A ascensão de Marina Silva nas pesquisas eleitorais, com reais
possibilidades de chegar à Presidência da República, após a trágica morte de
Eduardo Campos, reflete o desencanto com o putrefato sistema
político-partidário atual, implicando em uma cega manifestação de repúdio sem
propostas políticas alternativas viáveis. Na Europa das décadas de 1920-1930,
condições análogas ensejaram o – para muitos inimaginável – surgimento do
nazifascismo. No Brasil de hoje, o vácuo de perspectivas positivas gera o risco
de um processo de convulsões desagregadoras, com consequências imprevisíveis.
Neste contexto, são preocupantes as propostas de “democracia direta” ou
plebiscitária feitas pela candidata do PSB, que implicam na substituição das
instituições legítimas do Estado nacional soberano – incluindo aí o sistema
sindical -, hoje, profundamente fragilizadas, por uma rede de organizações
não-governamentais (ONGs) e movimentos sociais, insuflados por interesses
internacionais.
Nesse cenário, o País se vê diante da possibilidade de vir a ser
governado por uma personagem com uma visão arcaica e bucólica sobre o
desenvolvimento socioeconômico e que, apresentando-se como opositora da
“política tradicional” e seus defeitos, tem uma face menos conhecida. De fato,
toda a trajetória política de Marina foi feita à sombra de um insidioso aparato
oligárquico internacional, integrado por entidades privadas e governamentais de
certos países do Hemisfério Norte, que, nas últimas décadas, tem manipulado os
problemas ambientais e indígenas do Brasil, utilizando-os como instrumentos de
pressão para enquadrar as políticas públicas nacionais na sua agenda
hegemônica. Este aparato supranacional funciona como uma estrutura de “governo
mundial”, com grande capacidade de impor parcial ou integralmente a sua agenda
aos governos nacionais.
A influência desse aparato de poder, até agora, tem se dado por meio de pressões diretas de governos estrangeiros, dotações de verbas oficiais e privadas direcionadas para a implementação de certas políticas ambientais (muito apreciadas por governos às voltas com restrições orçamentárias), ações diretas de uma bem financiada rede de ONGs e a cooptação de lideranças políticas, acadêmicos, profissionais de áreas diversas, jornalistas e outras personalidades capazes de influenciar a opinião pública em favor da agenda ambientalista-indigenista. Em condições de crise mais aguda, abre-se a possibilidade da manipulação de multidões, como as que se manifestaram em junho de 2013, para a imposição de reformas radicais.
Com a sua visão anticientífica e pré-cristã dos problemas ambientais e indígenas e uma imagem pública de política ética e contrária “a tudo isso que está aí”, Marina tem sido uma importante agente de influência daquela rede oligárquica, que, desde a década de 1980, tem conseguido obstaculizar projetos de infraestrutura fundamentais para a plena integração física do território nacional, além do desenvolvimento de certas tecnologias avançadas, como a energia nuclear, a biotecnologia e outras.
O seu status global pode ser avaliado pelas numerosas premiações recebidas de instituições estrangeiras, desde a década de 1990, a sua vinculação a um importante grupo internacional de discussões, o Diálogo Interamericano, e, não menos, a sua emblemática e polêmica participação na abertura dos Jogos Olímpicos de 2012, em Londres, quando, sem conhecimento do governo brasileiro, ela foi uma das oito personalidades de todo o mundo convidadas para entrar com o pavilhão olímpico no Estádio de Wembley.
Na ocasião, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, justificou com ironia a surpresa do governo: “Marina sempre teve boa relação com as casas reais da Europa e com a aristocracia europeia. Não podemos determinar quem a Casa Real vai convidar, fazer o que?” (Agência Estado, 27/07/2012).
Comentando o episódio, o veterano jornalista Mauro Santayana observou: “Marina Silva transita à vontade pelos salões da aristocracia europeia e norte-americana. É homenageada, com frequência, pelas grandes ONGs, como o WWF [Fundo Mundial para a Natureza], que contava, até há pouco, com o caçador de ursos e de elefantes, o rei Juan Carlos, da Espanha, como uma de suas principais personalidades. Na melhor das hipóteses, a senhora Marina Silva é ingênua, inocente útil, o que é comum nas manobras políticas internacionais. Na outra hipótese, ela sabe que está sendo usada para enfraquecer a posição da nação quanto à defesa de sua prerrogativa de exercer plenamente a soberania sobre o nosso território (Jornal do Brasil Online, 30/07/2012).”
