O perigo comunista: A China jamais deixará de ser comunista, imperialista e beligerante.
Enquanto seu governo faz planos para estender o tapete vermelho ao presidente Barack Obama, em visita nesta semana, o presidente chinês, Xi Jinping, elogiou um blogueiro jovem cujos textos são conhecidos aqui por suas posições antiamericanas.
Em um ensaio amplamente reproduzido pelos órgãos de notícias estatais, intitulado "Nove Golpes de Nocaute na Guerra Fria Americana Contra a China", o blogueiro, Zhou Xiaoping, argumentou que a cultura americana estava "minando a fundação moral e autoconfiança do povo chinês". Ele comparou desfavoravelmente a cobertura da China pelo noticiário americano ao tratamento dado por Hitler aos judeus. Em outro ensaio, ele disse que o Ocidente "massacrou e roubou" a China e outras civilizações desde o século 17, e agora está promovendo uma "lavagem cerebral".
Xi, falando em um fórum no mês passado visando o endurecimento do controle político das artes, disse que o blogueiro exibia uma "energia positiva".
Seu apoio a Zhou, que é saudado pelas autoridades de propaganda, mas amplamente ridicularizado pelos acadêmicos daqui, é apenas o mais recente sinal do crescente sentimento antiocidental, beirando a xenofobia, que emana dos níveis mais altos do Partido Comunista e provoca calafrios no meio acadêmico e na sociedade civil chinesa.
Usando linguagem ideológica reminiscente da Guerra Fria, as autoridades chinesas expressam teorias de conspiração com satisfação, acusando estrangeiros, suas empresas, agências nacionais e organizações não-governamentais de tramarem o enfraquecimento ou a derrubada do partido. As instituições chinesas com laços com entidades ocidentais, independente de quão benignas sejam, também estão sob ataque. Enquanto isso, os jornais estatais passaram a culpar "forças estrangeiras hostis" por qualquer grande perturbação, seja violência étnica no oeste da China, ou manifestações pró-democracia lideradas pelos estudantes em Hong Kong.
A vilificação dos estrangeiros como inimigos da China é comum na propaganda pelo Partido Comunista desde antes de sua ascensão ao poder, e analistas dizem que a liderança tende a endurecer essa retórica quando se sente sob pressão em casa.
"Historicamente, durante cada período com muitos conflitos profundos dentro do país, há um aumento do sentimento antiestrangeiros por parte do partido", disse Zhang Lifan, um historiador, apontando para a desastrosa Revolução Cultural de Mao Tse-tung como exemplo. No momento, ele disse, "o establishment político precisa que a população volte sua raiva contra os países estrangeiros", porque a raiva com a crescente desigualdade entre ricos e pobres na China atingiu "níveis de crise".
Mas diferente de campanhas anteriores contra o Ocidente, a atual onda de nacionalismo ocorre enquanto a China está em ascensão. Xi preside um país que está prestes a superar os Estados Unidos como maior economia do mundo e que desfruta de influência por todo o globo, especialmente na Ásia, onde vem buscando expandir sua pegada territorial.
Em discursos, Xi pede abertamente para que outros países reajam contra os Estados Unidos em questões específicas. Em julho, por exemplo, ele disse ao Congresso Nacional do Brasil que os países em desenvolvimento precisam "contestar a hegemonia americana na Internet". Dois meses antes, Xi sugeriu em uma conferência em Xangai que os Estados Unidos deveriam ceder poder na Ásia, dizendo: "Cabe aos povos da Ásia dirigirem os assuntos da Ásia".
O aumento do antiamericanismo vai além dos discursos. Há alguns meses, por exemplo, o governo chinês deu início a uma investigação de segurança das ONGs estrangeiras que atuam na China, assim como das ONGs chinesas que recebem apoio do exterior, analisando suas finanças e congelando contas bancárias. Um filme de propaganda antiamericana estridente, de 100 minutos, feito pelo Exército de Libertação Popular no ano passado, argumentava que ONGs americanas buscavam minar o partido. (Ele usou a música tema marcial da série "Game of Thrones", da "HBO".)
