Em lua de mel com o governo do Paraguai, líderes dos agricultores brasileiros que vivem no país vizinho saíram em defesa do presidente Federico Franco. Para o assessor de Assuntos Internacionais da Presidência do Brasil, Marco Aurélio Garcia, os "brasiguaios" estão sendo usados por Franco como forma de pressionar pelo cancelamento da suspensão do país do Mercosul e da Unasul (União de Nações Sul-Americanas).
A suspensão do Paraguai desses organismos dura desde o impeachment relâmpago do ex-presidente Fernando Lugo, em junho último, visto pelos vizinhos e parceiros de bloco como um golpe institucional.
O último episódio de atrito entre Brasil e Paraguai começou na quarta-feira passada, quando Franco atendeu a um convite dos brasiguaios, alinhados a ele desde a troca de governo, para visitar a cidade de Santa Rita, onde vive uma grande comunidade de agricultores brasileiros. Ali, Franco recebeu manifestações de apoio, disse que sua relação de amizade era com o povo brasileiro, não com o governo, e enviou um recado à presidente Dilma Rousseff.
"Eu faço votos para que a senhora presidente [Dilma] escute seus compatriotas, vizinhos, e que possa escutar os cidadãos paraguaios de origem brasileira que vivem aqui", afirmou ele. "Depois de escutá-los, ela poderá entender que o que aconteceu aqui foi uma mudança de governo como consequência de um julgamento político e constitucionalmente aceito."
A reação brasileira veio dois dias depois, por meio de Garcia, ao ser questionado por repórteres em Brasília sobre o encontro. "Não gostaríamos que cidadãos brasileiros ou de dupla nacionalidade fossem instrumentalizados em função de política nacional", afirmou ele.
O comentário do assessor da presidente fez os brasiguaios saírem em defesa do presidente Franco. No mesmo dia, eles soltaram uma nota repudiando a declaração. "A comunidade imigrante não está nem se sente utilizada de nenhuma forma pelo novo governo do presidente Federico Franco, por ter em conta a situação de paz que se encontra em seu trabalho diário nos dias atuais", diz o documento.
A paz a que se refere o documento está na sensação entre os brasiguaios de que Franco atua para conter as invasões de suas terras, algo que, na opinião dos agricultores, o ex-presidente Lugo estimulava. "No governo Lugo, o imigrante era perseguido, as invasões de terra eram constantes e as ordens de desocupação não eram obedecidas", disse o agricultor Darci Bortoloso, presidente da cooperativa Copronar e há 35 anos no Paraguai, um dos signatários da nota. "O ambiente agora é mais tranquilo, de trabalho, união, sem ódio entre brasileiros e paraguaios."
Outro signatário, Juacir Reposse, agricultor que recebeu o presidente Franco em um almoço em sua casa, em Santa Rita, faz duras críticas ao Brasil por sua postura diante do atual governo paraguaio. "A presidente Dilma nos deu um chute na bunda", disse ao Valor. Para ele, Dilma e os presidentes Cristina Kirchner, da Argentina, e José Mujica, do Uruguai, só criticaram a troca de governo "porque Lugo era da linha deles, de guerrilheiros".
Reposse é um dos fundadores de Santa Rita, município com 30 mil habitantes, dos quais 90% são brasileiros ou descendentes, de acordo com ele.
Estima-se que vivam no Paraguai cerca de 400 mil brasileiros. Eles são responsáveis por aproximadamente 70% da produção de soja, principal produto de exportação do país.
*Por Fabio Murakawa, no Valor Econômico
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