sexta-feira, 27 de março de 2015

Delator diz que emissário de Renan lhe "passou a perna".

PAULO ROBERTO COSTA AFIRMA QUE LEVOU CALOTE DE EMISSÁRIO DE RENAN (FOTO: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO).
Em depoimento complementar à força-tarefa da Operação Lava Jato, prestado no início de fevereiro deste ano, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa afirmou que o deputado federal Aníbal Gomes (PMDB-CE) ficou devendo R$ 800 mil para ele. O dinheiro teria sido prometido a Costa, primeiro delator da Lava Jato, para que ele ajudasse o Sindicato Nacional dos Mestres de Cabotagem e Contramestres em Transportes Marítimos a resolver um impasse com a Petrobrás.
O depoimento do ex-diretor foi gravado em vídeo pela força tarefa da Lava Jato.”Ele (Anibal) me procurou para poder agilizar o processo. Porque eu podia chegar lá e dizer: ‘Não vou ver isso. Talvez daqui a um ano.’ Eu podia fazer isso. Eu falei: ‘tá bom, Anibal, vamos ver isso’”, contou o delator. “O Aníbal falou: ‘Paulo, esse aqui, se a gente conseguir resolver esse assunto aqui, você vai ter um ganho aqui de R$ 800 mil. Só que ele nunca me deu esse valor. Ele me passou a perna.”
Segundo Costa, o deputado Aníbal Gomes disse que estava “representando” o senador Renan Calheiros (PMDB-AL). O ex-diretor disse que acabou não recebendo nada por sua atuação no caso. Ele afirmou também que não houve sobrepreço no ajuste com o Sindicato e nem conversa entre ele e Renan. A tratativa, contou o delator, teria sido feita diretamente com Anibal, suposto emissário do senador, em uma reunião entre os dois no Rio.
“Obviamente que se a minha parte era R$ 800 mil, a parte dele era muito maior”, disse Costa. “Quando ele falou que R$ 800 mil era para mim, o restante era para o grupo deles. Ele não me falou ‘Renan’. Eu subentendi.”
O deputado foi prefeito de Aracaú (CE) no período de 1989 a 1993. Ferrenho defensor da família Calheiros no Congresso, Aníbal Gomes empregou em seu gabinete, como assessor, o filho mais novo do presidente Senado Rodrigo Rodrigues Calheiros. No ano passado, a Petrobrás informou que o sindicato solicitava que a Transpetro patrocinasse um curso para que contramestres pudessem se formar mestres de cabotagem. O curso não foi realizado.
Após seu nome ser citado pela primeira vez na Operação Lava Jato, no início de março, o deputado se pronunciou assim:
“O senador Renan Calheiros é meu companheiro de partido e uma das nossas principais lideranças, o conheço desde o meu primeiro mandato, que se iniciou em 1995. Quanto a citada interlocução com o Sindicato Nacional dos Mestres de Cabotagem em Transportes Marítimos, junto ao Dr. Paulo Roberto e Dr. Sérgio Machado, não lembro. Somos sempre procurados por sindicatos para agilização de seus processos, e se algum dia fiz gestão nesse sentido não precisaria oferecer propina a ninguém, seria uma solicitação institucional. Rodrigo Calheiros, filho do Senador Renan trabalhou em meu gabinete de 2008 a 2011, como assessor parlamentar.”
“Ressalto que nunca fui interlocutor do Senador Renan, nem de quem quer que seja, junto a qualquer órgão, e que todas as minhas reivindicações são feitas dentro de relações institucionais e de minha total responsabilidade. Nunca me envolvi em irregularidades junto a Petrobrás, ou qualquer outra Estatal, de natureza direta ou indireta.”
“Conheci o dr. Paulo Roberto há alguns anos, já como Diretor da Petrobrás, engenheiro de carreira, muito atencioso e reconhecido junto aos funcionários daquela instituição como um gestor competente e respeitado.” (AE)

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