O
primeiro Estado policial bolchevique se entregou às orgias de estuprar,
torturar e matar.
Em
agosto de 1918, uma mulher atirou e quase matou o então líder soviético,
Vladimir Lênin, enquanto ele visitava uma fábrica em Moscou. O assassino era
Fanya Kaplan, uma socialista descontente cujo partido político havia sido
banido no início desse ano pelos comunistas bolchevistas de Lênin.
Antes de sua
execução, vários dias depois do ataque a Lênin, Kaplan disse que agia sozinha,
porém haviam muitos que compartilhavam suas queixas. Um ano antes, os
bolcheviques rapidamente estabeleceram a ditadura do proletariado com a
Revolução de outubro de 1917. Eles cederam vastos territórios à Alemanha em
troca da paz e dissolveram o primeiro experimento democrático que sucedeu a
queda do Império russo e a abdicação do imperador Nicolau II.
Muitos
comunistas e revolucionários de esquerda que fizeram parte das revoltas do
início de 1917 que culminaram na queda do czar russo e, que ajudaram na
ascensão de Lênin ao poder, estavam descontentes com o comportamento do líder
bolchevique.
Com o
estabelecimento da ditadura marxista, os revolucionários não-bolchevistas
haviam perdido sua utilidade. Após várias revoltas por uma série
de grupos socialistas, e pouco antes de ser baleado por Kaplan, Lênin
havia declarado que um “terror em massa” era necessário para limpar o
movimento.
E o terror
chegaria, não apenas sob o domínio de Lênin, mas décadas depois de sua morte na
União Soviética, Europa Oriental, China, Coréia do Norte, Vietnã, Camboja, Cuba
e a todos os países onde se estabeleceu o controle por um partido comunista.
Construindo
o Estado policial soviético
Antes dos
comunistas, os governos russos já possuíam suas próprias polícias secretas,
como a temida Oprichnina do czar Ivan “o Terrível” (1530-1584), que suspeitava
da aristocracia de conspirar para derrubá-lo.
E, nos dias de
Lênin, salvaguardar a revolução soviética e cimentar sua ideologia violenta,
caminharam de mãos dadas com o terror de Estado. Poucas semanas após a
Revolução de outubro de 1917, o Partido bolchevique estabeleceu o Comitê de
Emergência, mais conhecido como Cheka – a polícia secreta bolchevique.
O líder desse
comitê era um ex-nobre polonês, Felix Dzerzhinsky, um homem magro e fanático
que se converteu ao socialismo e depois ao comunismo em sua juventude. Com
apenas algumas centenas de membros em 1917, o Cheka se expandiu rapidamente
quando os bolcheviques intensificaram a guerra contra o Exército Branco —
também conhecido como a Guarda Branca ou os Brancos, uma confederação dispersa
de forças anticomunistas -, e encontraram crescente e violenta dissidência
entre as fileiras comunistas. Dentro de dois anos, a polícia secreta
bolchevique tinha cerca de 200 mil funcionários.
Quando Felix
criou o Cheka, ele próprio era um bolchevique novo, pois acabará de desertar de
outra facção vermelha, entretanto sua criação se tornaria uma arma permanente e
infalível do regime soviético até seu colapso em O Terror Vermelho
A tentativa de
assassinato a Lênin em agosto de 1918 foi um catalisador para as centenas de
milhares de execuções que o Cheka realizou até o início da década de 1920.
“Defendemos o
terror organizado – isso deve ser francamente admitido”, disse Felix, em julho
de 1918. “O terror é uma necessidade absoluta em tempos de revolução. … Nós
julgamos rapidamente. Na maioria dos casos, apenas um dia se passa entre a
apreensão do criminoso e sua sentença”.
Vestidos em
uniformes com casacos de couro, os agentes do Cheka seguiam os exércitos
bolcheviques, agrupando os suspeitos que haviam sido capturados, incluindo os
proprietários de terras, a nobreza, os empresários e até aqueles que
simplesmente se encontravam vagando após o toque de recolher. Esta rotina era
seguida por execuções em massa.
Já em 1924, o
historiador russo, Sergei Melgunov – que escapou dos bolcheviques -, revelou em
seu livro “Terror Vermelho na Rússia” (Red Terror in Russia) a matança
sistemática, fornecendo documentos e fotografias. A própria Cheka divulgou
relatórios anunciando orgulhosamente números parciais dos mortos. Em muitas regiões,
todo crime – real ou falso – carregava uma sentença de morte.
