As ambições de Putin vão muito além da Ucrânia.
Na medida em que o regime de
Putin invade a Ucrânia, tornou-se evidente que uma nova força para o mal
emergiu em Moscou. É essencial que os americanos se tornem conscientes da
natureza da ameaça.
Bandeira do partido nacional-bolchevique e a estátua de Lênin.
Putin é descrito às vezes com um revanchista, procurando recriar a União
Soviética. Isto é uma simplificação útil, mas não é realmente exata. Putin e
muitos da sua gangue podem ter sido comunistas em algum momento, mas eles não o
são mais, hoje em dia. Em vez disso, eles adotaram uma nova ideologia política
totalitária conhecida como Eurasianismo .
As raízes da eurasianismo remontam à interação de emigrantes
czaristas com pensadores fascistas nas entre-guerras França e Alemanha. Porém,
nos últimos anos, o seu expoente principal tem sido o muito notório e produtivo
teórico político Aleksandr Dugin.
Nascido em 1962, Dugin ingressou no Instituto de Aviação de Moscou em
1979, mas foi expulso devido o seu envolvimento com grupos neonazistas
místicos. Ele então passou os anos oitenta orbitando ao redor de círculos
monarquista e da ala ultra-direita, antes de se unir, por um tempo, ao Partido
Comunista da Federação Russa, de Gennady Ziuganov (PCFR, um grupo
neo-stalinista parcialmente descendente do anterior partido no poder Partido
Comunista da União Soviética ou PCUS , mas que não deve ser confundido com
ele), após o que Dugin se tornou, em 1994, o fundador e ideólogo eurasianista
principal do eurasianista Partido Nacional Bolchevique (PNB).
Cabe recordar que o nazismo era uma abreviação para
nacional-socialismo. Portanto, o nacional-bolchevismo se apresenta como uma
ideologia que se refere em muito ao nacional-socialismo, da mesma forma que o
bolchevismo se realciona ao socialismo. Esta auto-identificação aberta com o
nazismo também é mostrada manifestamente na bandeira do Partido Nacional
Bolchevique (PNB), que se parece exatamente com uma bandeira nazista, com um
fundo vermelho circundando um círculo branco, exceto que a suástica negra no
centro é substituída por um martelo e foice pretos.
Dugin se candidatou à Duma na chapa do PNB, em 1995, mas conseguiu
somente 1 por cento dos votos. Então, mudando os métodos, ele abandonou o
esforço para construir seu próprio partido dissidente e, como alternativa,
adotou a estratégia mais produtiva de se tornar o homem de idéias para todos os
partidos maiores, incluindo o Rússia Unida de Putin, o CPRF de Ziuganov e
ultranacionalista Partido Liberal Democrata da Rússia de Vladimir Jirinovski.
Nessa função, ele foi brilhantemente bem sucedido.
A idéia central de eurasianismo de Dugin é que o liberalismo (segundo
ele, a totalidade do consenso Ocidental) representa um ataque à organização
hierárquica tradicional do mundo. Repetindo as idéias dos teóricos nazistas
Karl Haushofer, Rudolf Hess, Carl Schmitt e Arthur Moeller van der Bruck, Dugin
diz que essa ameaça liberal não é nova, mas é a ideologia do poder marítimo
cosmopolita Atlântico , que tem conspirado para subverter sociedades terrestres
mais conservadoras desde os tempos antigos. Consequentemente, ele escreveu
livros nos quais reconstruiu toda a história do mundo como uma batalha contínua
entre essas duas facções de Roma contra Cartago à Rússia contra a Ordem Atlântica
anglo-saxônica, nos dias de hoje. Se for para Rússia vencer essa luta contra os
portadores oceânicos subversivos de tais idéias racistas (porque imposta do
exterior), como os direitos humanos, ela deve, por qualquer meio, unir em torno
de si todos os poderes continentais incluindo Alemanha, Europa Central e
Oriental, as ex-Repúblicas Soviéticas, Turquia, Irã e Coréia do Sul , em uma
grande União Eurasiana forte o suficiente para derrotar o Ocidente.
