O país com o qual sonhamos precisará cada vez mais de Forças Armadas equipadas e qualificadas para o cumprimento de suas atribuições. Um país que pretende ter dimensão internacional tem que ter nas Forças Armadas um exemplo da sua capacidade e da sua competência. (Dilma Rousseff)
Na madrugada do dia 22 de fevereiro, ocorreu um incêndio no porta-aviões São Paulo da Marinha do Brasil, que estava ancorado na Ilha das Cobras, Baía Guanabara, matando um militar e deixando outro gravemente ferido. Três dias depois, foi a vez da Estação Antártica Comandante Ferraz, onde outro incêndio vitimou dois militares e destruiu mais de 70% das instalações. Estes “acidentes” eram mais do que previstos em decorrência do sucateamento criminoso que as Forças Armadas (FFAA) vêm sofrendo nas últimas décadas.
Nossos Chefes militares tem alertado sistematicamente, sobre a necessidade de investimentos que nos permitam, definitivamente, assumir posição de destaque no cenário internacional e evitar tristes eventos como os que recentemente presenciamos.
O Almirante Antonio Sepúlveda, em fevereiro de 2006, já relatava a situação de penúria a que estava entregue o nosso Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR), mas, como sempre, nada foi feito. Somente agora após as trágicas mortes de dois militares é que o governo acorda de sua letárgica posição e acena com investimentos.
- Tudo pela Pátria
Fonte: Antonio Sepulveda (*), site Alerta Total, 17.02.2006
Parcela consciente da opinião pública aguarda, apreensiva, o desenrolar da melancólica situação do nosso Programa Antártico. O PROANTAR começa a fazer água, por conta do descaso e da irresponsabilidade da cúpula federal que parece ignorar que o primeiro passo para o delineamento de uma grande estratégia está na aquisição de conhecimento sensível, única fonte verdadeira de poder em qualquer cenário geopolítico.
O Brasil aderiu ao Tratado da Antártida, em 1975, assim firmando os propósitos de ocupar aquele território com fins pacíficos e de cooperar com a comunidade internacional para o desenvolvimento de pesquisas no extremo sul do planeta. Uma das exigências para a participação de qualquer país como parte consultiva do tratado é a realização de substanciais atividades científicas.
Para esse fim, o PROANTAR é elaborado e implementado pela Comissão Interministerial para os Recursos do Mar, em consonância com os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil. A sustentação logística dos projetos decorrentes é, com o apoio precioso da Força Aérea, provida pela Marinha que, com a costumeira abnegação do seu eterno lema, Tudo pela Pátria, vê-se obrigada a lançar mão das migalhas que recebe de um orçamento malversado pelos politiqueiros de Brasília.
Pois é; poderia até ser coisa de país sério, de governo preocupado com a inserção do Brasil no cenário político-estratégico internacional no papel de ator, em vez da triste figura de coadjuvante que vem desempenhando através dos séculos. Infelizmente, a realidade atual do PROANTAR é outra. O orçamento vem decaindo sensivelmente desde 1990. Sem recursos – para isso, o governo não tem verbas – o Ary Rongel carece de reparos estruturais indispensáveis, em termos de salvaguarda da vida humana; e que fique este alerta aqui registrado, dedo apontado para o Planalto, caso – Deus não permita - sejamos alcançados por uma tragédia no traiçoeiro Mar de Weddell ou na própria Estação.
A Estação está degradada por falta de uma manutenção aceitável. Recentemente, durante uma faina de reabastecimento de combustível, três tanques desabaram de suas bases apodrecidas, o que poderia ter ocasionado um acidente ecológico grave decorrente do derramamento de óleo. Alguns sistemas vitais se encontram comprometidos: aguada, rede de esgoto, proteção contra incêndios e transferência de energia elétrica. Os módulos estão comidos pela ferrugem; equipamentos inoperantes ou funcionando naquela velha e brasileira base do jeitinho; escadas perigosamente corroídas; anteparas em péssimo estado de conservação; os forros caindo aos pedaços.
Os laboratórios precisam ser reformulados, porquanto não atendem às necessidades atuais. A cozinha tem a idade da Estação e precisa ser modernizada. O auditório e a sala de refeições não comportam mais todos os integrantes da Estação no período de inverno. A frigorífica não tem capacidade para receber todos os gêneros que o navio leva, ocasionando perdas de alimentos. O incinerador tornou-se ineficaz.
Os paióis não atendem ao volume de sobressalentes e de alimentos. As infiltrações são generalizadas. Equipamentos de pesquisa, como motos de neve, botes, lancha oceanográfica e quadriciclos não operam em condições seguras. Tratores e escavadeiras estão avariados. Os riscos se agravam, porque as comunicações em alta frequência, que permitem monitorar os pesquisadores que trabalham mais afastados, não são confiáveis.
É preciso recuperar a Estação para o Ano Polar Internacional (2007/2008), o evento de maior relevância para a pesquisa mundial dos últimos 40 anos. O Brasil, a persistir esta inércia, poderá até mesmo perder sua posição de membro consultivo do Tratado da Antártida, privilégio de apenas 28 países, os quais decidirão sobre o futuro daquele continente. Pelo jeito, vamos, mais uma vez, perder o bonde da História.
(*) Antonio Sepulveda é Almirante na Reserva. O seu alerta foi originalmente publicado no Jornal do Commercio, em 17 de fevereiro de 2006.
Na madrugada do dia 22 de fevereiro, ocorreu um incêndio no porta-aviões São Paulo da Marinha do Brasil, que estava ancorado na Ilha das Cobras, Baía Guanabara, matando um militar e deixando outro gravemente ferido. Três dias depois, foi a vez da Estação Antártica Comandante Ferraz, onde outro incêndio vitimou dois militares e destruiu mais de 70% das instalações. Estes “acidentes” eram mais do que previstos em decorrência do sucateamento criminoso que as Forças Armadas (FFAA) vêm sofrendo nas últimas décadas.
Nossos Chefes militares tem alertado sistematicamente, sobre a necessidade de investimentos que nos permitam, definitivamente, assumir posição de destaque no cenário internacional e evitar tristes eventos como os que recentemente presenciamos.
O Almirante Antonio Sepúlveda, em fevereiro de 2006, já relatava a situação de penúria a que estava entregue o nosso Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR), mas, como sempre, nada foi feito. Somente agora após as trágicas mortes de dois militares é que o governo acorda de sua letárgica posição e acena com investimentos.
- Tudo pela Pátria
Fonte: Antonio Sepulveda (*), site Alerta Total, 17.02.2006
Parcela consciente da opinião pública aguarda, apreensiva, o desenrolar da melancólica situação do nosso Programa Antártico. O PROANTAR começa a fazer água, por conta do descaso e da irresponsabilidade da cúpula federal que parece ignorar que o primeiro passo para o delineamento de uma grande estratégia está na aquisição de conhecimento sensível, única fonte verdadeira de poder em qualquer cenário geopolítico.
O Brasil aderiu ao Tratado da Antártida, em 1975, assim firmando os propósitos de ocupar aquele território com fins pacíficos e de cooperar com a comunidade internacional para o desenvolvimento de pesquisas no extremo sul do planeta. Uma das exigências para a participação de qualquer país como parte consultiva do tratado é a realização de substanciais atividades científicas.
Para esse fim, o PROANTAR é elaborado e implementado pela Comissão Interministerial para os Recursos do Mar, em consonância com os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil. A sustentação logística dos projetos decorrentes é, com o apoio precioso da Força Aérea, provida pela Marinha que, com a costumeira abnegação do seu eterno lema, Tudo pela Pátria, vê-se obrigada a lançar mão das migalhas que recebe de um orçamento malversado pelos politiqueiros de Brasília.
Pois é; poderia até ser coisa de país sério, de governo preocupado com a inserção do Brasil no cenário político-estratégico internacional no papel de ator, em vez da triste figura de coadjuvante que vem desempenhando através dos séculos. Infelizmente, a realidade atual do PROANTAR é outra. O orçamento vem decaindo sensivelmente desde 1990. Sem recursos – para isso, o governo não tem verbas – o Ary Rongel carece de reparos estruturais indispensáveis, em termos de salvaguarda da vida humana; e que fique este alerta aqui registrado, dedo apontado para o Planalto, caso – Deus não permita - sejamos alcançados por uma tragédia no traiçoeiro Mar de Weddell ou na própria Estação.
A Estação está degradada por falta de uma manutenção aceitável. Recentemente, durante uma faina de reabastecimento de combustível, três tanques desabaram de suas bases apodrecidas, o que poderia ter ocasionado um acidente ecológico grave decorrente do derramamento de óleo. Alguns sistemas vitais se encontram comprometidos: aguada, rede de esgoto, proteção contra incêndios e transferência de energia elétrica. Os módulos estão comidos pela ferrugem; equipamentos inoperantes ou funcionando naquela velha e brasileira base do jeitinho; escadas perigosamente corroídas; anteparas em péssimo estado de conservação; os forros caindo aos pedaços.
Os laboratórios precisam ser reformulados, porquanto não atendem às necessidades atuais. A cozinha tem a idade da Estação e precisa ser modernizada. O auditório e a sala de refeições não comportam mais todos os integrantes da Estação no período de inverno. A frigorífica não tem capacidade para receber todos os gêneros que o navio leva, ocasionando perdas de alimentos. O incinerador tornou-se ineficaz.
Os paióis não atendem ao volume de sobressalentes e de alimentos. As infiltrações são generalizadas. Equipamentos de pesquisa, como motos de neve, botes, lancha oceanográfica e quadriciclos não operam em condições seguras. Tratores e escavadeiras estão avariados. Os riscos se agravam, porque as comunicações em alta frequência, que permitem monitorar os pesquisadores que trabalham mais afastados, não são confiáveis.
É preciso recuperar a Estação para o Ano Polar Internacional (2007/2008), o evento de maior relevância para a pesquisa mundial dos últimos 40 anos. O Brasil, a persistir esta inércia, poderá até mesmo perder sua posição de membro consultivo do Tratado da Antártida, privilégio de apenas 28 países, os quais decidirão sobre o futuro daquele continente. Pelo jeito, vamos, mais uma vez, perder o bonde da História.
(*) Antonio Sepulveda é Almirante na Reserva. O seu alerta foi originalmente publicado no Jornal do Commercio, em 17 de fevereiro de 2006.
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