sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Por um dia

Por Reinaldo Azevedo:
Luiz Inácio Lula da Silva acaba hoje - tem mais uma solenidadezinha para a pantomima da despedida e só!
Depois é passado.
Se a sua eleição foi celebrada como o advento, tenta-se fazer de sua despedida um rito sacrificial, embora exultante, como se ele estivesse caminhando para uma imerecida imolação, mesmo sendo sucedido na Presidência por um nome do seu grupo político.
A sua cascata lacrimosa - e como ele chora fácil, não? - é só uma nota patética no rito corriqueiro das democracias: os governantes eleitos exercem por um tempo o mandato e depois deixam o poder, seguindo o que vai estabelecido nas leis.
O circo que se arma dá a entender que ele está nos fazendo uma generosa concessão.
E não está!
Ao contrário: a democracia, na qual ele nunca acreditou muito, é que foi generosa com ele.
É claro que o Brasil teve alguns avanços. Lula estava lá para isto mesmo: tentar melhorar o que não ia bem. É essa a função dos governos, ou não precisaríamos deles.
Afinal, se o objetivo não fosse aumentar o bem-estar coletivo e garantir o pleno exercício das liberdades públicas e individuais, serviriam para quê? Só para tungar a carteira dos contribuintes?
Nem Lula nem governante nenhum têm o direito de nos cobrar por aquilo que nós lhes demos.
Eles não nos dão nada!
Para ser mais exato, tiram.
Aceitamos, como uma das regras do jogo, conceder-lhes algumas licenças em nome da ordem necessária para viver em sociedade. Só isso!
Lula se vai.
Não há nada de especial nisso.
Na manhã seguinte, como diria o poeta, os galos continuarão a tecer as manhãs - consta que eles só pararam de cantar quando morreu Papa Doc, o ditador do Haiti.
Não creio que devotem o mesmo silêncio reverencial a Papa Lula!
O petista terá cumprido oito anos de um governo que fez pouco caso das leis, das instituições e do decoro, e tal ação deletéria nada teve a ver com suas eventuais qualidades.
A virtude não deriva do vício; o bem não descende do mal.
A democracia, que garante amanhã a posse de Dilma Rousseff, teve no PT - e particularmente em Lula - um adversário importante em momentos cruciais da história do Brasil.
Esse é o partido que não participou do colégio eleitoral que pôs fim ao regime militar; que se negou a homologar a Constituição de 1988; que se recusou a dar sustentação ao governo de Itamar Franco; que sabotou - e cabe a palavra - todas as tentativas de reformar o país empreendidas por FHC e que, agora, se esforça para censurar a imprensa.
A sorte foi, sem dúvida, generosa com Lula caso se considere a sua ação efetiva para a consolidação da democracia política.
Seus hagiógrafos tendem a superestimar a sua atuação como líder sindical, ignorando a sua histórica irresponsabilidade no que respeita aos marcos institucionais, que são aqueles que ficam e que compõem o molde no qual a sociedade articula as suas diferenças.
Neste último dia de Lula, meu brinde vai para a democracia, que sobreviveu às ações deletérias de um líder e de um partido que se esforçam de modo metódico para solapá-la em nome de suas particularíssimas noções de Justiça.
Vai, Lula!
Os que preservam a democracia o saúdam!

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