sábado, 2 de fevereiro de 2013

O apedeuta ataca e usufrui da imprensa.

A verdade é que a imprensa brasileira sempre foi tolerante com as besteiras de Lula e ajudou a criar o mito fanfarrão. Ou: Bobeou, Lula “passa o pente”…

Luiz Inácio Apedeuta da Silva foi a Havana participar de um troço chamado “Conferência pelo Equilíbrio Mundial”. Atacou aquela velha senhora, a Dona Zelite, especialmente a imprensa, que perseguiria democratas e humanistas como Cristina Kirchner, Evo Morales, Hugo Chávez… No Brasil, disse ele, a “mídia” não gosta de ver pobre andando de avião. Vai ver é por isso que o fanfarrão tentou reinstaurar a censura no Brasil: para que passássemos a elogiar aeroportos fedorentos, caindo aos pedaços, entregues a uma gestão ineficiente, lotada de larápios. Vai ver ele e Dilma retardaram em quase dez anos a privatização do setor para dar uma lição aos jornalistas: “Vocês vão ter de aguentar o povo!”. Como é mesmo? “País rico é país sem conforto”.
Em peregrinação pelo Brasil, José Dirceu ataca o Ministério Público, o Judiciário e, claro!, a imprensa — que estaria disposta a instaurar uma ditadura no Brasil. Não uma ditadura qualquer, mas do tipo nazifascista, segundo Rui Falcão, este democrata exemplar. Pois é… A verdade, no entanto, é bem outra. Ao longo dos anos, ao longo das décadas, o jornalismo brasileiro foi é complacente com Lula e sempre relevou — quando não promoveu — sua pletora de bobagens na suposição de que ele, afinal, era um autêntico representante do povo e tinha, por isso, licença especial para dizer tolices.
Raramente Lula foi visto como aquilo que de fato era: um político empenhado na construção de um partido para disputar o poder. Era tratado como uma força da natureza; como o bom selvagem que vocalizava não um conteúdo político, mas uma mensagem vinda das entranhas da Terra. Seus juízos eram, sim, meio toscos — “mas ele não teve estudo, coitado!”. Suas soluções eram simplistas, primárias, notavelmente ignorantes — “mas ele é um representante das massas, e apontar suas burrices é manifestação de preconceito”. E se foi criando, então, o mito do homem que sabia tudo sem estudar nada. Numa entrevista à revista “Primeira Leitura”, que eu dirigia, Marilena Chaui comparou o chefão petista à deusa grega Métis (ainda vou recuperar a passagem; é notável).
Voltemo-nos àquela entrevista que o então já bastante poderoso e influente Lula concedeu à revista Playboy em 1979. Que outra figura pública teria resistido à confissão de que iniciou sua vida sexual com animais? Que outra personalidade teria sobrevivido à admissão de que ficava de olho nas viuvinhas que entravam no sindicato para, recorrendo a seu vocabulário iluminado, “papá-las”? Atenção! Aquele notável líder da classe trabalhadora aproveitava-se da morte de um companheiro e da fragilidade da mulher — que tinha ido ao órgão de classe para cuidar da pensão — para, como se diz por aí, “passar o pente”. Que outra expressão do sindicalismo ou da política teria superado a revelação de que tinha na galeria dos homens admiráveis e admirados Hitler e Khomeini. Por quê? “Porque estavam do lado dos menos favorecidos…”, ele explicou.
“Lá está o Reinaldo querendo ressuscitar velharias…” Não! Já demonstrei que não são velharias. As escolhas que Lula fez na política externa, por exemplo, indicam que coerência com seu passado. As escolhas que faz na política interna são compatíveis com aquela visão de mundo. E ousaria mesmo dizer que certos sucessos de sua vida privada — com repercussões na esfera pública — remetem àquela espreitador de viuvinhas. No sindicato, na Presidência e no partido, ele nunca soube distinguir suas necessidades privadas das questões coletivas. Isso está dado pelos fatos.
A mentira
É mentira, das mais escancaradas, essa história de que a imprensa persegue Lula, o PT e os petistas. Ao contrário: há mais de 30 anos, essa gente está entre os pauteiros mais influentes do jornalismo. Com muita frequência, em razão de alinhamentos ideológicos e afinidades eletivas, é poupado das críticas.
Não se trata aqui de apelar ao escatológico ou ao que parece anedótico para definir um homem inteiro. Usar um cargo num órgão de representação de classe para “papar” viúvas fragilizadas não define apenas um gosto sexual; define também um caráter. Afirmar que Hitler é um homem admirável, ainda que discorde de sua ideologia, por causa do “fogo de se propor a fazer alguma coisa” é mais do que a mera expressão de um juízo torto; Lula conseguiu atravessar a camada do horror para descobrir no facínora o ardor da transformação.
O Lula de 1979 está presente no Lula de 2013 e, de fato, jamais o abandonou. A cada vez que confunde o público com o privado, em que toma a sua própria vida como metro de todas as coisas, quem se manifesta é o molestador de viúvas. A cada vez que justifica os crimes dos companheiros (os petistas ou os governantes delinquentes da América Latina), ouve-se a voz do admirador de Hitler e Mussolini. Não especulo se aquele Lula escatológico tem expressão ainda hoje em dia porque minha imaginação se nega a visitar certas paragens…
Ataque à imprensa por quê? Com raras exceções, noticiou-se a sua óbvia e indevida intromissão na Prefeitura de São Paulo e mesmo no governo Dilma como se fosse algo natural, corriqueiro, aceitável. Lula decide na base do dedaço quem é e quem não é candidato no partido, e se considera isso muito normal porque, afinal de contas, ele é mesmo o líder inconteste no partido. Os mais sabujos veem nisso um “saudável processo de renovação” do partido. Num seminário, os porta-vozes do Apedeuta anunciam quem será o verdadeiro articulador do governo Dilma, e ninguém se ocupa de indagar: “Mas com quais credenciais que a tanto o habilitem, se não é deputado, não é senador, não é ministro, não é assessor da Presidência?”.
Mas ao petismo não basta. Se o partido conseguisse cooptar todos os meios de comunicação menos um, seguiria reclamando e denunciando o “complô” da mídia contra as forças do povo, como naquela carta-programa dos nazistas… A imprensa que Lula agora ataca, tudo bem pensado, praticamente o inventou como líder e segue tendo com ele uma generosidade que a nenhum outro político é dispensada.
Aquele que é hoje um dos homens mais poderosos do país ainda é visto por muitos como o ignorante amoroso, de bom coração, cheio de boas intenções, dono de uma intuição genial, interessado apenas na redenção do seu povo. Não há o que perguntar às cabras. A indagação teria de começar pelas viúvas…
*Por Reinaldo Azevedo

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