Sobre os
assassinatos, Melgunov diz: “o número de nomes publicados foi uma pequena
fração da realidade. Além disso, quando os bolcheviques estavam prestes a
levantar vôo em seu avião desgovernado [a revolução], eles disseram aos
trabalhadores que, se eles (os trabalhadores) não se juntassem a eles, eles (os
bolcheviques), ao retornar, enforcariam todos os trabalhadores que ficaram para
trás em um poste de telégrafo”.
As ações da
Cheka seguiam a filosofia comunista da luta de classes, o abandono da moral e
da dignidade humana. Qualquer coisa que se opunha a essas ideias era
contra-revolucionária. As vítimas ou os membros da família das vítimas foram
muitas vezes obrigados a se despir antes de serem baleados. Outros prisioneiros
foram forçados a subir em barcaças e levados para o mar, se afogando após os
bolcheviques afundarem o navio.
Melgunov
observa: “Em Kiev, era prática fazer os condenados prostarem-se sobre o sangue
coagulado no chão antes de serem atingidos na parte de trás da cabeça ou
cérebro”.
Além da execução
sumária, os membros do Cheka também apreciavam tortura e estupros. Um artigo do
período diz: “Torturas nesses distritos [Ekaterinodar e Kuban] são físicas e
mentais. Ekaterinodar tem um método particular de sua aplicação, como segue. A
vítima é colocada de costas no chão de sua cela, enquanto dois membros
corpulentos do Cheka puxam sua cabeça e outros dois seus ombros, até que os
músculos de seu pescoço estejam absolutamente esticados e tensionados. Então um
quinto homem começa a bater no pescoço da vítima com um instrumento cego –
geralmente o cano de um revólver – até que, com o pescoço inchado, o sangue
comece a jorra da boca e das narinas, sofrendo uma espantosa agonia.”
As mulheres
prisioneiras atraentes aos olhos dos policiais secretos eram estupradas antes
de serem mortas, as mulheres dos homens condenados tentavam resgatá-los através
da servidão sexual. Normalmente, os prisioneiros eram mortos de qualquer
maneira.
Em algumas áreas
do sul da Rússia, oficiais locais do Cheka mantinham orgias com as presas,
usando eufemismos como “comunização das mulheres” ou “dias de amor livre“.
Melgunov lembra:
“Uma testemunha que já citei em conexão com eventos na Criméia disse ao
Tribunal de Lausanne que cada um dos marinheiros ativos naquela região possuía
quatro ou cinco amantes e que, na maioria dos casos, essas pobre mulheres eram
esposas de oficiais massacrados ou fugidos, uma vez que a rejeição das
propostas dos marinheiros significava execução, e apenas algumas senhoras de
mentalidade mais forte conseguiam reunir coragem para resolver o problema pelo
suicídio”.
Um “padrão comunista de pensar e reagir”
Ao longo do
tempo, a intensidade e a crueldade dos assassinatos no Terror Vermelho afetaram
os carrascos do Cheka.
Melgunov
escreve: “Sobre tudo, é incontestável dizer que por um tempo os hospitais
psiquiátricos da Rússia registraram um grande número de casos de uma doença que
se tornou conhecida como “demência do executor”, devido à sua tendência de
levar os pacientes a um remorso intenso pelas vítimas (reais ou imaginárias) do
derramamento de sangue, causando alucinações angustiantes”.
Mas para o
regime comunista, matar tornou-se uma ferramenta valiosa para manter a
população na linha. Depois que Lênin morreu em 1924, o Cheka foi renomeado
várias vezes, mas servindo a mesma função. Joseph Stalin, que substituiu Lênin
e continuou a ditadura comunista, saudou Felix como “um cavaleiro devoto do
proletariado” com a morte deste último em 1926.
A repressão
política na União Soviética alcançaria seu auge sob Stalin e a série de purgas
conhecida como o “Grande Terror”. Centenas de milhares de vítimas seriam os
compatriotas poloneses de Felix.
Em 1919, Lênin
teria feito uma visita secreta a Ivan Pavlov, um psicólogo famoso por seus
experimentos com treinamento de estímulos condicionados em cães.
Segundo o historiador britânico Orlando Figes, o líder soviético disse: “Quero
que as massas da Rússia sigam um padrão comunista de pensar e reagir”.
“Quer dizer que
você gostaria de padronizar a população da Rússia? Fazendo com que todos se
comportem do mesmo jeito?”, perguntou Pavlov surpreso.
“Exatamente”,
disse Lenin. “O homem pode ser corrigido. O homem pode se tornar o que queremos
que ele seja”.
Estima-se que o comunismo tenha matado mais de
100 milhões de pessoas, mas seus crimes não foram totalmente compilados e sua
ideologia ainda persiste.
1991.
*Graça dgferraz [resistencia-democratica] <resistencia-democratica@yahoogrupos.com.br> |
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