Donald Trump é um equívoco da direita americana
Mentir é o primeiro atributo de um político. Qualquer político. As suas mentiras podem ser mais ou menos escandalosas, mais ou menos desculpáveis, mas lhe são incontornáveis. Mesmo os bem intencionados mentem. Por exemplo, quando dizem que fazem política para servir aos cidadãos em primeiro lugar. Na verdade, todos querem, acima de tudo,
servir a si próprios, nem que seja apenas para alimentar a própria vaidade.
Isso significa que devemos nos resignar e aceitar as mentiras que nos são ditas? Claro que não. É justamente o contrário: pelo fato de todos os políticos mentirem, sempre devemos desconfiar deles. Os mais desconfiados devem ser os jornalistas. Eu, por exemplo, sei que até os políticos que me dão informações estão deixando de me dizer toda a verdade sobre o assunto em questão. Omissão, nesse caso, é uma forma de mentir. Se omitem o secundário, mas revelam o principal, faço cara de paisagem e sigo adiante. O problema é quando passam por principal aquilo que é acessório. Esse é um problema que os repórteres enfrentam todos os dias. Não raro, ainda que tomadas as precauções devidas, só percebemos que publicamos o secundário como notícia principal depois que outro jornalista mais esperto, ou com outra fonte (ou ambas as coisas), estampa o nosso erro na sua reportagem.
Decidi abordar a mentira dos políticos para falar de Donald Trump e concluir com o caso brasileiro. Donald Trump se vende como antipolítico aos eleitores americanos -- ou seja, como alguém que veio instaurar a verdade, toda a verdade, nada além do que a verdade na política. Que veio “purificá-la”. No entanto, o seu primeiro atributo é o mesmo de todos aqueles que afirma combater. Donald Trump mente para burro, com o perdão do trocadilho voluntário.
O Washington Post fez um fact-checking do discurso de aceitação de Donald Trump como candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos. O jornal comprovou com dados objetivos que ele mentiu em 25 pontos do seu discurso. Vinte e cinco, se você prefere por extenso. Mentiu sobre segurança. Mentiu sobre imigração. Mentiu sobre economia. Mentiu, mentiu e mentiu. E vai continuar mentindo na hipótese improvável de derrotar a mentirosa Hillary Clinton.
Donald Trump é a prova mais vistosa de que uma das grandes mentiras da política é o fanfarrão que se apresenta como antipolítico. É assim, pelo menos, desde Savonarola, na Florença do século XV. Seja ele de direita ou de esquerda, o seu messianismo é sempre uma fajutagem. Com Lula, os brasileiros caíram pela esquerda na esparrela do antipolítico. Lula piorou os vícios brasilienses que prometia banir.
Desconfiar dos políticos é, mais do que saudável, necessário. Mas evitar os que se dizem antipolíticos é essencial. Fuja deles.
* Texto de Mario Sabino
Professor. Muito bom este artigo, é, na verdade, bastante esclarecedor. Temos um político que está com o discurso parecido, ele se proclama como um anti-candidato. Este está ganhando cada vez mais atenção por seu discurso visceral, chocando os falsos puritanos. Falo de Jair Bolsonaro. Depois deste texto comecei a pensar se realmente é uma opção viável para nós, ainda penso que ainda é a melhor. Poderia, se possível, me dar um esclarecimento? Um grande abraço.
ResponderExcluirDiscordo totalmente.
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