Imagem: http://www.bahianoticias.com.br/samuel-celestino
Num encontro
recente com importantes analistas econômicos e políticos de toda a América
latina, fiquei surpreso com a audaciosa predição do economista brasileiro Paulo
Rabello de Castro de que a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, não ganhará as
eleições de outubro próximo.
Quando o ouvi
dizer isso, sorri e lhe disse que se Rousseff perder a reeleição ele vai se
tornar no previsor político mais famoso do Brasil, porque virtualmente todas as
pesquisas coincidem em que Rousseff será reeleita, provavelmente num segundo
turno programado para 26 de outubro.
Mas quando li
uma enquete intitulada “O descontentamento no Brasil antes da Copa do Mundo”,
publicada na semana passada pelo respeitável “Pew Research Center”, me
perguntei se não teria que levar mais a sério o vaticínio de Rabello de Castro.
A enquete
conclui que “o clima nacional no Brasil é sombrio”, após um ano em que mais de
um milhão de pessoas têm saído às ruas em todo o país para protestar contra a
corrupção, a inflação e o enorme gasto do governo em obras públicas para o
Mundial, muitas das quais superfaturadas e ainda não concluídas.
Muitos dos
manifestantes dizem que o Brasil deveria ter gasto mais em educação de
qualidade, em saúde e transporte público, e menos em futebol. Entre os
resultados da enquete, se contam:
• 72% dos
brasileiros estão insatisfeitos com o rumo das coisas em seu país, comparado
com os 55% pouco antes de se iniciarem as manifestações contra a Copa do Mundo,
em junho de 2013, e com os 49% em 2010.
• 67% dos
brasileiros dizem que a economia não vai bem, comparados com os 41% do ano
passado, e os 36% em 2010.
• 61% dos
brasileiros dizem que ser anfitriões da Copa do Mundo é algo ruim, porque o
evento tira dinheiro das escolas, dos serviços de saúde e de outros serviços
públicos essenciais, que já são muito ruins no país, em função da alta carga
tributária imposta ao povo. Só 34% pensam que a Copa do Mundo contribuirá para
melhorar a economia.
• 52% dos
brasileiros dizem que Rousseff está exercendo uma má influência sobre os
assuntos do país, ao passo que 48% acha que sua influência é boa ou regular.
A única boa
notícia que a enquete traz para Dilma Rousseff é que, apesar de tudo, 51% dos
brasileiros disseram que têm uma opinião favorável sobre a presidente, ao passo
que apenas 27% disseram o mesmo do candidato do Partido da Social Democracia
Brasileira (PSDB), Aécio Neves, e 24% opinou de modo similar sobre o candidato
do Partido Socialista Brasileiro (PSB), Eduardo Campos.
Após ler a
enquete, chamei o Rabello de Castro, o economista que predisse a derrota de
Rousseff, e lhe perguntei se manterá seu prognóstico caso o Brasil ganhe o
Mundial. Respondeu-me que sim. “Caso o Brasil ganhe a competição, isso não será
útil para Dilma. Não vai influir sobre o voto”, me disse ele. “A maioria dos
brasileiros está mostrando um grande amadurecimento e não vai mudar de opinião
política pelo fato de sua seleção marcar os gols para vencer o Mundial”. E
acrescentou, “caso o Brasil no ganhe, por outro lado, o fato se somará ao mau
humor reinante e fortalecerá a ideia de que o país tem gasto bilhões de dólares
em pão e cinco, para nada. Os eleitores estarão ainda mais furiosos”.
O Brasil é o
único país, ha história da competição, que eximiu a FIFA, a federação
internacional organizadora do mundial, de pagar impostos por seus lucros com a
competição, que se calcula girar em torno de uns 20 bilhões de dólares, e o não
pagamento de tributos significará que algo em torno de 2,5 bilhões de dólares
adicionais será levado para Zurique, quando deveriam entrar nos cofres públicos
do país. Isso tornará a Copa do Mundo, um evento, “indecentemente rentável”
para os organizadores, me disse Rabello de Castro. Alguns no Brasil passaram a
ter mais certeza na vitória do time de Felipão, porque isso, na prática,
corresponderia a uma “compra”, senão da taça diretamente, mas pelo menos de
diversos “mecanismos facilitadores” da vitória do escrete verde e amarelo.
Além disso, há
denúncias diárias de corrupção e roubos excessivos nas obras superfaturadas,
como no caso do estádio “Mané Garrincha”, em Brasília, cujo orçamento já está
triplicado e gastará quase um bilhão de dólares, em parte pelo fato descrito
por uma auditoria sobe os “acréscimos de preços” pagos por materiais de
construção.
MINHA OPINIÃO:
As ciosas não estão indo bem para a presidente Rousseff, que não aproveitou os
anos das vacas gordas — quando o ‘boom’ dos preços das matérias primas que o
Brasil exporta ajudou o país a cresce a uma média de 5% por ano durante a
última década — para tornar a economia mais competitiva e eficiente. Este ano,
a previsão é que o Brasil só vai crescer 1,2 %.
Contudo, ainda
não acredito que Dilma Rousseff vá perder no segundo turno. Os subsídios
sociais governamentais do programa “Bolsa Família” já atingem cerca de 15
milhões de famílias que seguramente votarão nela, e a governante do PT terá o
dobro do tempo grátis na TV e no rádio para transmitir suas aleivosias, dentre
as quais se destaca a ameaça de que a oposição irá acabar com esses programas
“sociais”.
O que me traz
uma sobra de dúvida quanto a sua vitória são as últimas enquetes, e a
possibilidade de que, caso o Brasil não ganhe o Mundial, os brasileiros se
perguntem ainda mais que agora aonde foi parar o seu dinheiro. Ou seja,
continuo achando que Dilma Rousseff ganhará, mas não me animo em apostar um
real que seja nisso.
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