Foto: Juan Carlos Hernandez / Bloomberg
Um operário da estatal PDVSA checa um painel de controle num complexo petroleiro em Anzoategui, Venezuela, em 2004.
Quando o tiranete venezuelano moribundo ou, segundo uns, já morto – Hugo Chávez passou a usar sua retórica incendiária antiamericana, chegou a ameaçar em mais de uma ocasião em suspender o fornecimento de petróleo às empresas estadunidenses, sob o olhar paciente de Washington. Os americanos, por sua vez, sabiam perfeitamente que o cumprimento dessas ameaças era impraticável, uma vez que a estatal PDVSA não conseguiria no mercado petroleiro outro comprador ou conjunto de compradores que substituíssem as empresas americanas, mostrando também um profundo desconhecimento da realidade desse mercado.
Mas os EUA acabaram tendo que comprar menos petróleo cru venezuelano há cerca de alguns anos, não necessariamente como punição ou sanções impostas ao governo socialista ‘bolivariano’, mas por mudanças drásticas no mercado e as dívidas gigantescas contraídas pelo regime de Chávez com os governos chinês e russo.
Assim, a participação da Venezuela no mercado americano está sendo ameaçada e poderá ser reduzida a níveis irrelevantes no médio prazo, em função do aumento significativo da oferta de petróleo doméstico – com a produção de novas e extraordinárias jazidas continentais estadunidenses – e do Canadá, como afirmam os especialistas.
Tal situação, aliada à gradativa diminuição da produção venezuelana, traz sérias implicações para o futuro da economia desse país, cuja dependência da renda do petróleo tem aumentado muito nas últimas décadas, o que poderá acabar empurrando a nação sulamericana para os braços da China. De certa forma, é tudo o resultado da falta de visão de quem tem manipulado a arrecadação venezuelana ao longo dos últimos anos, achando que o manancial petroleiro do país era inesgotável, e acabando por fazer a Venezuela perder o bonde da história, por um lado ao fazerem pouco caso de seu principal cliente, os Estados Unidos, e por outro ao se descuidarem da saúde de sua outrora florescente indústria petrolífera, explicaram os analistas.
Um ex-gerente da PDVS comentou que "na Venezuela, todas as oportunidades foram desperdiçadas e suas rendas malversadas". "O país poderia estar hoje produzindo, pelo menos, 4,8 milhões de barris dia, sem que o aumento da produção tivesse afetado os preços de mercado da mercadoria, porque a única coisa que tínhamos que ter feito era pedir à OPEP que permitisse que o país assumisse a participação para cobrir o vazio deixado pelos outros países que não podiam produzir naquela ocasião. Atualmente, a Venezuela só produz 2,5 milhões de barris/dia e seu parque industrial está caindo aos pedaços por má manutenção", explicou.
Um aumento da produção dessa ordem teria queesr uidoomr mua sólida política de investimento com base apenas técnica para que a estatal petroleira venezuelana pudesse consolidar a infraestrutura comercial e industrial necessária para garantir que o petróleo cru adicional venezuelano pudesse ser colocado com sucesso no mercado estadunidense uma vez que, apesar da hostilidade do chavezismo em relação a Washington, os EUA continuam sendo o cliente que melhor o paga.
Mas agora que a produção de petróleo está aumentando consideravelmente na América do Norte, os analistas acreditam que uma possível, embora improvável, aumento da oferta por parte da Venezuela acabe sendo desprezada. "A autossuficiência dos Estados Unidos não vai acontecer da noite para o dia, mas, pelo que se pode ver, é que a América do Norte, com o esperado aumento sustentado e prolongado da sua produção no Canadá, nos EstadosUnidos e inclusive no México, possa, sim, levar a região à não precisar mais importar o petróleo que consome por um período muito duradouro embora ainda não calculado", comentou Juan Fernández, um ex-diretor executivo de planejamento da PDVSA.
Segundo os cálculos da Agência Internacional de Energia, os Estados Unidos estão em vias de se converter no primeiro produtor mundial exportador de petróleo dentro de cinco anos. O país hoje ainda importa em torno de 39% do petróleo cru que consome, mas alguns analistas dizem que, inclusive, poderá não precisar importar mais a mercadoria ainda este ano.
