Jogo de cena
A ópera bufa do Mensalão do PT entra em seu segundo ato. Enquanto aguardava a decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a expedição dos mandados de prisão, o ex-ministro e deputado federal cassado José Dirceu de Oliveira e Silva, um dos condenados no processo do Mensalão do PT, preparou nota em que destaca sua indignação. “Ainda que preso, permanecerei lutando para provar minha inocência e anular essa sentença espúria”.“Não importa que me tenham roubado a liberdade: continuarei a defender por todos os meios ao meu alcance as grandes causas da nossa gente, ao lado do povo brasileiro, combatendo por sua emancipação e soberania”, afirmou.Dirceu sabe do seu envolvimento no maior escândalo de corrupção da história nacional e de sua respectiva culpa. Se de fato o ex-comissário não participou do esquema de compra de parlamentares no Congresso, por certo não poderia ter ocupado cargo de tamanha importância como o de chefe da Casa Civil. Somente um inocente convicto é capaz de acreditar que um farsante como Lula seria capaz de arregimentar a maioria do Parlamento apenas pela competência.“Não importa que me tenham roubado a liberdade: continuarei a defender por todos os meios ao meu alcance as grandes causas da nossa gente, ao lado do povo brasileiro, combatendo por sua emancipação e soberania”, escreveu o ex-ministro na nota distribuída à imprensa. O mensaleiro petista afirmou ainda que o julgamento “permanece sob o signo da exceção” e que “a pior das injustiças é aquela cometida pela própria Justiça”.“Fui preso político durante a ditadura militar. Serei preso político de uma democracia sob pressão das elites”, completou Dirceu, tomando emprestado o discurso chicaneiro do ex-presidente e agora lobista Lula.José Dirceu e seus comparsas devem se dar por satisfeitos com a decisão do Supremo, porque a Justiça e o Ministério Público federal preferiram não investigar a fundo todos os anéis orbitais do escândalo do Mensalão do PT, como já noticiou em diversas ocasiões o ucho.info. No guarda-chuva do Mensalão do PT estão os casos do assassinato do então prefeito Celso Daniel, de Santo André, e o que deu origem à Operação Satiagraha, da Polícia Federal. Quem conhece os três casos sabe identificar com facilidade a conexão entre eles.Confira abaixo a íntegra da nota divulgada pelo ex-ministro e mensaleiro condenado José Dirceu“O julgamento da AP 470 caminha para o fim como começou: inovando – e violando – garantias individuais asseguradas pela Constituição e pela Convenção Americana dos Direitos Humanos, da qual o Brasil é signatário.A Suprema Corte do meu país mandou fatiar o cumprimento das penas. O julgamento começou sob o signo da exceção e assim permanece. No início, não desmembraram o processo para a primeira instância, violando o direito ao duplo grau de jurisdição, garantia expressa no artigo 8 do Pacto de San Jose. Ficamos nós, os réus, com um suposto foro privilegiado, direito que eu não tinha, o que fez do caso um julgamento de exceção e político.Como sempre, vou cumprir o que manda a Constituição e a lei, mas não sem protestar e denunciar o caráter injusto da condenação que recebi. A pior das injustiças é aquela cometida pela própria Justiça.É público e consta dos autos que fui condenado sem provas. Sou inocente e fui apenado a 10 anos e 10 meses por corrupção ativa e formação de quadrilha – contra a qual ainda cabe recurso – com base na teoria do domínio do fato, aplicada erroneamente pelo STF.Fui condenado sem ato de oficio ou provas, num julgamento transmitido dia e noite pela TV, sob pressão da grande imprensa, que durante esses oito anos me submeteu a um pré-julgamento e linchamento.Ignoraram-se provas categóricas de que não houve qualquer desvio de dinheiro público. Provas que ratificavam que os pagamentos realizados pela Visanet, via Banco do Brasil, tiveram a devida contrapartida em serviços prestados por agência de publicidade contratada.Chancelou-se a acusação de que votos foram comprados em votações parlamentares sem quaisquer evidências concretas, estabelecendo essa interpretação para atos que guardam relação apenas com o pagamento de despesas ou acordos eleitorais.Durante o julgamento inédito que paralisou a Suprema Corte por mais de um ano, a cobertura da imprensa foi estimulada e estimulou votos e condenações, acobertou violações dos direitos e garantais individuais, do direito de defesa e das prerrogativas dos advogados – violadas mais uma vez na sessão de quarta-feira, quando lhes foi negado o contraditório ao pedido da Procuradoria-Geral da República.Não me condenaram pelos meus atos nos quase 50 anos de vida política dedicada integralmente ao Brasil, à democracia e ao povo brasileiro. Nunca fui sequer investigado em minha vida pública, como deputado, como militante social e dirigente político, como profissional e cidadão, como ministro de Estado do governo Lula. Minha condenação foi e é uma tentativa de julgar nossa luta e nossa história, da esquerda e do PT, nossos governos e nosso projeto político.Esta é a segunda vez em minha vida que pagarei com a prisão por cumprir meu papel no combate por uma sociedade mais justa e fraterna. Fui preso político durante a ditadura militar. Serei preso político de uma democracia sob pressão das elites.Mesmo nas piores circunstâncias, minha geração sempre demonstrou que não se verga e não se quebra. Peço aos amigos e companheiros que mantenham a serenidade e a firmeza. O povo brasileiro segue apoiando as mudanças iniciadas pelo presidente Lula e incrementadas pela presidente Dilma.Ainda que preso, permanecerei lutando para provar minha inocência e anular esta sentença espúria, através da revisão criminal e do apelo às cortes internacionais. Não importa que me tenham roubado a liberdade: continuarei a defender por todos os meios ao meu alcance as grandes causas da nossa gente, ao lado do povo brasileiro, combatendo por sua emancipação e soberania.”
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