O desfile de carros de luxo do ex-presidente Fernando Collor apreendidos pela Polícia Federal desencadeou no Congresso e em setores acuados pela Operação Lava Jato a gritaria de abuso de poder e de que a medida era puramente cinematográfica. Documentos obtidos por ÉPOCA mostram que o procurador-geral, Rodrigo Janot, em coordenação com a Polícia Federal, apoia-se em provas, testemunhos e investigações que justificam a ação. Chancelada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki, a Operação Politeia é o primeiro desdobramento da Operação Lava Jato em relação a parlamentares. As provas de Janot contra os parlamentares mostram uma rede de lavagem de dinheiro, com empresas de fachada e saques em dinheiro vivo, para abastecer políticos com dinheiro desviado da Petrobras, principalmente o senadores Collor e o presidente do PP, Ciro Nogueira.
As principais operações financeiras feitas pelo senador Fernando Collor (PTB-AL) tratam da empresa Água Branca Participações, usada pelo ex-presidente para comprar carros luxuosos: “A empresa não tem empregados. Também não tem existência física. Conforme informação policial de campo, no endereço cadastrado como sede da Água Branca funcionam outras empresas. Trata-se, provavelmente, portanto, de ‘pessoa jurídica de fachada’, usada especificamente para lavagem de dinheiro”, afirma o relatório da Procuradoria Geral da República. A investigação foi além e descobriu que a Água Branca, apesar de não existir, recebera R$ 930 mil apenas em 2013, de uma empresa fantasma, a Phisical Comércio, abastecida pelo operador de propinas Alberto Youssef. Fechava-se o caminho do dinheiro.
Apesar da forte reação de Collor contra a operação, três delatores da Lava Jato mostram o mesmo caminho: entregas de dinheiro vivo para o senador. O assessor Rafael Ângulo, responsável pelos carregamentos de dinheiro a mando de Youssef, detalhou uma entrega de R$ 60 mil, e narra, sem floreios, a naturalidade com que o ex-presidente recebia a propina. Eis um relato literal da delação premiada selecionado por Janot para ilustrar o envolvimento de Collor: “Que ouviu o barulho de abrir com chave; Que em seguida, adentrou na porta e foi atendido pessoalmente por FERNANDO COLLOR DE MELLO;[...] Que, porém, como o declarante reconheceu COLLOR e o declarante tinha sido orientado a entregar o dinheiro pessoalmente para ele, o declarante disse: ‘eu trouxe sessenta, o senhor sabe?’; Que ele respondeu: ‘Sei’; Que então, como a quantia era menos volumosa, sobretudo porque estava em notas de R$ 100,00, o declarante entregou o valor diretamente para COLLOR; […] Que FERNANDO COLLOR pegou os valores e apenas disse ‘tudo bem’; Que COLLOR não contou os valores e apenas colocou ao lado”.
Ricardo Pessôa, presidente da empreiteira UTC, diz ter pago pelo menos R$ 20 milhões de propina a um diretor da BR Distribuidora. “O declarante sabia que por trás da indicação de ZONIS estava FERNANDO COLLOR, do contrário, não aceitaria pagar 20 milhões de propina”, diz trecho do depoimento.
Na terça-feira, quando foi realizada a Operação Politeia, Collor negou as suspeitas. “A defesa do senador Fernando Collor repudia com veemência a aparatosa operação policial realizada nesta data em sua residência. A medida invasiva e arbitrária é flagrantemente desnecessária, considerando que os fatos investigados datam de pelo menos mais de dois anos, a investigação já é conhecida desde o final do ano passado, e o ex-presidente jamais foi sequer chamado a prestar esclarecimentos.”
A ajuda de R$ 2 milhões a Ciro Nogueira
A principal suspeita contra o senador Ciro Nogueira (PP-PI) vem dadelação premiada do empreiteiro Ricardo Pessôa, dono da UTC. De acordo com ele, Nogueira pediu R$ 2 milhões à UTC. A justificativa é que precisava de dinheiro para ajudar um parente com problemas de saúde. “Diante da concordância de Ricardo Pessôa em pagar a quantia solicitada, Ciro Nogueira se mostrou agradecido, afirmando que ‘haveria contrapartida’ e que o empresário tinha que fazer obra no Piauí porque eles ainda iam crescer muito juntos”, registrou a PGR.
Pessôa disse que a entrega de dinheiro era feita na casa do senadorem Brasília – a mesma que recebeu a visita de policiais nesta semana. Foram três entregas, totalizando R$ 1,4 milhão. O empreiteiro disse ainda que uma pessoa chamada “Fernando” era o responsável pelo recebimento dos valores. A investigação encontrou uma conexão: em diligência na casa do senador, descobriu-se um Golf estacionado na garagem, em nome de Fernando Mesquita, ex-assessor de Ciro Nogueira quando ele era deputado.
Há mais. O delator Rafael Ângulo, assessor do doleiro Youssef, disse que fez entregas no mesmo endereço. A ordem era de Youssef e tinha como origem do dinheiro justamente a UTC, de Pessôa. Os depoimentos dos delatores convergiam. Uma anotação de Ângulo obtida pelos investigadores mostra a entrega de valores na casa do senador Nogueira, com a observação de “Fernando”.
Pessôa explicou ainda que estava com problemas de caixa para pagar os valores ao senador. “Ricardo Pessôa acatou a sugestão de Ciro Nogueira e pagou o restante do valor utilizando mais um estratagema de lavagem de dinheiro, qual seja, simulou uma prestação de serviço com o escritório de advocacia Hughues e Hughues, firmando um contrato fictício com o advogado Fernando de Oliveira Hughues, para dar aparência de legalidade à transação”. O contrato, apresentado por Ricardo Pessôa aos investigadores, era de R$ 780 mil.
Quando a operação foi deflagrada, o advogado de Ciro Nogueira,Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, classificou a busca de invasiva. “O senador já falou, colocou à disposição da polícia o sigilo telefônico, bancário e fiscal. Vivemos uma época em que medidas invasivas se tornaram regra, não exceção. Ele já prestou depoimento”.
Nesta quinta-feira, Ciro Nogueira divulgou nota à imprensa: "Com relação às afirmações feitas pelo delator Ricardo Pessôa divulgadas na imprensa, esclareço que as acusações são totalmente infundadas, sem base em qualquer prova e que confio plenamente que, ao final desse processo, a verdade irá vir à tona e corrigir a injustiça de que estou sendo vítima".
* Via Revista Epoca
* Via Revista Epoca
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