Por Augusto Nunes
Na quinta-feira, durante a visita à Favela da Varginha, o papa Francisco
disse o seguinte:
“Aqui, como em todo o Brasil, há muitos jovens. Vocês, queridos jovens,
possuem uma sensibilidade especial frente às injustiças, mas muitas vezes se
desiludem com notícias que falam de corrupção, com pessoas que, em vez de
buscar o bem comum, procuram o seu próprio benefício. (…) Não deixem que se
apague a esperança”.
Embora o recado não tenha mencionado expressamente políticos ou partidos, todo
mundo deduziu que o papa resolvera cutucar o governo do PT e seus parceiros.
Faz sentido: depois das manifestações de protesto que implodiram a farsa do
Brasil Maravilha, ficou claro que a corrupção impune anda de mãos dadas com a
seita lulopetista.
Lula acha que isso é preconceito. Tem razão. O país que presta sempre foi
preconceituoso com assaltantes de cofres públicos, empresários liberados para
transformar canteiros de obras em plantações de maracutaias, gatunos com
imunidade parlamentar e outras vertentes da grande família dos corruptos. Neste
inverno, o Brasil decente mostrou que é muito maior do que imaginavam os
embusteiros no poder.
E não para de crescer, vão admitindo um a um os institutos de pesquisas que, se
não tivessem colidido com a revolta da rua, já estariam atribuindo a Dilma
Rousseff 100% de popularidade (ou 103%, se a margem de erro oscilasse para
cima). Há poucas horas, consumou-se a capitulação do Ibope. A colecionadora de
recordes agora patina nos arredores dos 30% historicamente reservados a
qualquer poste do PT.
Durante vários anos, o Ibope confinou em índices inferiores a 8% os brasileiros
que acham ruim ou péssimo o desempenho do governo federal. Subitamente, a taxa
de descontentamento decolou. Acaba de bater em 31% — e continuará subindo. Se
apenas tivessem fulminado a desfaçatez dos fabricantes de porcentagens, as
manifestações de protesto iniciadas em 6 de junho já teriam valido a pena. Mas
as mudanças foram muito além do comércio de estatísticas.
Os destinatários do recado do papa querem acreditar que, configurado o
naufrágio de Dilma, bastará lançar a candidatura de Lula para que a festa siga
seu curso. Logo saberão que lidam com um país que mudou. As multidões
inconformadas com o elogio do cinismo sabem que foi o ex-presidente quem
instalou no Planalto o que até recentemente qualificava de “um poste que
ilumina o Brasil”. Se tentar um terceiro mandato, vai descobrir que cometeu um
erro semelhante ao do amigo Paulo Maluf.
Dilma Rousseff é o Celso Pitta do Lula.
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