*Por David Coimbra
Eu, muitos me odeiam. Sou homem branco de classe
média, o pior tipo de cidadão, segundo uns tantos. Há até um vídeo famoso da
pensadora (boa profissão, essa) Marilena Chaui, ela com o microfone na mão,
diante de uma plateia embevecida, bradando de punhos cerrados e dentes
rilhados:
– Eu odeio a
classe média! Eu odeio a classe média!
Outros
pensadores vivem a se manifestar contra pessoas como eu, homens brancos de
classe média. Dizem eles que fazemos parte da “Elite Branca”. Então eu,
que sempre trabalhei, que trabalho e muito, o dia todo, todos os dias, que ganho
salário, que sou filho de professora e neto de sapateiro, que sempre estudei em
colégio público e nunca ocupei cargo público, eu sou da Elite Branca.
Certo.
Não me
incomodaria ser da Elite Branca, francamente, pode até parecer boa coisa.
O problema é que os tais pensadores deixam claro que essa é uma classificação
pejorativa. Eles, por conta deles, dividiram o país em dois: Elite Branca
versus Negros e Pobres. Como sustentação, digamos, “filosófica”, eles deram de
mão em algumas bandeiras, causas sobre as quais não há ponderação, que exigem
apoio incondicional. Com o discurso de que defendem essas bandeiras, passaram a
rotular os brasileiros, mesmo que seja mesmo só discurso, sem prática. Num
tempo de campanha eleitoral, como esse, a divisão se acentua. Eles tentam
convencer o país que o que está em jogo não são o poder, os empregos públicos e
dinheiro, dinheiro, dinheiro, e sim que se está travando a luta do Bem contra o
Mal. Então, você tem de estar de um lado ou de outro. Assim, em duas colunas:
ELITE BRANCA x NEGROS E POBRES
Racistas x Negros discriminados
Homofóbicos x Homossexuais
Misóginos x Feministas
Colonos x Índios
Agronegócio x Sem Terra
Motoristas agressivos x Ciclistas pacíficos
Comedores de carne x Vegetarianos
Especistas x Defensores dos animais
Empresários x Trabalhadores
Estados Unidos x Cuba
Poluidores x Ecologistas
Malvados x Bonzinhos.
Sempre que há
qualquer questão envolvendo esses grupos, você está proibido de pensar a
respeito, de tentar entender as motivações dos dois lados. Proibido. Você
tem que entrar num time e permanecer nele até o fim. Se você estiver de um
lado, você é Elite Branca; se você estiver de outro, é Negro e Pobre. Ou
simpatizante, digamos assim.
Essa ruptura
tem objetivo, evidentemente: a ideia é justificar os atos, quaisquer que sejam,
de grupos que, por ora, estão no poder. Não começou hoje, nem anteontem. Vem de
longe, como diria o Brizola. Cacá Diegues já a identificou lá no fim dos anos
70, quando criou o genial termo “patrulha ideológica”.
O que
aconteceu, agora, é que essa visão binária do mundo se acirrou, porque o poder
está em jogo e, com o poder, cargos, reputações, facilidades, dinheiro,
benesses. Acirrou-se tanto, essa visão, que contaminou toda a sociedade. E aí,
em triunfo e glória, ingresso no terreno do futebol. Porque o Grêmio está sendo
vítima dessa “filosofia”. O Caso Aranha jogou o Grêmio no lado da Elite Branca
e, agora, se não há intenção clara de prejudicar o time, há, ao menos,
antipatia. Os paladinos dos oprimidos punirão o Grêmio por muito tempo ainda. E
não há nada a fazer. No Brasil, a Elite Branca sofre.
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