sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Bumlai ajuda fornecedor do PT a faturar R$ 2,4 milhões do Votorantim.

Pecuarista sofreu prejuízo para resgatar amigos do ex-presidente Lula e entregou imóveis pelo preço de custo a um fornecedor da campanha de Dilma.

Preso na semana passada, o empresário José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acabou enredado na Operação Lava Jato como uma espécie de operador do PT. Ele é suspeito de desviar fradulentamente um empréstimo do Banco Schahin de R$ 12 milhões para honrar compromissos do PT e de atuar ilegalmente pela compensação do calote com a Schahin para que o grupo faturasse um contrato de US$ 1,6 bilhão com a Petrobras. Mas essas não foram as únicas operações em que ele impulsionou lucros altos de amigos e fornecedores do PT.



Bumlai foi preso dia 24 por agentes da Polícia Federal 
(Foto: Aílton de Freitas/Agência O Globo) 

No fim de maio de 2006, Bumlai despontou como bombeiro de um velho amigo do ex-presidente Lula. Laerte Demarchi, sócio do restaurante São Judas Tadeu com três irmãos, tinha uma dívida de R$ 3,9 milhões a saldar com o banco Bradesco, de acordo com documentos obtidos por ÉPOCA. Laerte é amigo de Lula desde os comícios do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Uma empresa do filho de Laerte, a Demarchi Soluções em Alimentação, apareceu em um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) como destinatária de R$ 350 mil em pagamentos atípicos da empresa de palestras de Lula, a Lils. Foi Laerte quem sugeriu o lema "Lulinha paz e amor" na campanha de 2002. Os dois amigos de Lula se conheceram no sítio do pecuarista durante a campanha de 2002. 

Em uma operação sem nenhuma vantagem financeira, o pecuarista se dispôs a ajudar os Demarchi. Aceitou receber 11 imóveis da família, avaliados para efeitos fiscais em R$ 3 milhões. Em troca, Bumlai ficou responsável por quitar, em até dois meses, R$ 3,4 milhões da dívida com o Bradesco enquanto a família quitou outros R$ 500 mil. O pecuarista não explicou a ÉPOCA por que aceitou sofrer um prejuízo de R$ 380 mil na operação. 

Para livrar os irmãos Demarchi, amigos de Lula, de uma eventual execução de garantias pelo Bradesco, Bumlai ficou com as propriedades (terrenos e casas). Esperava-se que Bumlai buscasse recuperar o prejuízo ao revendê-las. Mas não foi essa a preocupação do pecuarista, ou, se foi, os lucros foram devidamente omitidos da Receita Federal. 

Entre setembro de 2009 e junho de 2011, Bumlai revendeu os 11 imóveis. Todas as transações foram em espécie e registradas quase pelo mesmo valor adquirido pelo pecuarista. De acordo com os registros cartoriais obtidos por ÉPOCA, Bumlai só ganhou R$ 33 mil de diferença entre o custo e a venda das propriedades.

Embora Bumlai tenha saído com prejuízo de sua aventura imobiliária no ABC, ajudou um velho operador de campanhas do PT a ganhar muito dinheiro. Carlos Roberto Cortegoso comprou sete imóveis de Bumlai. No total, Cortegoso pagou R$ 2.081.436,00 pelas propriedades do amigo do presidente Lula. 

Cortegoso foi garçom do restaurante São Judas Tadeu, é casado com uma prima dos irmãos Demarchi e recebeu pelo menos R$ 400 mil do esquema do mensalão, pagos pelo publicitário Marcos Valério de Souza. A Focal, uma das empresas de Cortegoso, apareceu na lista entregue pelo operador do mensalão à CPI dos Correios. Mas o escândalo não deixou Cortegoso melindrado ou fora do circuito. Em 2014, ele faturou R$ 24 milhões como o segundo maior prestador de serviços da campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff. A mesma Focal foi a destinatária dos recursos, mas, desta vez, estava registrada em nome do motorista Elias Mattos e da filha de Cortegoso, Carla Regina Cortegoso. Só depois da eleição Cortegoso admitiu que ainda era o controlador da Focal. Pela suspeita de lavagem de dinheiro, ele é investigado pela Polícia Federal pela suspeita de lavagem de dinheiro pelas transações na campanha petista. 

Cortegoso e Bumlai dizem que não se conheciam e que foi fruto do acaso que, logo eles, fizessem sucessivas transações imobiliárias, registradas de janeiro de 2010 e junho de 2011. Embora Bumlai tenha saído no prejuízo, pelos valores declarados ao Fisco, Cortegoso não tem do que reclamar. Só com dois lotes ele conseguiu faturar R$ 2,4 milhões, pagos de uma só vez em transferência eletrônica pelo comprador: o banco Votorantim. 

Cortegoso teve lucro de 330% na operação com o Votorantim, onde o Banco do Brasil divide o controle com a família fundadora desde 2009. Os dois imóveis foram adquiridos para pertencer a um fundo imobiliário administrado pela gestora do grupo Votorantim. O fundo promete rendimento de até 9% ao ano com o aluguel de imóveis para instalação de agências do Banco do Brasil. Um acordo comercial fechado com o BB garante o aluguel dos imóveis. Pelo acerto entre Votorantim e BB, cabe à primeira instituição financeira adquirir os imóveis e reformá-los a partir de uma "microrregião" determinada pelo BB. Até hoje, a agência não foi inaugurada. O banco diz que falta apenas o alvará da Prefeitura de São Bernardo do Campo. 

Ninguém explica por que foram escolhidos especificamente imóveis de um operador de campanhas do PT para instalação de agências do BB. Procurado, o Votorantim disse que ""o fundo de investimento imobiliário BB Renda Corporativa, administrado pela Votorantim Asset Management, segue rigorosamente os padrões estabelecidos pelos órgãos reguladores e todos os critérios técnicos, inclusive auditorias regulares, são observados em suas operações". 

O Banco do Brasil afirmou que "escolhe a micro região considerando regras de governança e diversos fatores, dentre eles segurança, negócios, fluxos de clientes. Cabe ao fundo escolher o ponto que melhor atenda às condições estabelecidas".

Bumlai afirmou que não conheceu Cortegoso e que os negócios atenderam a seus interesses. "No momento de vender os imóveis dados em pagamento pelos avalizados, houve a interveniência de corretagem, de modo que o Sr. Bumlai não conheceu o mencionado Carlos Cortegozo, até o momento da outorga de escritura, nem mesmo depois, uma vez que não houve encontro das partes para as assinaturas. Os valores de compra e venda dos referidos imóveis atenderam ao interesse negocial do Sr. Bumlai, não configurando qualquer ilegalidade". Procurado, Cortegoso declarou que "frequentava o restuarante e falaram que o cara queria vender terrenos ali". Preferiu não falar sobre a lógica financeira de seu negócio com Bumlai.
                    *Por DANIEL HAIDAR - Época 

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