sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Calote à vista na Venezuela.

O país que atravessa séria escassez de produtos básicos, tem pela frente vencimentos da dívida soberana, neste ano, que representam mais do dobro do que irá arrecadar até dezembro como o petróleo.
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Uma cliente sai de um mercado privado em Caracas onde conseguiu comprar papel higiénico (FERNANDO LLANO / AP)
O regime de Nicolás Maduro enfrenta nas próximas semanas importantes vencimentos da dívida externa que acentuarão sobremaneira as imensas pressões sobre as finanças da Venezuela, que já registra uma acelerada queda de suas reservas cambiais de moedas internacionais e carece dos dólares necessários para garantir o abastecimento de alimentos.
O governo socialista bolivariano deve cancelar, nesta semana, obrigações oriundas de 1,642 bilhão de dólares por uma emissão de bonus globais de 2013, montante que representa 83,9 por cento das reservas líquidas de 1,950 bilhão anunciadas no fechamento de julho, segundo um relatório publicado no jornal governista “El Nuevo País”.
Mas o vencimento desta semana representa menos da metade dos vencimentos previstos para o restante do ano em curso, disse José Guerra, professor da escola de Economia da Universidade Central da Venezuela. “Há um caso sério de liquidez do Banco Central do país. As reservas estão caindo aceleradamente e no que resta do ano, entre setembro e dezembro irão vencer os pagamentos de juros e de capitais da dívida externa de 4,6 bilhões que têm que ser pagos”, disse Guerra, de Caracas.
“O país tem uma restrição severa de reservas internacionais e não se vislumbra como o governo possa levantar fundos de maneira rápida bem agora no mercado mundial, porque isso significará aumentar mais ainda a dívida soberana do país, quando as reservas internacionais de moeda forte do Banco Central estão despencando”.
Essa diminuição se traduz na venda das reservas em ouro, que constituem o grosso das reservas internacionais do país, numa tentativa de aumentar as reservas líquidas, que em julho representavam apenas o suficiente para duas semanas de importações.
Esse processo – e a depreciação no valor do ouro nos mercados mundiais – tem levado as reservas venezuelanas a despencar dramaticamente para situarem-se nesta semana em níveis de 21,989 bilhões de dólares, o montante mais baixo desde novembro de 2004, quando o preço do petróleo estava abaixo de 40 dólares o barril, relatou o jornal ‘El Universal’.
Em junho último, essas reservas somavam mais de 27 bilhões, 2,5 bilhões das quais como reservas líquidas.
A grave crise de liquidez que o regime socialista venezuelano enfrenta mostra que a renda proveniente do petróleo já não é mais suficiente para sustentar a economia estatizada e os enormes compromissos nacionais e internacionais assumidos pelo regime chavezista.
O cenário de escassez, que mantém as estantes dos supermercados vazias, em função da destruição sustentada do aparato produtivo promovida pelo chavezismo ao longo dos últimos 15 anos, agravado pelo elevado consumo estimulado pelo regime quando a renda do petróleo ainda dava para pagar por ele, levou os venezuelanos a se acostumarem em consumir mensalmente mais de 5 bilhões de dólares em importações. Na Venezuela – que há duas décadas tinha uma indústria promissora e uma atividade econômica crescente, hoje não produz quase nada e as pessoas vivem basicamente de empregos públicos e não querem saber de diminuir o consumo.
A renda do petróleo, que erroneamente o regime achava que daria para pagar por tudo e para sempre, só deve arrecadar algo em torno de 10 bilhões de dólares no que resta de 2013, disse Boris Ackerman, professor de Finanças da Universidade Simón Bolívar em declarações publicadas no jornal governista “El Nuevo País”.  A PDVSA está sucateada e sem capitais e mão de obra qualificada – que se evadiram do país – para a manutenção do seu parque petrolífero que se encontra em adiantado estado de deterioração.
Esses 10 bilhões de dólares que a estatal deve arrecadar até o fim de dezembro próximo, na realidade, representa a metade dos compromissos assumidos pela Comissão de Administração de Divisas (CADIVI) pelas importações que já foram feitas, o que significa que a renda do petróleo já está comprometida para o que resta do ano em regime deficitário. Ou seja, a despesa de importação já chega, mensalmente, ao dobro do faturamento da PDVSA, comentou o Professor Guerra.
“A não se que Caracas encontre uma nova fonte de financiamento, o povo vai ter que comer menos, vestir menos, locomover-se menos, ou seja empobrecer a olhos vistos. A margem de liquidez é estreita, estreita demais, e com tais vencimentos que se aproximam as coisas vão ficar muito críticas e apertadas”, insistiu o mestre.
A acelerada deterioração das reservas internacionais de moeda vem a público num momento em que os funcionários do chavezismo começam a tatear a possibilidade de chegar a algum tipo de aproximação com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Tal iniciativa, todavia, não é vista com bons olhos pelo socialismo chavezista, mas que é considerada pelos funcionários dedicados em manejar a economia estatizada como um passo que poderá melhorar o acesso do país às fontes internacionais de crédito. A má vontade do chavezismo com o FMI reside no fato de que o organismo creditício mundial haverá de fazer exigências que são vistas como um estímulo ao capitalismo privado no país...
Mas o crédito dificilmente poderá ser estendido ao país a tempo de forma útil para ajudar o governo a honrar os vencimentos da dívida previstos para este ano, num cenário que provavelmente aumentará os problemas de escassez de produtos que os venezuelanos já amargam há algum tempo. Esses problemas que, segundo o Prof. Guerra, eram pontuais há dois ou três anos, agora já se tornam muito agudos e severos.
“Em Caracas, neste momento, não se consegue, entre outros produtos de necessidade básica, um rolo sequer de papel higiênico. Simplesmente não há. As pessoas batem pernas de loja em loja e não acham”, afirmou.
Multipliquem essa situação por 50 anos e pode-se antever que, após esse meio século, a perdurar a moléstia socialista, a Venezuela estará numa situação igual ou pior a que se encontra Cuba hoje.

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