Para a tribo de Dilma e Chávez, só existe um crime imperdoável: perder o poder
Por Augusto Nunes
Em 18 de setembro de 2010, a coluna exibiu pela primeira vez o vídeo em que o venezuelano Hugo Chávez registra o carinho e a admiração que nutre pela presidente do Brasil.
“Dilma Rousseff, uma grande companheira, uma grande patriota sul-americana”, derrama-se o chefe da revolução bolivariana no meio da discurseira reproduzida na seção História em Imagens.
“Eu a conheci em uma reunião. O que me impressionou foi sua claridade do conceito de sua profundidade”, completou, caprichando no sotaque de milongueiro apaixonado e no olhar 171.
Em junho de 2011, depois de um encontro reservado em Brasília, Hugo e Dilma mantiveram em segredo o que haviam dito um ao outro.
Como artistas de cinema de antigamente na fase dos arrulhos, limitaram-se a informar que eram apenas bons amigos. “Ninguém sabe se ainda é só amizade ou se já virou namoro”, conformou-se o post sobre o diálogo misterioso.
É algo bem maior que ambas as hipóteses, esclareceu há dias o apoio escancarado do Planalto à vigarice que pretende estuprar a Constituição venezuelana para substituir uma democracia em frangalhos pela monarquia à cucaracha.
Se o mandato de Chávez for estendido por prazo indeterminado, como tramam os golpistas , o trono mudará de dono só depois da morte do rei Hugo I. (Isso se a oposição conseguir provar que é impossível comandar do Além um grotão sul-americano).
“Todos sabem do apreço que o governo brasileiro tem pelo presidente Chávez”, recitou Marco Aurélio Garcia, uma boca que à espera de um dentista e, desde 2003, conselheiro presidencial para complicações internacionais.
É verdade.
Em 2009, por exemplo, García comunicou ao mundo que no reino do companheiro Chávez “existe democracia até demais”.
Mas o “governo brasileiro” a que se referiu, visto de perto, é o mais recente codinome de Dilma Rousseff.
Foi Dilma quem resolveu, entre um pito no salva-vidas mais próximo e um passeio de lancha no litoral da Bahia, que Garcia deveria interromper as férias no México, baixar em Cuba e descobrir se o parceiro hospitalizado está mais próximo de um telegrama com palavras de estímulo ou de um convite para o desfile na Sapucaí.
Foi Dilma quem ordenou ao teórico da política externa da safadeza que deixasse as coisas bem claras: no peito da gerente durona bate um coração exigente e seletivo. Nele não há lugar para outro governante venezuelano que não se chame Hugo Chávez.
Para afagar um farsante de picadeiro, a presidente mandou às favas as leis venezuelanas, as normas que regem o convívio internacional, a soberania das nações, a lógica, o bom senso e o respeito aos que têm mais de cinco neurônios na cabeça.
Para homenagear um bolívar-de-hospício, a doutora em nada envergonhou o Brasil.
De qualquer forma, o episódio revelou que o que une a dupla Dilma e Chávez vai muito além da amizade e é mais forte que qualquer namoro.
Os dois são comparsas nascidos e criados na mesma tribo.
Para seus integrantes, todos os pecados são permitidos, com uma solitária exceção. Só é crime perder o poder.
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