Corria
o ano da graça de 2009, e a então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff,
já pré-candidata à Presidência, foi a público, no dia 22 de maio, vituperar
contra a CPI da Petrobras. Fazia ainda o tratamento contra o câncer, razão de
estar com peruca. Felizmente — e quem me conhece sabe que não brinco nem ironizo —, ela se
curou. A Petrobras, ao contrário, agoniza.
Vamos
ver o que disse Dilma. Vejam o vídeo. Transcrevo depois a fala para que possa ser reproduzida sites e blogs afora.
“Eu
acredito que a Petrobras é uma empresa tão importante do ponto de vista
estratégico, no Brasil, mas também por ser a maior empresa, a maior
empregadora, a maior contratadora de bens e serviços e a empresa que, hoje, vai
ocupar cada vez mais, a partir do pré-sal, espaço muito grande, né?, ela é uma
empresa que tem de ser preservada. Acho que você pode, todos os objetos, pelos
menos os que eu vi da CPI, você pode investigar usando TCU e o Ministério
Público. Essa história de falar que a Petrobras é uma caixa- preta… Ela pode
ter sido uma caixa-preta em 97, em 98, em 99, em 2000. A Petrobras de hoje é
uma empresa com um nível de contabilidade dos mais apurados do mundo. Porque,
caso contrário, os investidores não a procurariam como sendo um dos grandes
objetos de investimento. Investidor não investe em caixa-preta desse tipo.
Agora, é espantoso que se refiram dessa forma a uma empresa do porte da
Petrobras. Ninguém vai e abre ação na Bolsa de Nova York e é fiscalizado pela
Sarbanes-Oxley e aprovado sem ter um nível de controle bastante razoável”.
Nota: Sarbanes-Oxley é o nome de uma lei dos EUA (formado a partir dos respectivos
sobrenomes de um senador e de um deputado), de 2002, que estabelece mecanismos
de transparência contábil para as empresas que operam na Bolsa dos EUA.
Embora a fala esteja vazada em búlgaro antigo, dá para entender o que
ela quer dizer. Notem ali o tom de indignação, como se investigar a Petrobras
correspondesse a apelar ao nefando, a violar o espaço do sagrado. Sim, temos a
então ministra e presidente do Conselho a assegurar a superioridade dos
mecanismos de controle da Petrobras. Não se esqueçam de que, àquela altura, os
descalabros da Pasadena já tinham acontecido, e Dilma os conhecia muito
bem.
Ora, ora… Cerveró foi demitido. Ela, já presidente, o recontratou para a
diretoria financeira da BR Distribuidora.
Eis aí. Não apenas Dilma queria matar a CPI — reitero que falava
como ministra, presidente do Conselho e virtual candidata à Presidência da
República — como fazia acusações genéricas contra o governo passado. Fez tábula
rasa das evidências já escandalosas de irregularidades que havia na gestão
petista, mirando seu canhão contra os adversários, a troco de nada.
Lembro: a CPI criada no Senado em maio e instalada só em julho de
2009 investigava manobras contáveis da empresa para driblar o fisco,
irregularidades em patrocínios e, atenção!, superfaturamento na
construção de plataformas e na obras de Abreu e Lima. A maioria governista,
claro!, esmagou a investigação. A oposição abandonou a comissão em sinal de
protesto. O senador Romero Jucá (PMDB-RR), relator, concluiu o seu texto em
dezembro, de acordo com as vontades de Lula, do PT e de Dilma. Escreveu lá: “O conjunto de indícios de irregularidades apontados pelo
TCU nas obras da Refinaria Abreu e Lima, depois da análise empreendida pela
CPI, mostrou-se inconsistente.”
É bem verdade que Jucá chegou a identificar a atuação de uma
quadrilha. Está escrito: “Diante das
apresentações dos convidados ficou demonstrada a formação de uma quadrilha
envolvendo funcionários da Petrobras em conluio com alguns representantes de
empresas. Constatou-se que a fraude não foi maior devido ao trabalho conjunto
do Ministério Público Federal, da Polícia Federal e da Petrobras”. Viram
só? Na Petrobras, teriam colaborado nesse trabalho meritório de identificação
da quatrilha Paulo Roberto Costa, Renato Duque, Nestor Cerveró…
Com a devida vênia, num país sério, toda essa gente estaria em
maus lençóis. Lamento, Dilma! O conjunto da obra constitui crime de
responsabilidade.
*Por Reinaldo
Azevedo
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