Luciana Lóssio, a ministra que reteve o processo
contra Dilma no TSE, é questionada por não se declarar impedida em casos
envolvendo ex-clientes, como a própria presidente.
*Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br)
Aos 41 anos, a ministra do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) Luciana Lóssio está longe de ser uma unanimidade entre
seus pares. Desde que assumiu o cargo em 2011, sob as bênçãos do então
presidente da Corte, Ricardo Lewandowski, ela criou em torno de si uma teia de
relações que demonstram sua dificuldade para separar a atuação como advogada de
políticos, exercida antes de ascender ao posto, da função atual de magistrada.
Há três semanas, ela pediu vista da Ação de Investigação de Mandato Eletivo que
apura se a campanha da presidente Dilma Rousseff à reeleição recebeu dinheiro
do esquema de propinas nos contratos da Petrobras. O processo pode resultar na
condenação da chapa petista por abuso de poder político e econômico. O pedido
de vista, liberado na quinta-feira 17, suspendeu o julgamento e foi apresentado
justamente quando o placar exibia quarto votos a um a favor da investigação
contra a presidente. Depois da sessão, durante o tradicional lanche entre os
ministros, ela foi questionada sobre o prazo que levaria para analisar o
processo. Segundo um ministro ouvido por ISTOÉ, a resposta veio eivada de
ironia: “Não estou com a menor pressa”, teria dito.
LIGAÇÃO ANTIGA
Esta postura da ministra por si só já
seria motivo de polêmica, diante da gravidade das revelações da Operação Lava
Jato. Mas seu comportamento passou a ser alvo de severos questionamentos por
uma razão que não deve ser desconsiderada: ela atuou como advogada na campanha
presidencial de Dilma em 2010 e, logo em seguida, recebeu da presidente a
indicação para o cargo que ocupa atualmente. Na avaliação de integrantes do
meio jurídico, uma ministra de uma corte superior não poderia participar de um
julgamento envolvendo uma chapa que pagou por seus serviços quatro anos antes.
O que os ministros se perguntam é: por que Luciana não se declarou impedida
desde o inicio do caso, como era de se esperar de qualquer juiz que preze pela
credibilidade dos tribunais que compõem? A resposta pode estar no
histórico da conduta da ministra. Como resumiu um dos ministros ouvidos por
ISTOÉ, “Luciana sofre de uma dificuldade evidente para declarar-se suspeita em
um processo”.
Foi assim no episódio do pedido de cassação da então
governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB). A ministra havia sido advogada
de Roseana no processo que resultou na cassação de Jackson Lago, em 2009. Em
março de 2013, ela tornou-se relatora de uma ação contra a antiga cliente.
Esperava-se que a ministra repassasse imediatamente a função de relatora para
outro colega. Mas não foi o que ela fez. Embora pelo menos dois ministros
afirmem que chegaram a questioná-la sobre sua incompatibilidade para analisar o
processo, Luciana ficou quase seis meses com a ação sob seu poder. Somente em
agosto, depois de uma audiência com representantes da então governadora, a
ministra se declarou impedida de julgar o caso. Como faltavam apenas dois meses
para a nova eleição ao governo, Roseana Sarney terminou seu mandato sem
enfrentar o julgamento da ação pelo TSE.
Em 2013, Luciana já
havia adotado a estratégia de segurar o processo para beneficiar a cliente Roseana Sarney.
No ano passado, outra atitude da ministra
provocou reações no tribunal. A pedido do PT, ela apressou a votação do
processo de expulsão do então deputado André Vargas (PR). Ele havia sido o
primeiro a ser citado nas investigações da Lava Jato e, naquele momento, a
cúpula petista acreditava que expulsá-lo rapidamente poderia estancar a crise
que se aproximava da legenda. Luciana era a relatora do caso e concluiu o voto
em menos de um mês. “Uma eficiência poucas vezes vista na Corte abarrotada de
processos”, comenta um dos ministros.
A ministra tem encarado as críticas sobre a própria conduta com naturalidade.
Não responde a provocações e segue alegando agir de acordo com a própria
consciência. Embora seja discreta e seus colegas aleguem que sua bagagem
jurídica é inferior à demanda do cargo de ministra do TSE, Luciana Lóssio tem
conseguido tornar-se protagonista de alguns dos mais importantes processos que
tramitam na Corte. No caso específico da ação que pretende investigar se a
campanha de Dilma foi abastecida por recursos de propina, a ministra prestou um
grande serviço ao governo.
Foto: Sérgio Lima/Folhapress
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