De modo a estar bem unida, esta União Eurasiana precisará de uma
ideologia definida. E para este fim, Dugin desenvolveu uma nova Quarta Teoria
Política , combinando todos os pontos mais fortes do comunismo, do nazismo, do
ecologismo e do tradicionalismo, permitindo-lhe, assim, apelar aos adeptos de
todos esses diversos credos antiliberais. Ele adotaria a oposição do comunismo
em face da livre iniciativa. No entanto, ele desistiria do compromisso marxista
com o progresso tecnológico (uma idéia derivada do liberalismo), em favor do
apelo demagógico do ecologismo para deter o avanço da indústria e da
modernidade. Do Tradicionalismo, ele extrai uma justificativa para interromper
o pensamento livre. Todo o resto é saído do nazismo, que vai desde teorias
legais que justificam o poder estatal ilimitado e a eliminação dos direitos
individuais, à necessidade de populações enraizadas no solo e a estranhas
idéias gnósticas sobre a origem secreta da raça ariana na Pólo Norte.
A devoção aberta ao nazismo, no pensamento de Dugin, é notável. Em seus
escritos, ele celebra como uma organização ideal a Waffen SS, assassinos de
milhões de russos durante a guerra. Ele também aprova os mais radicais crimes
do comunismo, indo tão longe como endossar os terríveis expurgos de 1937, que
mataram (entre inúmeros outros cidadãos soviéticos talentosos e leais) quase
toda a liderança do Exército Vermelho algo que, mais tarde, o próprio Stalin
reconsiderou.
O que a Rússia precisa, diz Dugin, é de um fascismo fascista genuíno,
verdadeiro, radicalmente revolucionário e consistente . Por outro lado, O
liberalismo é um mal absoluto... Apenas uma cruzada global contra os EUA, o
Ocidente, a globalização e suas expressões político-ideológicas (ou seja, o
liberalismo), é capaz de apresentar uma resposta adequada... O império
norte-americano deve ser destruído .
Esta é a ideologia por trás do projeto União Eurasiana do governo Putin.
Foi para este plano macabro, que ameaça não apenas as expectativas de liberdade
na Ucrânia e na Rússia, mas também a paz no mundo, que o ex-presidente
ucraniano Victor Yanukovych tentou vender o seu país. Foi contra esse plano que
os corajosos manifestantes do Maidan se levantaram com um escandalosamente
pequeno apoio do Ocidente e de alguma forma miraculosa prevaleceram. Mas agora
as coisas complicaram. Os ucranianos estão sendo confrontados não com a polícia
de choque, mas com divisões russas, subversão e guerra econômica. O país
precisa ser estabilizado e defendido. Os ucranianos merecem o nosso total apoio
e não apenas por razões de simpatia para com os que resistem à tirania ou pelo
respeito aos corajosos. É do interesse vital da América que a liberdade triunfe
na Ucrânia.
Sem a Ucrânia, o projeto fascista da União Eurasiana de Dugin é
impossível, e mais cedo ou mais tarde a própria Rússia terá de se juntar ao
Ocidente e tornar-se livre, deixando sozinhas algumas desprezadas e condenadas
ilhas de tirania ao redor do globo. Mas com a Ucrânia sob seus pés, o projeto
dos eurasianistas pode e irá adiante, e uma nova Cortina de Ferro surgirá,
aprisionando uma grande parcela da humanidade nas garras de um poder
totalitário monstruoso que se tornará o arsenal do mal ao redor do mundo nas
décadas vindouras. Isso significa uma nova Guerra Fria, trilhões de
dólares gastos em armas, crescimento acelerado do Estado em nome da segurança nacional,
conflitos repetidos custando milhões de vidas no exterior, e a própria
civilização colocada em risco se um único passo em falso no insano e sem-fim
jogo das grandes potências precipitar na confrontação travada e carregada da
troca termonuclear.
O século XX viu três confrontos entre grandes potências. Dois deles
descambaram na guerra total. Tivemos sorte no terceiro. Nós realmente queremos
jogar estes dados mais uma vez? Seremos obrigados, a menos que o programa
eurasianista seja detido.
As apostas na Ucrânia não poderiam ser maiores.
Publicado no site da National Review Online -http://www.nationalreview.com/article/372353/eurasianist-threat-robert-zubrin
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