domingo, 25 de maio de 2014

Em busca da paz, Israel não tem alternativa senão agir unilateralmenete.

O Primeiro Ministro israelense disse a Jeffrey Goldberg, do canal de TV Bloomberg que Israel não quer agir de forma unilateral, mas que, com Mahamud Abbas da ANP não há como chegar a lugar algum e não há qualquer outra pessoa em Ramallah com quem possa negociar.
:: FRANCISCO VIANNA (da mídia internacional)
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O Primeiro Ministro Benjamin Netanyahu na cerimônia de premiação do Prêmio Genesis, no Teatro de Jerusalém, na quinta feira de ontem 22 de maio de 2014 (foto:Ohad Zwigenberg/Pool/Flash90).
Numa entrevista publicada ontem, Netanyahu deixou claro que “a liderança palestina não está disposta a fazer concessões para a paz”, levantando a questão da ineficácia das negociações diplomáticas até agora encetadas. Entrevistado por Jeffrey Goldberg, da TV Bloomberg de Nova Iorque, o mandatário israelense culpou o Presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina – um arremedo de estado mantido por dinheiro externo via ONU) pelo colapso das negociações de paz que chegaram ao impasse pela negativa obstinada de Abbas em reconhecer o estado de Israel como legítimo. Abbas, por sua vez, deu a entender que Israel deva considerar a adoção de medidas unilaterais em relação à Cisjordânia.
Netanyahu também apoiou a decisão da administração Obama de não atacar a Síria em agosto passado, chamando a remoção de armas químicas que se seguiu a "um raio de luz em uma região dominada pela escuridão".
Tais declarações de Netanyahu, que exibiram um tom pessimista com relação ao conflito árabe-israelense e à possibilidade do retorno à mesa de negociações para uma paz duradoura, foram as primeiras manifestações oficiais do governo israelense desde a suspensão dessas negociações, no mês passado.
“Levando-se em consideração que a guerra é apenas o resultado da falência da diplomacia, as negociações são sempre preferíveis. Mas seis Primeiros Ministros israelenses, desde Oslo, falharam nessa busca de uma solução negociada e chegamos a pensar que estávamos à beira do sucesso com Yasser Arafat e sua OLP (Organização para a Libertação da Palestina), mas no fim Arafat recuou, da mesma forma que Mahmoud Abbas recuou agora também, porque, na verdade, eles não têm o poder legítimo de concluir estas negociações. Não há hoje, de fato, uma liderança palestina legítima disposta a atingir o objetivo de uma paz duradoura. O ‘conjunto mínimo de condições’, que qualquer governo israelense julgaria necessário não pode ser satisfeito pelos palestinos, da mesma forma que os palestinos não têm condições mínimas de construir e manter um estado regular por seus próprios esforços".
Questionado sobre a possibilidade de uma retirada unilateral de Israel da Cisjordânia, Netanyahu reconheceu que a ideia ganha força em todo o espectro político, mas advertiu que Israel não irá se arriscar a produzir uma nova ‘Gaza’, que foi assumida pelo Hamas após Israel ter forçado a retirada dos assentamentos judaicos na pequena faixa litorânea, como um gesto de boa-vontade por parte de Tel Aviv. "Muitos israelenses estão se perguntando se há determinadas medidas unilaterais que pudessem, teoricamente, fazer sentido. Mas as pessoas também reconhecem que a retirada unilateral de Gaza não melhorou em nada a situação ou promoveu a paz", disse o Ministro.
Após o colapso das negociações em questão, depois de nove meses, deixa um rastro de recriminações de lado a lado que se recusam a viver de acordo com seus compromissos pré-estabelecidos antes do esforço diplomático.
Apoiado pelo Secretário de Estado dos EUA, John Kerry, no sentido de tentar manter as partes à mesa de conversações, Netanyahu culpou Abbas por não levar os americanos a sério. "O que Abbas fez? Nada. Ele simplesmente se recusou considerar os esforços de Kerry para tentar descomplicar e avançar sobre as questões centrais. Ele chegou a internacionalizar o conflito", disse ele, referindo-se à decisão do líder palestino para aplicar a 15 tratados internacionais, afirmando que Jerusalém quebrou um compromisso palestino de não se candidatar a um Estado na ONU.
