Por Mario Sabino
Há cerca de dez anos, quando entrevistei longamente Fernando Henrique Cardoso para a Veja, por ocasião do lançamento do livro "A Arte da Política", o ex-presidente discorreu sobre a "ética da convicção" e a "ética da responsabilidade".
FHC lançou mão desse conceitos do filósofo alemão Immanuel Kant para explicar as alianças que fez para conseguir governar nos seus dois mandatos. Ele aliou-se a políticos dos quais discordava e mesmo condenava do ponto de vista individual -- ou da ética da convicção --, visando ao bem comum. Desse modo, como presidente da República, atendeu à ética da responsabilidade.
Hoje, parte do PSDB recusa-se a participar do governo Michel Temer sob pretexto de querer mudar a forma de como se faz coalizão de forças no Brasil.
Ainda que seja parcialmente verdadeiro, está claro que também falam alto conveniências eleitorais. O próprio Fernando Henrique Cardoso disse que o problema da participação dos tucanos é que, se tudo desse certo, o PMDB levaria os louros; se tudo desse errado, a culpa seria do PSDB.
Além de o raciocínio estar errado -- ao ajudar no impeachment, o PSDB casou-se com o PMDB nas alegrias e tristezas --, o fato é que FHC e uma parte do tucanato deixaram de lado a ética da responsabilidade para com o Brasil.
Vivemos um momento grave nos planos institucional, político e econômico. O PSDB não precisa gostar do PMDB e de Michel Temer. O PSDB pode até acreditar que perderá eleitoralmente. Mas é imprescindível que integre com os seus ótimos quadros a próxima administração, se não quiser entregar o país de volta ao PT -- e ao caos.
A ética da responsabilidade deve prevalecer sobre a ética da convicção.
Nenhum comentário:
Postar um comentário