A razão desse esperado aumento sustentado se deve em grande parte aos desdobramentos tecnológicos da produção de hidrocarbonetos não convencionais, de gás natural e de petróleo de xisto betuminoso, assim como nas imensas jazidas de "
tight oil" (petróleo de formações minerais compactas), cuja extração durante muito tempo era difícil e considerada muito dispendiosa.
A evolução tecnológica está criando um ‘boom’ petroleiro nos estados de Norte Dakota, Montana, Texas e Louisiana. Para este ano, a produção de petróleo nos Estados Unidos está prevista aumentar em 490 mil barris/dia, para alcançar uma média de 10,4 milhões de barris/dia, de acordo com um relatório da OPEP. Tal incremento na produção levou os EUA a reduzir a importação de petróleo de 60 por cento do petróleo cru que consumia em 2006 a apenas 33 por cento, estimado para 2014, sem levar em conta as imensas reservas estratégicas que têm acumulado em seu território.
Mas o maior risco para o petróleo venezuelano neste momento provém do Canadá, país que tem estado a aumentar de modo acelerado a produção de petróleos pesados de características similares à do país sulamericano. A construção proposta do Oleoduto Transcanadense, que ainda aguarda aprovação, poderá levar para os Estados Unidos a exportação de 1,5 milhão de barris/dia de petróleo extrapesado azedo — similar ao venezuelano — já em 2015, a um custo significativamente menor, o que deixariao petróleo venezuelano em situação muito ruim para competir.
A perda do mercado estadunidense forçaria a Venezuela a depender cada vez mais da China, país que já exerce uma grande ingerência econômica na nação sulamericana. Os atuais dirigentes venezuelanos, alimentados pela incongruente ideologia chavezista de buscar a independência econômica dos Estados Unidos, já começam a ver a profunda estupidez que constitui a possível perda dos grandes recursos financeiros para os cofres de Caracas, uma vez que os altos custos de transporte de envios para a Ásia significa que o petróleo deverá ser entregue com um elevado desconto, sem falar na pechincha que os chineses farão por causa da falta de opções de mercado da PDVSA, conforme o analista Antonio De La Cruz.
Ainda assim, a Venezuela parece determinada em criar as condições que fatalmente a levarão a perder sua posição no mercado estadunidense. "A Venezuela está focada na China e anunciou há uns dias que vai começar a dar a esse país um milhão de barris/dia, no que será um aumento de 600.000 barris/dia que o país estará deixando de enviar aos Estados Unidos", comentou De La Cruz.
A exportação de petróleo para os EUA cairia dos atuais 800.000 barris/dia a apenas 200.000 barris/dia e essa queda teria um sério impacto negativo nas finanças públicas de Caracas porque não apenas receberiam menos – pelos descontos e os custos muito maiores de transporte – como também uma parte significativa desses envios será para começar a pagar dívidas já feitas com Pequim. Ou seja, a Venezuela não obterá rendas numa porção significativa dessas remessas porque o país asiático já pagou por eles.
Caracas já sente grandes pressões fiscais, enfrenta grandes problemas de liquidez, e quer capital novo, porque os empréstimos já foram consumidos em forma de alimento e de armamento e o único dinheiro que está entrando na Venezuela atualmente é o que lhe pagam os americanos "imperialistas", comentou De La Cruz. "E agora o governo terá que reduzir as remessas aos Estados Unidos em algo em torno de 75 por cento, gerando uma situação muito difícil para o atual governo, que não terá recursos sequer para pagar o que deve e vai ter que tomar medidas drásticas para tentar evitar um colapso econômico".
Se considerarmos as dificuldades pelas quais o povo venezuelano está passando, graças ao desastrado "socialismo do século XXI", que causou um enorme êxodo de capitais e de cérebros, não é difícil admitir que a Venezuela esteja fadada a se transformar em pouco tempo numa espécie de Coreia do Norte sulamericana.
*Por FRANCISCO VIANNA (da mídia internacional)
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