quarta-feira, 22 de maio de 2013

A Rússia está armando a Síria e a Síria arma o Hezbollah contra Israel.

 
Ao insistir em armar Bashar al-Assad, e com a defesa aérea cada vez mais sofisticada, Moscou corre o risco hipócrita de esquentar a fronteira norte ao ponto de ebulição.
 
Por DAVID HOROVITZO chanceler russo Sergey Lavrov com o Primeiro Ministro Benjamin Netanyahu em Jerusalém há dois anos (Foto crédito: Avi Ohayon/GPO/Flash90)
            Sergey Lavrov disse que não entende o porquê de toda a encrenca. Em entrevistas nos últimos dias, o ministro das Relações Exteriores da Rússia afirmou a obrigação de Moscou – não importa se tem ou não direito a isso – de honrar um contrato para fornecer ao regime do presidente Bashar al-Assad, da Síria, avançadas baterias de defesa aérea S-300, e do que há demais atual em sistemas que podem interceptar caças e mísseis de cruzeiro. O arrazoado de quatro partes de Lavrov continua:
            1) A credibilidade da venda de armas da Rússia estaria destroçada se o país não honrasse o negócio fechado com Damasco;
            2) A Rússia nunca fez o menor segredo de seus vários contratos de fornecimento bélico a al-Assad;
            3) Tais sistemas de defesa antimísseis não são armas de ataque; e
            4) As vendas não representam uma quebra da lei internacional ou das regulamentações ostensivas de internas de contenção rigorosa da própria Rússia.
            Para dizermos de uma forma polida, Lavrov está sendo hipócrita. Seu raciocínio legalista e limitado desmorona diante de uma realidade terrível em que o seu cliente, Bashar al-Assad, passou os últimos dois anos agarrado ao poder massacrando seu próprio povo (e as forças "rebeldes" muitas vezes, extremamente insossas ​​que se juntaram a luta para derrubar o regime). A venda de armas da Rússia para al-Assad está permitindo que o derramamento de sangue chegue a proporções genocidas na Síria. E ao capacitar o arsenal do regime alawita com um dos sistemas de defesa aérea dos mais sofisticados do mundo, a Rússia fará com que o ‘açougueiro de Damasco’, que tem notavelmente conseguido suplantar até mesmo a capacidade de matar seu cruel pai, se torne mais inexpugnável.
                                                                                                        Um míssil russo S-300 antiaéreo antimíssil em exposição em algum lugar não revelado da Rússia (foto-crédito: AP)
            O sábio e experiente antigo chefe da inteligência militar (IDF), Amos Yadlin, comentou no fim da semana que, por insistência otimista de Lavrov, que acha que a venda do sistema S-300 será completada, pois, não está convencido de que Moscou vai realmente entregar as baterias de mísseis. Em vez disso, na avaliação de Yadlin, o S-300 é apenas uma peça no complexo discrepante que a Rússia está encenando com Washington sobre a Síria. Por manter com insistência seu apoio militar a al-Assad, disse Yadlin, os russos estão dizendo aos americanos, "nós perdemos o Egito, você levaram o Iraque  tomaram a Líbia. Mas a Síria não será de vocês".
            E os norteamericanos, por sua vez, estão censurando publicamente os russos por essa postura. Na sexta feira, o diretor do escalão conjunto dos EUA, o general Martin Dempsey, criticou duramente Moscou por ter fortalecido al-Assad via S-300 e outras vendas de armas. "É, no mínimo, uma decisão infeliz que vai animar o regime e prolongar o sofrimento e, por isso, é inoportuno e muito infeliz", segundo Dempsey disse a jornalistas no Pentágono.
            O que temos assistido na Síria, portanto, é um miniconfronto entre a única superpotência do mundo e a nação que alguns políticos querem revivê-la como a antiga superpotência inimiga. O azar de Israel é o de ser pego no meio delas.
            Autoridades israelenses no anonimato emitiram declarações que são contraditórias nos últimos dias – ‘queremos que al-Assad permaneça’, ou ‘quanto mais cedo ele cai melhor’, ou ainda todos os tipos de variantes entre estas. O fato é que Israel sente a mesma indignação moral que qualquer um sente ao ver al-Assad sendo autorizado a fazer toda a matança contra seu próprio povo por tanto tempo. E Israel sabe que não há qualquer possibilidade de que quem quer que o suceda possa ser mais brutal, menos pragmático, e mais perigoso para Israel.
            Não é surpresa, portanto, que Israel tenha feito o seu melhor para ficar fora da guerra civil da Síria, e que gostaria dessa forma. O problema é que a rota pela qual o Irã fornece armas ao Hezbollah, a sua milícia procuradora anti-Israel, acontece justamente via Síria. E, com a ostensiva cumplicidade de al-Assad, o Irã tem tornado o Hezbollah na organização terrorista melhor armada do mundo, com mísseis que podem atingir e causar danos imensos, a simplesmente qualquer alvo em qualquer lugar em Israel.
            Duas vezes, neste mês, e em ocasiões anteriores também, Israel tem interceptado armamentos iranianos ainda mais avançados em sua viagem através da Síria em direção ao sul do Líbano. Tais missões de interceptação na Síria têm sido levadas a cabo com alta precisão e baixíssimo dano colateral. Nenhuma defesa antiaérea é impenetrável, mas o emprego do sistema S-300 russo faria com que tais missões de interceptação se tornassem muito mais complexas. Com a Síria de Assad protegida sob o guarda-chuva s-300, o Irã seria encorajado a fazer suas transferências de armas para o Hezbollah, um grupo terrorista semissoberano declaradamente comprometido com a destruição de Israel. Israel se sentiria obrigado a encontrar outros meios para evitar a melhora da capacidade militar já formidável do Hezbollah.
            E as tensões ao longo das fronteiras já instáveis entre Israel e Síria, e entre Israel e Líbano, se agravariam de forma explosiva podendo forçar os judeus a anexar todo o sul do Líbano e empurrar para o norte toda a resistência que ainda sobrar desse grupo sustentado pelo Irã, com ou sem a aprovação da ONU, mas com o indispensável apoio da OTAN.
O Presidente russo Vladimir Putin, à direita, ouve o Primeiro Ministro israelense Benjamin Netanyahu durante seu encontro em Bocharov Ruchei, residência do presidente russo no Mar Negro na cidade de Sochi, na terça feira, 14 de maio último (foto-crédito: AP/ Maxim Shipenkov)
 
            É por isso que o Primeiro Ministro Benjamin Netanyahu alegadamente disse ao Presidente da Rússia Vladimir Putin, quando se encontraram para conversações de emergência sobre a Síria na semana passada, que a entrega das baterias S-300 baterias a al-Assad "poderá fazer com que Israel, como resposta, se envolva em nova guerra na região como única alternativa de defesa contra a agressão indireta e contínua do Irã via Síria”.  “É preocupante” – teria respondido Putin a Netanyahu – “porque qualquer ataque aéreo israelense à Síria poderá ter o mesmo resultado contra Israel”. Como Sergey Lavrov sabe muito bem, este é o tamanho de toda a encrenca que a Rússia pode criar no Oriente Médio.

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