Meses depois, após o anúncio da criação da Rede Sustentabilidade, Santayana sintetizou assim o seu papel: “A Sra. Silva, como alguns outros brasileiros que se pretendem na esquerda, é uma internacionalista. O meio ambiente, que querem preservar tais verdes e assimilados, não é o do Brasil para os brasileiros, mas é o do Brasil para o mundo. Quando a Família Real Inglesa e os círculos oficiais e financeiros norte-americanos cercam a menina pobre dos seringais de homenagens, usam de uma astúcia velha dos colonialistas, e fazem lembrar os franceses na aliança com a Confederação dos Tamoios, e os holandeses em suas relações com Calabar (Jornal do Brasil Online, 22/02/2013).”
No Ministério do Meio Ambiente (2003-2008), Marina empenhou-se em consolidar a imposição de estritos limites ambientais às políticas e iniciativas de desenvolvimento. Com ela, a pasta passou a ser chamada o “Ministério das ONGs”, devido aos muitos representantes do movimento ambientalista nomeados para cargos de direção. Com o MMA convertido em um autêntico enclave neocolonial de interesses internacionais, o processo de licenciamento ambiental se tornou um dos maiores entraves a todo tipo de empreendimentos, tanto pelo retardamento (com frequência, deliberado) das análises dos estudos de impactos ambientais pelos órgãos competentes, como pelas excessivas compensações socioambientais exigidas dos empreendimentos maiores, em uma transferência de atribuições e custos que deveriam caber aos poderes públicos.
Os resultados foram equivalentes aos de uma guerra econômica contra o País, com grandes atrasos na ampliação da infraestrutura necessária às atividades produtivas. Um estudo do Banco Mundial, divulgado em 2008, demonstrou que o processo de licenciamento de projetos hidrelétricos chegava a durar três vezes mais que os prazos estabelecidos pela própria legislação ambiental. Outros estudos apontaram que o custo das condicionantes socioambientais oscilava entre 15% e 30%, em alguns casos, chegando perto de 50% – provocando um desnecessário encarecimento dos empreendimentos, com os devidos impactos socioeconômicos. Embora tais tendências já se manifestassem antes, elas ganharam ímpeto com Marina.
Igualmente, Marina contribuiu para um dos mais desastrosos resultados da campanha ambientalista, a limitação do tamanho dos reservatórios das usinas hidrelétricas, que restringe drasticamente a sua capacidade de armazenamento de água nos períodos secos – como o que afetou a Região Sudeste este ano, aumentando o risco de um novo racionamento de energia.
A visão radical de Marina sobre o meio ambiente, que coloca os benefícios socioeconômicos dos empreendimentos de infraestrutura em um plano bem inferior ao dos impactos ambientais dos mesmos, motivou numerosos atritos com os seus colegas do governo e, em última análise, foi a responsável pela sua saída do MMA, em maio de 2008, em protesto pela entrega da coordenação do Programa Amazônia Sustentável ao ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger.
O seu questionável conceito de humanismo lembra o da personagem dos Irmãos Karamazov de Dostoiévski, que admitia: “Quanto mais amo a humanidade em geral, menos amo as pessoas em particular, como indivíduos.”
Talvez, a percepção desse fato explique por que, na eleição de 2010, os eleitores do Acre, que a conhecem de perto, a tenham deixado em terceiro lugar, a mesma posição geral no quadro nacional, sendo que as suas maiores votações proporcionais foram obtidas nos estados mais distantes da Região Amazônica.
Além da questão ambiental, outra área em que Marina demonstra posições convergentes com a agenda oligárquica é a da “financeirização” da economia, em detrimento das atividades produtivas. Aqui, as suas propostas soam como música aos ouvidos dos mercados financeiros: a autonomia formal do Banco Central e a preservação da “trindade monetária”, com um férreo compromisso com a obtenção de superávits fiscais, o controle da inflação com a taxa de juros (altos) e a manutenção das taxas de câmbio flutuantes. Não por acaso, entre os seus assessores, destacam-se a cientista social Maria Alice “Neca” Setúbal, herdeira da família controladora do Banco Itaú, e os economistas André Lara Resende, ex-presidente do BNDES no governo Fernando Henrique, e Eduardo Giannetti da Fonseca, ambos ligados aos processos especulativos dos mercados financeiros.
Em suma, Marina Silva mais que uma solução para a crise político-institucional que se apresenta, é apenas um moderno derivativo da velha astúcia colonialista, que tende a agravar a crise.
Nas notas seguintes, detalharemos a intimidade da candidata herdada pelo PSB com a oligarquia internacional, para que os leitores avaliem que interesses serão mais bem servidos, caso ela e a sua rede cheguem ao Palácio do Planalto.
*Fonte: http://www.msia.org.br/marina-silva-e-a-astucia-ambientalista-de-um-velho-colonialismo/.
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