quarta-feira, 11 de junho de 2014

Prostitutas da Venezuela ganham mais com troca de dólares que com sexo.


Prostituta em bordel de Puerto Cabello, na Venezuela: câmbio é mais lucrativo do que sexo
Foto: Vladimir Marcano / Bloomberg
Prostituta em bordel de Puerto Cabello, na Venezuela: câmbio é mais lucrativo do que sexo. No paralelo, moeda americana vale 11 vezes mais do que na cotação oficial Vladimir Marcano / Bloomberg
Caracas - Na Venezuela, onde a prostituição é legalizada, mas a troca de divisas é proibida, as prostitutas estão atuando como operadoras de câmbio na Zona Portuária e, assim, mais que dobrando sua renda. Em Puerto Cabello, além de cobrar dos marinheiros estrangeiros uma taxa fixa de US$ 60 por hora, as prostitutas ainda conseguem dólares arranjando hospedagem, chips de celular e transporte para visitantes.
Com a escassez de dólares na praça, a moeda americana vale 11 vezes mais no mercado paralelo que na cotação oficial (6,3 bolívares) do país, que importa 70% dos bens que consome. O bolívar caiu 71% contra o dólar desde abril do ano passado, quando Nicolas Maduro sucedeu seu mentor, Hugo Chávez, na presidência do país. Houve aperto do controle cambial para evitar sangramento das reservas estrangeiras, que estão no menor patamar em uma década.
— O dólar manda nos dias atuais, mas tem um preço. Com ele, conseguimos coisas que as nossas famílias precisam, mas temos de vender nossos corpos para obtê-lo — diz Elena, que não revela seu nome verdadeiro.
Os benefícios do acesso à moeda americana podem ser vistos no quarto da moça no bordel Blue House: sacos de arroz, farinha, açúcar e óleo de cozinha. Para obter esses produtos, outros venezuelanos têm de esperar por horas nas filas das lojas, onde os preços são regulados, e nem sempre conseguem encontrá-los.
A falta de moeda estrangeira está transformando a Venezuela numa sociedade bipartida, como a União Soviética e Cuba, disse Steve Hanke, professor de economia aplicada da Johns Hopkins University, em Baltimore. Aqueles que têm acesso a dólares — como prostitutas, agentes de turismo, taxistas que trabalham nos aeroportos e expatriados — conseguem se proteger contra a inflação vendendo a divisa a taxas cada vezmais altas.
Os que não conseguem obter dólares veem seu padrão de vida cair — sem abastecimento, os consumidores enfrentam aumentos de preço na casa de 59% neste ano até março. Enquanto isso, autoridades tentam reprimir o mercado negro de dólares, fechando corretoras e fixando quatro sistemas paralelos de câmbio para conter a depreciação do bolívar.
O problema está inibindo os negócios — exceto a prostituição — no Puerto Cabello, que é o maior do país. O bordel Blue House é limpo e bem cuidado, com um pátio e uma cozinha onde as mulheres têm três refeições por dia.
— Antes, eu trabalhava para sustentar meu filho e minha mãe. Agora, sustento a família inteira — conta Paola, que também trabalha como prostituta. — Dólares são o único jeito. Os salários em bolívares de meus tios e primos não significam praticamente nada agora.
*POR BLOOMBERG

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