Anailín e Javier, na primeira oportunidade, deixaram para trás o “paraíso comunista” de Cuba.
A realidade superou a ficção. Dois jovens atores cubanos que receberam permissão para ir aos EUA para promover um filme no qual eles interpretam um casal que foge de Cuba para começar uma vida nova em Miami, decidiram fazer o mesmo que seus personagens. Todavia, diferentemente do filme, eles não tiveram que se lançar ao mar numa balsa improvisada. Eles chegaram ao Aeroporto Internacional de Miami e, após desembarcarem para fazer a conexão para a cidade de Nova Iorque, simplesmente desapareceram. Os jovens Anailín de la Rúa de la Torre e Javier Núñez Florián são dois dos três protagonistas do filme chamado ‘Una noche’ (Uma Noite), fita que narra o drama dos “balseros”. Ambos deviam se apresentar em Nova Iorque para a estreia da película na quinta feira passada no Festival de Cinema Tribeca, junto com o terceiro ator, Daniel Arrechaga, o único que esteve presente.
De la Rúa e Núñez ficaram em Miami na quarta feira e sumiram assim que chegaram de Cuba e não planejam regressar à ilha-cárcere onde cresceram na pobreza extrema, informou Arrechaga no website de notícias Huffington Post, na Internet. “Estou sozinho em Nova Iorque. Pelo menos eu vou voltar”, disse Arrechaga e acrescentou que tinha perdido o contato com os dois colegas desde que se separaram no aeroporto em Miami e não tem a menor noção do seu paradeiro.
Na obra cinematográfica, os três jovens de 20 anos empreendem a arriscada fuga da ilha pelo mar até Miami por diferentes motivos, tendo que enfrentar tubarões, mau tempo, correntes, e um futuro incerto. Filmado em Havana, o longa-metragem foi dirigido pela britânica Lucy Mulloy, que não pode ser contatada no festival.
Segundo os dados de imprensa do filme, esta foi a primeira experiência dos dois na telona. De la Rúa era campeã de taekwondo em Havana quando um assistente de ‘casting’ a descobriu numa praia. Núñez estudava para ser chef de cuisine quando enviou suas fotos à produção.
O caso, além disso, é meio paradoxal por reproduzir parcialmente a trama do filme, e também insólito, uma vez que fugas anteriores de artistas, nem sequer contou com um evento programado que os tenha convidado, como esse. “Trata-se de um fato político”, assinalou Alejandro Ríos, entendido em ‘cinema cubano’. “Faz tempo que não acontecia, porque os intercâmbios culturais estão funcionando bastante bem e a gente vai e vem, várias vezes, sem visar o prêmio de não voltar, porque isso seria uma viagem única para a liberdade, sem volta”.
Danny Jacomino, produtor cinematográfico e ator cubano, ressaltou que os dois que resolveram não voltar mais à Cuba não são artistas conhecidos em Miami e vão ter que ‘gramar’ para seguir adiante em sua carreira. “O que mais me surpreende e me chateia de alguma forma é que não tenham agido de forma ‘ética’ abandonando um evento tão importante como é o Festival Tribeca, porque inclusive os produtores independentes que fazem cinema em Miami dizem que é muito difícil entrar num festival como esse”, comentou Jacomino. “Não estou criticando a decisão deles porque estão na terra da liberdade e realizando um sonho. Mas, às vezes, na hora de tomar uma decisão dessas devemos tentar não prejudicar todo um trabalho árduo e mal remunerado, feito mais por amor à arte do que por qualquer outra ambição num país em que todas as profissões são muito mal remuneradas e igualadas por baixo. E o festival ficou prejudicado”. Disse ainda que o que os dois fizeram é muito tentador e exige certa dose de coragem e que ele mesmo já teve ganas de fazer o mesmo...
*Tradução de francisco.vianna@terra.com.br
*Tradução de francisco.vianna@terra.com.br
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