segunda-feira, 25 de julho de 2011

A consiência no purgatório.

Por Arlindo Montenegro
A vida é frágil. Mais frágil ainda quando o estado, vai se apoderando de todas as iniciativas que interpõem limites às liberdades responsáveis e privacidade das pessoas. Por sua vez, age como ladrão de galinhas porque não assume a responsabilidade pelo que resulta de seus atos e tornou-se rotineiro nos noticiários que agridem a consciência dos brasileiros: desabamentos, roubalheira cínica e continuada, assassinatos, enriquecimento meteórico de amigos do governo e ocupantes de cargos públicos, a isca dos créditos fáceis que criam a ilusão de progresso econômico, acorrentando a nação aos juros mais elevados do planeta... e vai por aí.
O governo toma as iniciativas arbitrárias tirando o próprio corpo e livrando a cara dos amigos da famiglia mafiosa, que age ridicularizando as leis, os magistrados, os congressistas, as instituições. Sem admitir, nem mesmo corrigir erros flagrantes, os que integram e apóiam o governo tripudiam sobre a consciência da nação. Qualquer serviçal direto da máquina estatal totalitária, pode, se quiser, praticar e acobertar crimes continuados, livre e impunemente. A responsabilidade que a liberdade de agir pressupõe está fora das cogitações daqueles privilegiados que massacram a consciência da nação.
A vida frágil resiste aos trancos e barrancos e mesmo assim ainda conserva momentos de beleza e plenitude no riso das crianças, nos sons e manifestações da natureza, nas cores e nos sabores, no abraço amigo, no enlace amoroso, na esperança teimosa e nas muitas iniciativas individuais e privadas que agem como resistentes ignorando as normas impostas. Resiste na fé dos simples e até mesmo simplórios iludidos pelos mercadores da fé, hipócritas que se autodenominam iluminados, para propagar comportamentos deturpados durante os milênios, afastando-se dos caminhos para que os homens atinjam a paz interior no contato com sua mesma origem cósmica.
Todas as religiões mais conhecidas – budismo, hinduísmo, judaísmo, cristianismo, islamismo - afastaram-se de suas origens e somando erros e interpretações, afastaram-se da direção e fortalecimento espiritual que alimenta a liberdade responsável. Retocando e modificando os ensinamentos originais, os conteúdos religiosos assumiram na prática a condição de organizações ocupadas com a política e economia a serviço do estado.
Liberdade, responsabilidade, ética e moralidade, que um dia, em nome da fé na justiça divina limitaram algumas arbitrariedades, hoje estão ausentes de qualquer prática dos agentes do estado. As religiões foram deliberadamente utilizadas para confundir a consciência, afirmando a ignorância e embaralhando a razão. É bastante ver e ouvir o discurso voltado para a submissão, ameaças e falsos milagres que cada uma destas organizações fustiga na cara da gente, alimentando mitos e culpas para ampliar espaços de poder persuasivo e material, afastando as pessoas de reconhecer em si mesmas e nos outros a imagem e semelhança do criador, fonte de força, serenidade e verdadeiro equilíbrio. É a fé nos medos, nos mitos e nas culpas espirituais, povoando currais onde os “donos da palavra” disputam maiores levas de seguidores, distanciados da ética e moral de um Francisco de Assis.
No meio de tanto vozerio e alucinação buscar a verdade é uma das tarefas mais penosas para o espírito humano. Existem até os que encenam expulsar demônios, curar doenças, ressuscitar mortos, como se investidos de poderes divinos ou poderes de super homens irreverentes e pretensiosos, hábeis em agredir a ignorância limitando os espaços de ação, exercício da razão e liberdade dos homens. Sem enrubescer, limitam a confortadora concepção do ser supremo a uma caricatura ambivalente.
Mas tudo isto já foi contado, escrito e interpretado em todas as latitudes. O fato é que os grandes pensadores, como Tomás de Aquino foram banidos da cena e da influência como perscrutadores da verdade original. Foi ele mesmo quem deixou a Summa Theologica inacabada, para que seus pares a completassem. Pouco antes de morrer, escreveu:
“Acabaram-se meus dias de escritor, pois me foi revelado que tudo quanto escrevi e ensinei tem pouca importância para mim. Espero em Deus, que do mesmo modo como meus escritos chegaram ao fim, chegue em breve o fim de minha vida.”
A revelação de Tomás parece cada vez mais distanciada da compreensão dos homens, que têm sido conduzidos pelo estado e por pretensos religiosos obedientes ao estado, para terrenos cada vez mais distanciados de si mesmos e da compreensão e encontro com a energia que move cada um, que move o Universo. Cada vez mais distanciados da natureza em sua plenitude. Cada vez mais encalacrados no submundo do que denominam civilização. Tudo começa com a educação que antecede direitos a deveres humanos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário