O PT de Campo Grande quer compreender a alma do eleitor conservador. Para tanto, recentemente, convidou o cientista político Alberto Carlos Almeida (autor do famoso “A Cabeça do Brasileiro” e figura formada na estufa do tucanato paulista) para desvendar esse mistério. Explica-se: o PT local acha que sem conquistar o voto do “eleitor conservador” suas candidaturas jamais terão chance de vencer na Capital. Por isso, alimenta a crença de que, iluminando o fenômeno sociológico, será possível formular marquetagem capaz sensibilizar essa parcela (expressiva) do nosso eleitorado. O PT comete assim seu primeiro erro. Os ideólogos do partido na Capital pensam que o conservadorismo é uma filosofia regressiva. Na verdade, há um grande debate acadêmico sobre se (e em qual circunstância) o conservadorismo é, de fato, uma ideologia. Mas é melhor deixar essa questão pra lá para não fundir a cabeça dessa gente. O PT, porém, ainda acredita que o “conservador” é aquele sujeito avesso a mudanças, um reaça absoluto, adepto das teses ortodoxas do liberalismo econômico. O petismo (talvez por preguiça intelectual) comete um notável equívoco de teorização, típico de religiões políticas terceiro-mundistas: o de que o “conservador” é de direita e o “progressista” é de esquerda. Só rindo. Para não se desviar demasiadamente do assunto central deste texto, reitero que o PT, por vacância mental, esteja mais uma vez confundindo as bolas. O partido imagina que o eleitor “conservador” é tacanho e atrasado. E precisa ser domesticado à esquerda. Lembrete: atraso é uma coisa e conservadorismo é outra. Essa turma esquece que quem comanda atualmente o atraso político no Brasil é o próprio PT, o qual, entre outros pecadilhos, insiste (só para ficar num único exemplo) no fortalecimento da mitologia populista em torno do líder carismático, figura que não perde a oportunidade de reforçar sua falta de compromisso com a educação e com a ideia de que político eficiente é aquele que articula concessões à base de corrupção e enriquecimento das elites ( fingindo, ao mesmo tempo, ser contra ela). Por isso, não é mero acidente de que a força eleitoral do PT concentre-se cada vez mais nos grotões. Já se foi o tempo de considerar o conservadorismo como uma espécie de insulto. A rigor, todos nós, em determinado momento, somos conservadores. É da natureza humana lutar para manter (ou conservar) os benefícios do processo civilizatório. Se o sujeito todos os dias toma banho, escova os dentes, faz o seu café matinal, almoça e janta, numa rotina incansável, certamente ele enxerga vantagens inerentes da conservação destes hábitos ao longo de sua vida. Se a democracia é um sistema político que possibilita a liberdade de ir e vir, falar e escrever, manifestar e criticar, votar e ser votado, certamente é melhor “conservar” tudo isso em vez de apostar na instauração de um regime totalitário. Imaginar que o “conservador” seja aquele cretino que não intui o valor das instituições e das pessoas que lhe garantem o melhor possível (e as coisas necessárias), é meio caminho andado para o fracasso. O PT está perdido no meio disso. Para pa rcela ponderável de sua militância dialogar com o “conservadorismo” para fins eleitorais significa abrir mão de sua história. Não a história atual (que tem mais a ver com a pedagogia da malandragem) e sim aquela outra, que se sedimentou no tempo em que o partido esteve na oposição. Enfim, o novo PT é vítima do velho PT. E isso cria uma confusão esquisita na cabeça daquele sujeito que, por “conservadorismo”, gosta que as coisas estejam ordenadas e seguras, sobretudo se a sua vida caminha sem percalços. O centro político gosta de regras fixas. Se ele vê em algum candidato a chance de manter as coisas como estão (e se a vida está legal) é nesse que vai apostar. Aconteceu isso com Dilma nas últimas eleições presidenciais. A candidata fez uma tremenda conversão ao centro, jurou na cruz do conservadorismo (mostrando que estava disposta a ser até medieval para vencer no primeiro turno), mas, como se sabe, não deu tudo certo porque o “conservadorismo” sempr e exige mais do que promessas etéreas para conceder seu voto. Os “conservadores” – esses demônios - exigem sempre rendição absoluta. Foi o que aconteceu e agora isso está na gênese da atual crise política que fermenta em Brasília. Assim, o PT da Capital enfrentará esse dilema nos próximos meses. Eles tem que fingir que são políticos de direita, num espaço em que a direita (real) há muito tempo domina e determina. É complicado. Com gritinhos e propostas ongueiras o PT sabe que não vai muito longe. Por isso, mais uma vez ficará refém de acordos de bastidores para fortalecer apenas as oligarquias internas do partido, pensando na estratégia da próxima eleição, sem oferecer nada de novo para a política da Capital. Sorte nossa.
*Jornalista Dante Filho (dantefilho@folha.com.br)
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