Tiroteios entre gangues, ônibus incendiados, linhas que mudam o itinerário por temor de passar em determinadas ruas, áreas da cidade controladas pelo tráfico de drogas. Há pouco tempo, esse cenário remetia apenas ao Rio de Janeiro, mas, infelizmente, se transformou em realidade na capital dos gaúchos.
Nos últimos dias, por exemplo, só o policiamento extraordinário conseguiu restabelecer serviços públicos, caso do Pronto Atendimento de Saúde na Vila Cruzeiro e do transporte coletivo no Morro Santa Tereza, ambos em Porto Alegre.
Mas o problema, evidentemente, não está circunscrito a essas comunidades. A insegurança, há tempos, é uma preocupação constante de todos os gaúchos, inclusive no Interior. E a escalada da violência é perceptível, mesmo entre quem não tem acesso aos números oficiais.
As estatísticas comprovam o que se sente nas ruas. O 9º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, lançado ontem, aponta que os estados que investiram menos têm capitais mais violentas.
É o caso do Rio Grande do Sul, cuja capital apresenta números preocupantes em relação à taxa de mortes violentas (homicídios, lesão corporal seguida de morte e latrocínio), superiores, inclusive, à média nacional.
No ano passado, o País registrou 33 casos para cada 100 mil habitantes, ficando estável em relação ao período anterior. Mas Porto Alegre teve 572 homicídios em 2014, alta de 24,2% em relação a 2013, com taxa de 38,8 mortes a cada 100 mil habitantes. O número faz com que a capital gaúcha seja a mais violenta da região Sul.
Roubos e furtos também se tornaram rotineiros a tal ponto que nem merecem mais registro de queixa, o conhecido BO. Todos estes problemas são agravados pela falta de policiais nas ruas.
Só o que ameniza um pouco a situação é a coragem da população, que não deixa de sair às ruas, pois precisa trabalhar, estudar, encarar os compromissos do dia a dia. O que não diminui é a tensão de quem sai a pé, em transporte público ou de carro, pois quase todos já presenciaram, foram vítimas ou ouviram relatos de vizinhos, amigos ou parentes sobre algum caso policial.
A revolta se generaliza e, hoje, pode-se dizer que há um clamor público por mais policiais nas ruas para a volta da segurança pública, prioridade para a população. Diante do descalabro, crescem, infelizmente, as tentativas de fazer justiça com as próprias mãos. Essas ações reprováveis só acentuam a ausência da ação do Estado.
Por isso, é preocupante que o secretário estadual da Segurança, Wantuir Jacini, defenda que o cidadão prenda em flagrante quem estiver cometendo crimes. É o que autoriza a lei, é verdade, mas, no contexto atual, a declaração é uma confissão de que a polícia perdeu as condições de atender a população. Houve, inclusive, casos em que populares detiveram criminosos, mas a resposta da polícia demorou muito além do tolerável.
É evidente que o problema da falta de efetivo não é de hoje. Mas o fato é que se agrava com o crescimento populacional e a perda de quadros na Brigada Militar e na Polícia Civil. A situação crítica se transformou em caos em setembro, com a greve de policiais em decorrência do parcelamento dos salários dos servidores gaúchos. Foram mais de 10 dias sem policiamento e, após o fim da paralisação, a sensação de insegurança se acentuou.
As polícias têm profissionais dedicados, mas falta contingente, material; e a concorrência com bandidos é desleal, seja em armamento, seja em veículos. Faltam vagas nos presídios, e os presos raramente são mantidos em reclusão.
Mais de 2 mil policiais aprovados em concurso público não são chamados pelas dificuldades financeiras do Estado. É razoável essa argumentação, entretanto, não é razoável continuar sem policiais nas ruas.
Não se trata de uma crítica direta ao governador José Ivo Sartori (PMDB), apenas uma demonstração de que a segurança pública é prioridade. Independentemente de partido político, o gestor que conseguir melhorar o quadro de intranquilidade será aclamado pela população. Por isso, faz-se imperioso reagir: a população quer e precisa ver policiais e viaturas nas ruas, governador Sartori.
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