domingo, 22 de novembro de 2015

A escatologia apocalíptica do Estado Islâmico.

A barbárie gratuita, sem sentido, não é exatamente novidade na história humana. Está entre nós pelo menos desde os tempos da Bíblia, que descreve a conquista de Canaã pelos antigos hebreus como um banho de sangue. Ao longo dos séculos, os descendentes dos hebreus, os judeus, também foram massacrados, tornaram-se alvo das carnificinas dos cruzados, vítimas da Inquisição e de um sem-número de perseguições. Mas quem eram os cruzados ou inquisidores perto dos mongóis? No século XII, eles dominaram uma faixa de território, do Pacífico ao Mediterrâneo, dizimando a população de cidades inteiras. Os muçulmanos também cumpriram sua cota de morticínios. Em 1801, o santuário de Karbala foi tomado num episódio descrito como um “açougue”, em que todos os homens e meninos foram chacinados. Para não falar em exemplos mais recentes, como os campos de extermínio nazistas, os expurgos stalinistas, o genocídio de Pol Pot no Camboja, dos tútsis pelos hútus em Ruanda, a matança de homens, mulheres e crianças no Afeganistão pelo Taleban – e por aí vai. É nessa lista de atrocidades sem fim, violência contra inocentes, mortes e torturas gratuitas que entra o Estado Islâmico, também conhecido pelos acrônimos Isis, Isil, Daesh, ou simplesmente pela sigla EI.
Com os atentados terroristas das últimas semanas no Sinai, em Beirute e em Paris, o EI matou umas 400 pessoas. Por que alguém faz uma coisa dessas? O que leva um jovem a se transformar em terrorista? O que passa pela cabeça dos líderes desses exércitos de extermínio? Parece haver um mecanismo na mente dos perpetradores das atrocidades que escapa a nossa compreensão. Não conseguimos explicá-lo, não é verossímil que haja tanto parafuso solto. Pode parecer frustrante, mas todos os casos acima – dos mongóis aos nazistas – comprovam não se tratar de um fenômeno incomum na história humana. Gostaríamos que o EI fosse algo excepcional. Seria mais confortável. Seria mais fácil nos livrarmos dele. Mas não. Infelizmente, não. O EI é apenas o movimento mais recente, entre tantos outros, capaz de aliciar multidões em torno de uma escatologia própria – uma visão apocalíptica que, para tentar dar poder a alguns e certo sentido à vida de outros, barateia a morte de todos os demais.
A escatologia peculiar do EI tem características únicas, importadas da variante singular de islã praticada por seus militantes, o ultraconservador wahabismo saudita, interpretado à luz de uma série de textos teológicos antigos e contemporâneos, que formam o corpo da literatura jihadista.  “Muçulmanos e não muçulmanos ficam igualmente perplexos com como alguém pode cometer atrocidades em nome de Deus”, escreve o diretor do Projeto para Relações dos Estados Unidos com o Mundo Islâmico da Brookings Institution, William McCants, no recém-lançado livro The Isis apocalypse: the history, strategy and doomsday vision of the Islamic State (Apocalipse Isis: a história, a estratégia e a visão do fim do mundo do Estado Islâmico, ainda sem tradução). A verdade, diz McCants, é que os textos islâmicos estão sujeitos a todo tipo de interpretação. “Quer achar passagens justificando paz e concórdia? Estão lá. Quer achar passagens justificando violência? Estão lá também.” (Via Revista Época)

Um comentário:

  1. Esse pessoal do ISIS não sabe nada...eles tem que vir pro morro do alemão aprender com os bolivarianos:
    https://www.facebook.com/natache.soutomedina/videos/10206770302068501/

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