Sete meses após ter registrado o pagamento de R$ 36
milhões feito por uma candidata a deputada estadual do PT mineiro a uma gráfica
investigada pela Polícia Federal, a contadora da campanha disse que cometeu um
"erro de cálculo" e que o valor a ser registrado, na realidade, era
de R$ 725.
Filiada ao DEM,
Rosilene Alves Marcelino é dona de uma empresa de contabilidade em Betim, na
região metropolitana de Belo Horizonte, e teve serviço contratado pela petista
Helena Ventura no fim da eleição. A contadora diz só ter descoberto o valor
milionário nesta quarta-feira (10), quando Helena esteve em sua casa
acompanhada da advogada.
"Eu nunca fiz
prestação de contas pra alguém do PT, nem gosto do PT, mas o erro não foi por
isso", afirma Rosilene. "Só sou filiada a um partido para não ser
mesária, porque fui uma vez e não quero nunca mais."
No ano passado, diz
ela, Helena chegou "apavorada" à contabilidade, uma hora antes de
encerrar o prazo para a prestação de contas, e a pressa teria provocado o erro.
Segundo Rosilene, a
doação foi feita para bancar os 50 mil santinhos da campanha da candidata, que
teriam custado R$ 725. O preço unitário seria R$ 0,015, mas, em vez de ser
dividido, o valor foi multiplicado.
A retificação foi
encaminhada à Justiça Eleitoral, que havia notificado Helena a esclarecer as
contas. A contadora também registrou em cartório uma declaração em que diz ter
errado.
A doação de Helena
Ventura foi divulgada após o empresário Benedito de Oliveira Neto, o Bené, ter
sido preso pela Operação Acrônimo da Polícia Federal.
Duas empresas
controladas pelo empresário, que tem relações com o PT, receberam R$ 525
milhões de órgãos do governo federal entre 2005 e 2015. A PF investiga
suspeitas de lavagem de dinheiro e associação criminosa.
Ele foi preso na
Operação Acrônimo da Polícia Federal no dia 29, com mais três pessoas, e solto após pagamento de R$ 188 mil em
fiança.
A então candidata
disse ter pago o valor à Gráfica e Editora Brasil Ltda., empresa de Bené, por
"publicidade por material impresso".
INDEFERIDA
Helena tem 61 anos, é
enfermeira, e declarou ter um patrimônio de R$ 290 mil. Ela disse à Justiça
Eleitoral que seu gasto máximo para se eleger seria de R$ 3 milhões. Os votos
da petista não foram contabilizados porque sua candidatura foi indeferida.
A candidata diz que
não sabia que na prestação de contas de sua campanha havia uma declaração de
pagamento de R$ 36 milhões à gráfica do empresário Benedito Oliveira e que
"nunca ouviu falar" de Bené.
A quantia corresponde
a praticamente todos os gastos em campanha feitos pela candidata, que diz ter
pago apenas cerca de R$ 5.000 para outros serviços de campanha.
De acordo com o TRE
(Tribunal Regional Eleitoral) de Minas Gerais, Helena teve a candidatura
indeferida pela primeira vez no dia 31 de julho do ano passado e recorreu ao
órgão superior. Durante o período, ela podia tocar a campanha normalmente,
recebendo doações e fazendo pagamentos, até a decisão final do órgão superior
-que veio apenas em 4 de março deste ano.
O PT mineiro disse
que transferiu a ela, nesse período, cerca de R$ 16 mil por meio do comitê
financeiro único.
*JOSÉ MARQUES, DE BELO HORIZONTE - FOLHA DE SÃO PAULO
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