-A nos induzir, uma lavagem cerebral sem precedentes banaliza o fato de uma coalizão de grandes potências desmantelar um país cuja população, de nenhuma forma, merece castigo pelos atos fanáticos de seita fundamentalista que, para azar dos afegãos, foi acusada de homiziar quadros da Al Qaeda. Ao observador mais arguto, entretanto, fica fácil vislumbrar o arremedo de uma nova “Santa Aliança” de poderosos que não têm o menor constrangimento de intervir, à manu militari, emoutras nações, invocando dogmas e princípios de direito internacional que só respeitam quando do seu interesse.
-É de se perguntar: qual será o próximo passo destes senhores da guerra quando evacuarem o Afeganistão? Os EUA, vale dizer, não deixam passar a oportunidade caracterizando sempre as FARC como grupo guerrilheiro apoiado pelo narcotráfico e vinculado ao terrorismo internacional. Já a Colômbia permitiu ao “irmão do norte” a ocupação de bases defrontando nossa Amazônia, verdadeiras pontas de lança para uma intervenção na esteira de uma perseguição a narcoguerrilheiros, de fácil apoio por uma comunidade global sequiosa de punir os “destruidores de uma flora e de uma fauna” e de abocanhar o seu quinhão, naquilo que considera como patrimônio da humanidade.
-Infelizmente, os nossos governantes e também a sociedade continuam sendo o mesmo avestruz de cabeça enterrada quanto à necessidade emergencial e urgente que tem o País de rearmar-se para o enfrentamento das ameaças que se descortinam no cenário mundial. Agora, além da nossa grande região norte, passa a ser cobiçado o imenso manancial de petróleo existente nas camadas do pré-sal brasileiro. Qualquer pessoa de tirocínio mediano é capaz de entender que não serão com bodoques e zarabatanas artesanais ou confiando tão somente na diplomacia que vamos manter a posse de tanta riqueza. Nosso destino de potência secundária, admitido e absorvido na década de 90, já caducou. Não seria chegada a hora da denúncia de tratados que, longe de afastar o perigo de uma agressão, apenas nos submetem?
-Ter o que defender pode ser uma vantagem ou uma desvantagem Acontece que, queiramos ou não, temos muitíssimo a defender. Governo e diplomacia devem compreender e aceitar esta realidade: nas relações com as potências militares, para que se consiga expressar no mesmo tom destas, urge estarmos ancorados em poder dissuasório de peso, mas nunca em tratados de limitação de armas que, em última instância, só favorecem ao comércio de mão única com os mercadores da morte lotados naquelas mesmas potências. Afinal de contas, vence na luta quem vende e não quem compra armas. Se nas quatro últimas décadas o País tivesse investido em um projeto sério de defesa não estaríamos agora correndo atrás do prejuízo, engordando outros cofres pelo pagamento de helicópteros, aviões de caça e submarinos.
*Paulo Ricardo da Rocha Paiva - Coronel de Infantaria e Estado-Maior
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