Sobre o tema FMI. Veja abaixo o que venho escrevendo, para o vento, desde 2010.
Na análise prévia do ano de 2014 o deficit em transações correntes previsto será de US$ 100,00 bilhões. Se houver uma interrupção no fluxo financeiro para o Brasil, somente restará ao Brasil o socorro do FMI.
Para ajudar o amigo na avaliação da gravidade do problema, cabe destacar que nos oito anos do governo Lula o Brasil gerou um deficit nas transações correntes da ordem de US$ 53,1 bilhões, já nos 4 anos do governo Dilma (2011/2014) esse deficit será da ordem de US$ 288,1 bilhões, ou seja: no período 2011/2013 gerou deficit de US$ 188,1 bilhões e em 2014 está previsto deficit de US$ 100,00 bilhões.
I – Análise do período do governo Lula de 01/01/2003 até 31/12/2010
Composição das Reservas em Moeda Estrangeira Em Poder do Banco Central do Brasil.
*Fonte BCB
Movimentação das Reservas de 01/01/03 até 31/12/10
Movimentação
|
US$ Bilhões
|
Saldo das reservas em 31/12/02 |
37,8
|
Saldo das transações correntes do balanço de pagamentos
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(53,1)
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Saldo líquido entre captação e amortização de empréstimos externos
|
(14,3)
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Saldo líquido dos investimentos externos diretos |
167,8
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Saldo líquido dos investimentos externos indiretos |
131,4
|
Saldo de empréstimo ao FMI |
19,0
|
Saldo das reservas em 31/12/10 |
288,6
|
Conclusões:
1) Mesmo com o saldo de reservas de US$ 288,6 bilhões o Brasil está no limite da crise cambial em função do déficit nas transações correntes.
2) O Brasil está sendo financiado pelos investimentos externos em função dos juros altos, não pelo seu comércio exterior. Qualquer susto do mercado financeiro a explosão será inevitável.
3) O atual governo terá que resolver a difícil dicotomia da política externa brasileira, qual seja: juros altos atraem investimentos externos que valorizam o real, diminuindo a competição dos produtos brasileiros no exterior, e consequentemente aumentando os déficits nas transações correntes.
II – Análise do período do governo Dilma de 01/01/2011 até 31/12/2013
Movimentação das Reservas
De 31/12/10 até 31/12/13 – Fonte BCB
Movimentação
|
US$ Bilhões
|
Saldo das reservas em 31/12/10 |
288,6
|
Saldo das Transações Correntes
|
(188,1)
|
Investimentos Brasileiros no Exterior
|
(96,8)
|
Investimentos Estrangeiros no Brasil |
244,0
|
Empréstimos Estrangeiros |
214,6
|
Amortizações de Empréstimos Estrangeiros |
(131,5)
|
Outras Movimentações de Capital e Financeira |
28,7
|
Saldo de Capital e Financeira |
259,0
|
Erros e Omissões |
(0,7)
|
Saldo das reservas em 31/12/13 |
358,8
|
Conclusões:
O balanço de pagamentos é composto do saldo de transações correntes que apura os movimentos correntes em moeda estrangeira de um país, tais como: exportações, importações, viagens, transportes, juros, lucros, dividendos, aluguéis de equipamentos, dentre outros, que totalizou nos 3 primeiros anos do governo Dilma um deficit da ordem de US$ 188,1 bilhões.
O outro grupo de apuração do balanço de pagamentos é o denominado de contas de capital e financeira, formado por investimentos do Brasil no exterior e do exterior no Brasil, além dos empréstimos e financiamentos do Brasil no exterior e do exterior no Brasil, que nos 3 primeiros anos do governo Dilma apresentou superavit da ordem de US$ 259,0 bilhões, gerando um saldo do balanço de pagamentos superavitário da ordem de US$ 71,6 bilhões.
Mesmo para um primário no tema é capaz de observar que algo muito errado está ocorrendo com o nosso balanço de pagamentos, ou seja: nosso comércio internacional não está se equilibrando, dependendo do fluxo financeiro e de capital para fechar. Isso quer dizer que estamos vivendo uma crise cambial de balanço de pagamentos, apesar do saldo de reservas em moeda estrangeira da ordem de US$ 358,8 bilhões apurados 31/12/13, já que a sua formação não foi conquistada pelo comércio internacional (recursos próprios), mas sim com empréstimos, financiamentos e investimentos (recursos de terceiros), vulneráveis às crises internacionais.
Em algum momento os países da Europa e os Estados Unidos, que até a presente data estão empurrado os seus graves problemas com a barriga (emitindo moeda), terão que enfrentar a realidade com medidas técnicas e conservadoras, qual seja: disciplina e austeridade fiscal. Nesse momento o fluxo de capital para o Brasil será extinto e o Brasil, mais uma vez, encerra o seu segundo sonho do falso milagre brasileiro, repetindo os mesmos erros cometidos com o falso sonho do primeiro milagre brasileiro ocorrido nos governos militares, qual seja: crescer sem poupança própria (taxa de poupança foi de 13,9% do PIB em 2013, ante 14,6% do PIB no ano anterior).
*Ricardo Bergamini
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