Em Guangdong, a província do sul adjacente a Hong Kong que há muito é mais aberta a influência e investimento do exterior, as autoridades consideraram fechar as ONGs chinesas que dependem de fundos estrangeiros, noticiou na semana passada o jornal estatal "Global Times".
Wang Jiangsong, um professor de relações trabalhistas do Instituto de Relações Industriais da China, foi citado no jornal como tendo dito que as autoridades rastrearam secretamente as transferências de dinheiro estrangeiro para organizações chinesas, e ficaram preocupadas que "algumas ONGs estariam sendo manipuladas por forças estrangeiras e realizando atividades que podem colocar em risco a segurança nacional e minar a estabilidade social".
A campanha também chegou à academia. Um funcionário de uma organização americana que promove o diálogo entre acadêmicos, disse que alguns professores chineses que trabalham em relações exteriores não estão mais escrevendo ou dizendo algo em público que mostre os Estados Unidos sob uma luz positiva, por temerem ser acusados de serem espiões. O funcionário, que falou sob a condição de anonimato para não antagonizar os parceiros chineses, acrescentou que uma proeminente universidade chinesa proibiu professores americanos visitantes de darem palestras caso a pesquisa deles não esteja de acordo com a linha do partido.
Em um discurso em junho, Zhang Yiwei, uma importante autoridade do partido na influente Academia Chinesa de Ciências Sociais, disse que "aceitar a penetração ponto a ponto das forças estrangeiras" foi um dos principais problemas ideológicos do instituto de pesquisa, segundo o "Diário do Povo", o jornal oficial do partido. Zhang acrescentou que seu gabinete não toleraria qualquer acadêmico que não esteja alinhado com o pensamento do partido.
Atribuir a culpa à interferência das forças estrangeiras tem se tornado cada vez mais comum na mídia estatal. O "Diário do Povo" publicou 42 artigos neste ano atribuindo os problemas domésticos da China a forças "ocidentais" ou "estrangeiras", quase o triplo do número de artigos semelhantes publicados nos primeiros 10 meses do ano passado, segundo um levantamento do jornal "Christian Science Monitor".
As manifestações pró-democracia em Hong Kong têm sido um alvo favorito. Na última sexta-feira, o "Ta Kung Pao", um jornal de Hong Kong ligado ao partido, publicou um artigo de primeira página, com a manchete dizendo que o jornal tinha encontrado "evidência clara" de que os Estados Unidos estavam planejando secretamente o movimento Ocupe local desde 2006.
O governo também passou a investigar grandes empresas ocidentais e impôs multas recordes ao que as autoridades chamam de práticas monopolistas. Alguns empresários e autoridades estrangeiras dizem que as investigações são uma forma de protecionismo. Ao mesmo tempo, o governo chinês manteve as restrições aos estrangeiros a investimento, propriedade e acesso ao mercado em muitos setores.
Em consequência, executivos americanos reduziram seu otimismo sobre realizar negócios aqui, disse John Frisbie, presidente do Conselho de Negócios EUA-China, um grupo setorial em Washington.
"Seria um mercado de mais de US$ 350 bilhões na China para as empresas americanas", ele disse. "Muitos setores ainda estão fechados. De modo geral, há uma falta de avanço para aberturas adicionais."
Alguns questionam a sinceridade –ou apontam a hipocrisia– dos ataques do partido ao Ocidente, notando que muitos membros do partido têm filhos ou outros familiares vivendo e requisitando cidadania no exterior. A filha de Xi, Xi Mingze, cursou a Universidade de Harvard sob pseudônimo.
"Como as autoridades chinesas realmente podem ser antiamericanas?" perguntou Zhan Jiang, um professor de estudos de mídia da Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim.
"Os sentimentos antiestrangeiros sempre estarão presentes na China por causa da história única da China", ele disse. "Mas a opinião pública a respeito do Ocidente não mudará por causa do que o partido diz."
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