FHC nunca foi de direita. É um adepto ferrenho da
Social Democracia e um liberal sob todos os aspectos sócio-políticos e
econômicos. Sua educação familiar e formação intelectual, no entanto, o compeliu
a ser educado, tolerante e respeitador com as convicções políticas contrárias.
Uma coisa sempre me chamou atenção: FHC jamais admitiu
a infâmia em suas campanhas políticas e jamais compactuou ou concordou com os
atos radicais da esquerda. É uma pessoa íntegra a tal ponto que os petistas,
reconhecidamente desmedidos em sua fúria para destruir reputações, jamais
conseguiram provar uma só das acusações contra ele achacadas. Agora Lula, o
líder da “petezada”, que chafurda na lama da corrupção e desmandos
político-administrativos, quer agarrar-se a FHC para safar-se da condição de
náufrago da merda que ele mesmo, e seus asseclas, despejou no país.
No texto abaixo, do excelente Jornalista Augusto
Nunes, se depreende, acima de tudo, um alerta ao ex-presidente tucano: “Fernando
Henrique tem o dever de ensinar a Lula que gente honrada não desperdiça
palavras com quem só sabe falar a linguagem da infâmia.”
Leiamos o texto, a charge que colocamos, é do excelente sponholz:
Não tendo mais credibilidade, Lula apela para um homem de bem para "se limpar" e sair do "aperto".
“Lula anunciou no começo do mês a descoberta da
fórmula que garantiria à detentora do recorde mundial de rejeição a reconquista
do título de campeã brasileira de popularidade: bastaria abandonar por uns
tempos o local do emprego e sair por aí tapeando plateias que amam vendedores
de fumaça. “Ela conviveu muito tempo comigo e sabe que, nas horas difíceis, nas
horas mais difíceis, não tem outra alternativa a não ser encostar a cabeça no
ombro do povo”, pontificou o doutor honoris causa em bravata & bazófia. “É
preciso conversar com ele, explicar quais são as dificuldades e quais são as perspectivas”.
Para sorte da afilhada, nem o padrinho onisciente
sabe onde fica essa parte da nação: se Dilma conseguisse encostar a cabeça no
ombro do mundaréu de indignados, vaias e panelaços nunca antes ouvidos neste
país produziriam estragos de bom tamanho no aparelho auditivo presidencial.
Prudentemente, o neurônio solitário só se aproximou de plateias que aplaudem
até acessos de tosse. Nem por isso escapou de afundar mais alguns metros
na pesquisa divulgada pela Confederação Nacional dos Transportes. A mulher que
não diz coisa com coisa talvez adiasse o afogamento se não tivesse dito tanta
coisa de assustar doido de pedra.
Entre outros prodígios, saudou a conquista da
mandioca, ordenou à homenageada que comungasse com o milho, descobriu a mulher
sapiens, inventou o etanol que dá em planta, pintou de verde e amarelo o
combustível brasileiríssimo, virou mais uma vez a página do Petrolão que a
Operação Lava Jato ainda está escrevendo e enxergou na roubalheira da Petrobras
a versão 2015 da Inconfidência Mineira, fora o resto. A bula do remédio
receitado por Lula decerto omitiu a lista de efeitos colaterais. Um deles deixa
com cara de suplente de vereador presidentes da República reeleitos seis meses
antes.
O formidável fiasco não desativou a
fábrica de ideias de jerico, revelou aFolha nesta
quarta-feira. Acuado pela enxurrada de más notícias procedentes de Curitiba,
Lula resolveu transformar Fernando Henrique Cardoso na corda que vai resgatá-lo
do buraco negro em que se meteu. Sempre sinuoso, valeu-se de emissários para
saber se FHC toparia um encontro clandestino. Gente que mente só se sente à
vontade em conversas a dois: a ausência de testemunhas permite a divulgação de
versões sem qualquer compromisso com a verdade.
É o que faria o camelô de empreiteira
se o alvo do truque não tivesse desmontado a armadilha com um email publicado
pela Folha: “O presidente Lula tem meus telefones e não
precisa de intermediários. Se quiser discutir objetivamente temas como a
reforma política, sabe que estou disposto a contribuir democraticamente. Basta
haver uma agenda clara e de conhecimento público”. Os acólitos juram que o
chefe da seita estendeu a mão ao inimigo por amor à pátria. Quer ajuda para
manter Dilma no emprego. Papo de 171. Lula só pensa em Lula. O que pretende é
salvar-se a si próprio — e prorrogar a sobrevida do sonho de voltar ao gabinete
presidencial.
O que FHC precisa ouvir é a voz do país que presta.
Não se tira para uma valsa quem só sabe dançar quadrilha. E o sentimento da
honra não foi revogado pela era da canalhice. Desde 2003, quando acusou o
antecessor de ter-lhe repassado uma “herança maldita”, o grande farsante não
parou de atribuir ao homem que o derrotou duas vezes (ambas no primeiro turno)
todos os males do Brasil. Primo da inveja, o ressentimento nunca passa. Há dois
meses, o governante que jamais leu um livro atribuiu ao sociólogo brilhante até
a paternidade do escândalo nascido e criado na cabeça baldia do chefão do bando
gerenciado por José Dirceu.
“Quem criou o Mensalão foi
o governo do FHC, quando estabeleceu a reeleição no país”, fantasiou
em 12 de maio o São Jorge de bordel. A invencionice cafajeste foi reprisada uma
semana depois: “Se o FHC quisesse falar de corrupção, ele precisaria contar
para este país a história de sua reeleição”, reincidiu o palanque ambulante em
20 de maio. “Eu espero que, com a mesma postura com que ele foi agredir o PT
ontem à noite na TV, ele diga ─ se não quiser dizer para mim não tem
problema, eu sei como foi. Senta na frente do seu neto e conta pra ele”. Caso
sobrasse tempo, o avô também deveria confessar que quebrou três vezes o Brasil.
Por que Lula e Dilma querem agora ouvir o que pensa
o Grande Satã? Por que o maior dos governantes desde Tomé de Souza anda
mendigando encontros com o ex-presidente que o obrigou a reconstruir a nação em
frangalhos? Porque sempre que se vê em apuros o espertalhão de ópera-bufa faz
qualquer negócio para safar-se da enrascada. Até vender a mãe em suaves
prestações e entregá-la em domicílio. Ou fingir que não liga o nome à pessoa
quando alguém pergunta se conhece Rosemary Noronha.
Por Ruth Cardoso e por milhões de vítimas da grande
farsa, por tudo isso e muito mais, Fernando Henrique tem o dever de ensinar a
Lula que gente honrada não desperdiça palavras com quem só sabe falar a
linguagem da infâmia.”
*Augusto Nunes, em Direto ao Ponto, na
Veja.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário