sexta-feira, 2 de maio de 2014

Cuba: “Favela totalitária, em que todos nascem condenados à prisão perpétua."

Jornalista publica texto após visitar Cuba: “Favela totalitária, em que todos nascem condenados à prisão perpétua."                                                           Imagem Gabriela di Bella/JC
Juremir Machado da Silva
                                  Jornalista Juremir Machado da Silva
O jornalista Juremir Machado DA Silva, do Correio do Povo, republicou, nesta semana, artigo escrito após a visita a Cuba, gerando polêmica nas redes sociais. Para Silva, Cuba é um regime totalitário, uma "enorme favela em meio ao paraíso caribenho", uma Grande prisão, em que "todos nascem condenados à prisão perpétua". Leia abaixo:
Na crônica DA semana passada, tentei, pela milésima vez, aderir ao comunismo. Usei todos OS chavões que conhecia para justificar o projeto cubano. Não deu certo. Depois de 11 dias na ilha de Fidel Castro, entreguei de novo OS pontos.
O problema do socialismo é sempre o real. Está certo que as utopias são virtuais, o não-lugar, mas tanto problema com a realidade inviabiliza qualquer adesão. Volto chocado: Cuba é uma favela no paraíso caribenho.
CUBA_submissão de estudantes

Submissão:estudantes DA Universidade Cubana esperam pelo discurso de Fidel Castro que dura  6 horas.
Não fiquei trancando no mundo cinco estrelas do hotel Habana Libre. Fui para a rua. Vi, ouvi e me estarreci. Em 42 anos, Fidel construiu o inferno ao alcance de todos. 
Em Cuba, até OS médicos são miseráveis. Ninguém pode queixar-se de discriminação. 
É ainda pior. 
Os cubanos gostam de uma fórmula cristalina: “Cuba tem 11 milhões de habitantes e 5 milhões de policiais”. 
Um policial pode ganhar até quatro vezes mais do que um médico, cujo salário anda em torno de 15 dólares mensais.
José, professor de História, e Marcela, sua companheira, moram num cortiço, no Centro de Havana, com mais dez pessoas (em outros chega a 30). Não há mais água encanada. 
Calorosos e necessitados de tudo, querem ser ouvidos. José tem o dom DA síntese: “Cuba é uma prisão, um cárcere especial. 
Aqui já se nasce prisioneiro. 
E a pena é perpétua. 
Não podemos viajar e somos vigiados em permanência. 
Tenho uma vida tripla: nas aulas, minto para OS alunos. 
Faço a apologia DA revolução. 
For a, sei que vivo um pesadelo. 
Alívio é arranjar dólares com turistas”.
José e Marcela, Ariel e Julia, Paco e Adelaida, entre tantos com quem falamos, pedem tudo: sabão, roupas, livros, dinheiro, papel higiênico, absorventes. 
Como não podem entrar sozinhos nos hotéis de luxo que dominam Havana, quando convidados por turistas, não perdem tempo: enchem OS bolsos de envelopes de açúcar. 
O sistema de livreta, pelo qual OS cubanos recebem do governo uma espécie de cesta básica, garante comida para uma semana. 
Depois, cada um que se vire. Carne é um produto impensável.
A pedestrian crosses a street filled with classic cars
95% DA frota de veículos de Cuba são modelos americanos 50/60.
José e Marcela, ainda assim, quiseram mostrar a Casa e servir um almoço de Domingo: arroz, feijão e alguns pedaços de fígado de boi. 
Uma festa. 
Culpa do embargo norte-Americano? 
Resultado DA queda do Leste Europeu? 
José não vacila: ‘Para quem tem dólares não há embargo. 
A crise do Leste trouxe um agravamento DA situação econômica. 
Mas, se Cuba é uma ditadura, isso nada tem a ver com o bloqueio’.
Cuba tem quatro classes sociais: OS altos funcionários do Estado, confortavelmente instalados em Miramar; OS militares e OS policiais; OS empregados de hotel (que recebem gorjetas em dólar); e o povo. 
‘Para ter um emprego num hotel é preciso ser filho de papai, ser protegido de um Grande, ter influência’, explica Ricardo, engenheiro que virou mecânico e gostaria de ser mensageiro nos hotéis luxuosos de redes internacionais.
Certa noite, numa roda de novos amigos, brinco que, quando visito um país problemático, o regime cai logo depois DA minha saída. 
Respondem em uníssono: “Vamos te expulsar daqui agora mesmo”. 
Pergunto por que não se rebelam, não protestam, não matam Fidel? 
Explicam que foram educados para o medo, vivem num Estado totalitário, não têm um líder de oposição e não saberiam atacar com pedras, à moda palestina. Prometem, no embalo das piadas, substituir todas as fotos de Che Guevara espalhadas pela ilha por uma minha, se eu assassinar Fidel para else.
Quero explicações, definições, mais luz. Resumem: “Cuba é uma ditadura”. Peço demonstrações: “Aqui não existem eleições. A democracia participativa, direta, popular, é um fachada para a manipulação. Não temos campanhas eleitorais, só temos um partido, um jornal, dois canais de televisão, de propaganda, e, se fizéssemos um discurso em praça pública para criticar o governo, seríamos presos na hora”.
Ricardo Alarcón aparece na televisão para dizer que o sistema eleitoral de Cuba é o mais democrático do mundo. 
Os telespectadores riem: “É o braço direito DA ditadura. 
O partido indica o candidato a delegado de um distrito; cabe aos moradores do lugar confirmá-lo; a partir daí, o povo não interfere em mais nada. 
Os delegados confirmam os deputados; estes, o Conselho de Estado; que consagra Fidel”.
CUBA_ruas
            Prédios da época anterior ao comunismo: abandono
Mas e a educação e a saúde para todos? 
Ariel explica: “Temos alfabetização e profissionalização para todos, não educação. 
Somos formados para ler a versão oficial, não para a liberdade. 
A educação só existe para a consciência crítica, à qual não temos direito. 
O sistema de saúde é bom e garante que vivamos mais tempo para a submissão”.
José mostra-me as prostitutas, dá os preços e diz que ninguém as condena: “Estão ajudando as famílias a sobreviver”. Por uma de 15 anos, estudante e bonita, 80 dólares.
CUBA_negocio proprio
   Tentando sobreviver com negócio. Privégio é ter telefone...
Quatro velhas negras olham uma televisão em preto e branco, cuja imagem não se fixa. Tentam ver “Força de um Desejo”. Uma delas justifica: “Só temos a macumba (santería) e as novelas como alento. Fidel já nos tirou tudo.Tomara que nos deixe as novelas brasileiras”.
Antes da partida, José exige que eu me comprometa a ter coragem de, ao chegar ao Brasil, contar a verdade que me ensinaram: em Cuba só há “RUMvoltados”.

2 comentários:

  1. A grande verdade que os nossos governantes sonham para o Brasil. Poderemos escapar desta triste realidade? Espero que sim. Parabenizo-o pelo blog. Nilda Paula

    ResponderExcluir
  2. Embora tenhamos políticos sujos no nosso país, precisamos de mantê-los no poder senão já teríamos virado Cuba. Por que será que o Governo Brasileiro mantém relações tão estreitas com Cuba? Dizem as más línguas que seria plano do Partido Vermelho transformar o Brasil inspirando-se em Cuba.

    ResponderExcluir