASÍLIA – O senador e ex-ministro de Minas e Energia
Edison Lobão (PMDB-MA) é suspeito de ser sócio oculto de um grupo de empresas
sediado nas Ilhas Cayman, conhecido paraíso fiscal caribenho. Um inquérito
aberto na Justiça Federal em São Paulo foi encaminhado em fevereiro deste ano
ao Supremo Tribunal Federal para apurar a eventual participação do senador na
holding Diamond Mountain (em português, Montanha de Diamante), voltada, no
Brasil, para a captação de recursos de fundos de pensão de estatais,
fornecedores da Petrobrás e empresas privadas que recebem recursos de bancos
públicos, como o BNDES, áreas de influência do PMDB.
Mensagens. Primeiro mostra proximidade; segundo traz uma
recomendação do ministro.
Lobão, que comandou a pasta de Minas e Energia nos
governos Lula (2008 a 2010) e Dilma (2011 a 2014), é investigado sob suspeita
de lavagem de dinheiro e ocultação de bens, conforme consta no inquérito
encaminhado ao ministro Luiz Roberto Barroso. O ex-ministro também é alvo da
Operação Lava Jato, sob suspeita de ter recebido propina do esquema de
corrupção na Petrobrás, empresa vinculada à pasta de Minas e Energia.
O inquérito Diamond Mountain foi aberto a partir de
declarações de um ex-sócio que se diz lesado por outros dirigentes do grupo.
Aos investigadores ele contou que Lobão se associou à holding de forma oculta
entre 2011 e 2012. O ex-ministro seria representado nas empresas pelo advogado
maranhense Marcio Coutinho, que foi secretário de articulação política da
campanha derrotada de Lobão Filho (PMDB) ao governo do Maranhão em 2014 e
advoga para ele no Supremo.
Num dos depoimentos, o ex-dirigente da Diamond Mountain
diz que Coutinho e seu colega de escritório, Vinícius Peixoto Gonçalves, tinham
reuniões semanais com sócios do grupo em São Paulo para “acompanhar o negócio
em nome do ministro Lobão.” A banca de Coutinho chegou a ter uma sala no mesmo
prédio da Diamond.
A holding está registrada em Cayman e no Brasil em nome
do advogado Marcos Costa e do empresário Luiz Alberto Meiches. Os dois são
alvos de inquérito aberto em São Paulo que trata do mesmo assunto. No caso de
Lobão, a investigação foi remetida ao Supremo porque, como senador, ele tem
prerrogativa de foro.
Mensagens. No
inquérito constam e-mails dos dois, nos quais citam reuniões com o então
ministro em Brasília, em 2011, para tratar de negócios das empresas. Recebi uma
ligação do ministro Lobão me pedindo para que eu me reúna com ele amanhã no
ministério. (ele pediu para que eu fosse sozinho), disse em mensagem a
funcionários da Diamond em 1º de junho de 2011.
Lobão nega participar da sociedade e diz desconhecer a
investigação no Supremo. Ele confirmou ter recebido Costa e Coutinho uma única
vez no ministério para tratar de “assuntos relacionados ao setor energético”. A
audiência, contudo, não constou da agenda oficial.Os e-mails indicam, porém,
que houve outros encontros.
Ex-funcionários da holding no Brasil disseram ao Estado,
sob a condição de anonimato, que eram frequentes as conversas dos sócios com
Lobão, quando ele ainda chefiava a área de energia do governo federal. No dia a
dia do grupo, o então ministro era tratado por “Big Wolf” e “Tio”. O grupo
Diamond também atua na compra e venda de empresas, operações de seguros e no
mercado imobiliário.
A Diamond Mountain Cayman Holding tem cinco subsidiárias
no Brasil, entre elas a Diamond Mountain Investimentos e Gestão de Recursos. A
empresa é gestora de fundos de investimento e prospecta recursos de
fornecedores da Petrobrás e entidades de previdência como Petros (Petrobrás),
Previ (Banco do Brasil), Funcef (Caixa) e Núcleos (Eletronuclear). O Postalis,
de funcionários dos Correios, tem R$ 67,5 milhões no Fundo de Investimento em
Participações Mezanino Diamond Mountain Marine Infraestrutura, gerido pela
Diamond desde 2014. Lobão tem indicados em duas diretorias da entidade.
*POR: ANDREZA MATAIS, TALITA FERNANDES E FÁBIO FABRINI –
O ESTADO DE S. PAULO.
COLABOROU MURILO RODRIGUES ALVES.
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