Questionado sobre as atitudes palestinas em relação a Israel, Netanyahu disse: "Eu acho que a sociedade palestina é dividida em duas partes. A primeira clama abertamente pela destruição de Israel e a segunda se recusa a enfrentar essa solução extrema, mas se recusa também a enfrentar os demônios dentro de seu próprio campo. Em Israel, há um vigoroso debate sobre o que tal compromisso implicaria. Não existe tal debate na Autoridade Palestina. Não falo sobre o Hamas. Falo sobre os chamados moderados que se recusam a debater sobre as ‘condições mínimas necessárias’ para uma paz duradoura, não apenas a partir do ponto de vista de qualquer governo israelense, mas também sob o ponto de vista de qualquer israelense, seja ele judeu ou não. Esperam apenas que saiamos e fechemos os olhos para arrancarem os nossos assentamentos da Cisjordânia. Bem, eu estive lá, e fiz isso em Gaza. Nós fizemos isso em Gaza. E o que temos não é a paz, mas o lançamento de foguetes contra populações civis israelenses próximas à fronteira".
Netanyahu também descartou um congelamento dos assentamentos: "Não acho que tal congelamento iria funcionar", disse ele. "Após ter tentado uma vez, vi que isso não funciona. Os americanos disseram que “a única maneira de Abbas retornar às negociações seria a libertação de prisioneiros ou o congelamento dos assentamentos na Cisjordânia, portanto, escolham”. Nós escolhemos a libertação de prisioneiros, mas deixamos tudo muito claro, para os EUA e para os palestinos, exatamente o quanto iríamos construir, inclusive em Jerusalém. E construímos exatamente o que dissemos que iríamos construir em cada um desses locais. Não surpreendemos quem quer que seja com construções extras".
Netanyahu ressaltou o desejo de resolver o conflito palestino ao dizer: "espero que possamos resolvê-lo, para o nosso bem. Espero isso porque não acredito e não queremos um Estado binacional. Espero resolver o conflito porque gostaria de ter relações mais amplas e mais abertas com o mundo árabe e também para acabar com os ataques injustificados contra Israel. Mas estamos a avançar nesse sentido apesar de tudo. Não vamos hipotecar o nosso futuro para o amadurecimento da política palestina".
Referindo-se à Síria, Netanyahu disse que apoiou a decisão do presidente dos EUA, Barack Obama, de não atacar Damasco depois de um ataque químico devastador, dizendo: "Apreciei o esforço" para forçar o atual Presidente sírio, Bashar Assad, a desistir de seu arsenal químico. No entanto, ele observou que Assad não renunciou a todos os seus braços, e que isso preocupa Israel. "Estamos preocupados com a possibilidade de Damasco não ter declarado todo o seu arsenal químico. Mas o que foi removido foi removido. Estamos falando, acredito, de cerca de 90 por cento dele”, disse ele.Netanyahu destacou as diferenças de opinião com o governo Obama sobre como lidar com o programa nuclear do Irã. Reiterou que ao Irã deve ser negada a capacidade de armas nucleares, com o desmantelamento de sua capacidade de enriquecimento, enquanto os EUA dizem apenas que o Irã deve ser negado uma arma nuclear. Mas o Primeiro Ministro também elogiou a cooperação com a defesa feita pelos EUA, coisa que não tinha conseguido do ex-secretário de Defesa Chuck Hagel, visto por alguns como antissionista, antes de ter tomado posse.
"A relação tem sido verdadeiramente boa. Nossa cooperação de defesa e partilha de informações, que têm sido substanciais para ambos os países, e nosso trabalho em antimísseis e de defesa antifoguete terem sido muito bons... Mas, apesar disso, não se pode dizer que não podemos ter diferenças de opinião sobre o Irã". 
A entrevista foi publicada hoje em Israel, horas depois de Netanyahu ter agraciado o ex-prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, dono do império de notícias Bloomberg, com o prêmio Gênesis no valor de US $ 1 milhão. Bloomberg, um bilionário, disse que vai doar o prêmio para a caridade.

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