Dentro de duas semanas a Venezuela decide quem vai comandar o país a partir de 2013. E o governo Dilma Rousseff descobrirá, então, com quem terá de negociar o impasse em torno de interesses do Brasil, cujo valor somado em contratos supera US$ 40 bilhões - metade num único empreendimento binacional no setor de petróleo.
Há dias discute-se em Brasília a conveniência de Dilma receber o candidato da oposição, Henrique Capriles. Aos lamentos de Chávez, o governo tem contraposto a interferência aberta de Lula e do PT em apoio ao presidente venezuelano.
Há muito tempo a relação entre Lula e Chávez ultrapassou os limites das afinidades pessoais e políticas, avançando para a fronteira dos negócios. Por exemplo: numa rápida visita a Caracas, no ano passado, Lula conseguiu de Chávez algo que até então parecia quase impossível a empreiteiros brasileiros: o desbloqueio de US$ 700 milhões em pagamentos pendentes.
Juntos, em 2005, eles construíram uma fantasia em torno de um empreendimento estratégico para o Brasil - a construção da primeira refinaria de petróleo da Petrobras depois de três décadas. Ela é essencial ao país, cujo consumo de derivados tem previsão de crescimento à média de 4% ao ano até 2020. Na luta pela reeleição, Lula usou a Petrobras para expandir sua base eleitoral no Nordeste. Anunciou a construção de três refinarias - em Pernambuco, no Ceará e no Maranhão. Saiu da eleição com 77% dos votos válidos nordestinos (20 milhões de eleitores garantiram-lhe 33% da votação nacional, algo sem precedentes). Chávez, no seu devaneio por reconhecimento como líder continental, usou a estatal PDVSA para se associar a Lula no projeto pernambucano.
Das três refinarias, só a de Pernambuco saiu do papel. Começou como um negócio de US$ 2 bilhões, o custo foi multiplicado por dez, a sócia venezuelana (a estatal PDVSA) hesita até hoje e o resultado é um buraco de mais de US$ 21 bilhões nas contas da Petrobras, segundo a estatal brasileira.
Nos últimos dias, a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, tentou explicar no Congresso o impasse. “Nós temos um erro básico”, disse a presidente da Petrobras no Senado.
“Esse projeto”, continuou ela, “foi concebido para ser um projeto de dois ‘trens’ (no jargão do setor, duas linhas de produção): um de refino dedicado à PDVSA, com óleo mais pesado da PDVSA; um ‘trem’ dedicado ao refino do óleo mais leve da Petrobras. Esse projeto só faz sentido sendo um projeto binacional, Brasil-Venezuela.”
Ela contou que perdeu a conta dos prazos dados ao governo Chávez para assinatura do contrato. Há registro de pelo menos dez, desde 2005. “O último prazo que eu negociei”, disse, “foi um prazo que vai até novembro.” E se o impasse persistir? “Se chegar novembro, e eles não apresentarem as garantias vou discutir um novo prazo”, respondeu. “Não quero que eles digam: ‘não, não vou’. Quero que eles digam: ‘sim, eu vou’. Eles precisam vir porque essa refinaria foi projetada pela Petrobras e pela PDVSA. Ela tem um custo por trabalhar com dois óleos. A PDVSA precisa vir para ser sócia, porque essa refinaria foi projetada para dois petróleos. Esse petróleo único é que vai otimizar todo o refino.”
Reconhecida a sinceridade da presidente da Petrobras, restou à plateia de parlamentares uma certeza: o Brasil ficou refém da Venezuela.
Há um buraco de US$ 21 bilhões nas contas da Petrobras e predominam incertezas sobre o mercado brasileiro de derivados de petróleo, cujo futuro depende da Venezuela.
*José Casado mundo.online@oglobo.
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