"Longe do ringue
desde o quase nocaute desferido pelo escândalo Rosemary Noronha, e mais sumido
ainda depois das manifestações juninas, o ex-presidente Lula reapareceu. E,
ainda que zonzo, sentindo o golpe de não ser mais a voz máxima das ruas,
reencontrou-se com o seu melhor estilo: o de reinventar a história. “Na Europa,
os protestos são para não perder o que conquistaram. No Brasil, protestos são
para conquistar mais”, disse Lula na tarde de quinta-feira, durante palestra na
Universidade Federal do ABC (UFABC), em São Bernardo do Campo. Repetiu o que já
publicara no dia anterior na sua coluna mensal no jornal The New York Times e
que sua pupila Dilma Rousseff, bem ensaiadinha, passou a dizer nos últimos dias.
Vítimas das alegorias marqueteiras, que a cada dia produzem uma ideia nova para
fazer de conta que se está atendendo às demandas dos protestos, eles não se
emendam. Fazem qualquer coisa para tentar tirar o monstro do cangote do
Planalto. Se invencionices do tipo Constituinte exclusiva e plebiscito para uma
reforma política urgente urgentíssima não deram certo, agora é a vez de tentar
atrair a plateia com o avesso do avesso, repetindo a tática que Lula usou para
se reerguer quando o mensalão o jogou na lona. O novo bordão preconiza que a
grita só está acontecendo agora porque os governos do PT “reduziram
drasticamente a pobreza e a desigualdade”; que jovens que nada tiveram hoje têm
e desejam mais. Um raciocínio ainda mais tortuoso do que “recursos não contabilizados”,
expressão imortalizada por Delúbio Soares, vulgo caixa 2, utilizado por Lula
para safar os seus dos crimes do mensalão."
*Texto por Mary Zaidan, no Blog do Noblat, em O Globo
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