Por Ricardo Noblat
Tem rabo de gato. Focinho de gato. Olhos de gato. Pelo de gato. Mia como um gato. Mas está longe de ser um gato, segundo a malta dos que nada veem demais na escolha em tempo recorde do ministro Teori Zavascki para a vaga do ministro Cezar Peluso no Supremo Tribunal Federal (STF).
E também na pressa com que estão sendo tomadas as providências para que ele assuma o cargo o mais rapidamente possível.
Porta-vozes formais e informais da presidente Dilma Rousseff juram por todos os santos que longe dela a vontade de interferir de alguma forma no julgamento do processo do mensalão. Pelo contrário.
Ela quer distância do processo, de sua repercussão e das futuras consequências. Mensalão é herança pesada deixada pelo governo anterior. Dilma jamais dirá isso, é claro. Nem em sonho. Mas é assim que pensa. Logo...
Logo por que se envolveria com manobra esperta indicando um ministro para influir no resultado das votações do processo? Ou pior: para tentar adiar o julgamento como sempre foi desejo expresso de Lula, avalista e tutor político de Dilma?
Não. Ela saltaria na jugular de quem lhe sugerisse tais coisas abjetas. Até mandou espalhar a história de que escolheu Teori sob a condição de ele não votar no julgamento do processo. Escolheu-o para não ser obrigada a engolir alguém que Lula lhe apontasse.
Mas a escolha foi relâmpago. (Miau!) Dois dias depois de anunciada, Teori começou a bater perna dentro do Senado atrás de votos. (Miau! Miau!)
Renan Calheiros (PMDB-AL), candidato a presidente do Senado, pediu para relatar a indicação de Teori. (Miau! Miau! Miau!)
Esvaziado pela eleição, o Senado foi convocado para aprovar esta semana o nome do terceiro ministro que Dilma emplacará no STF. (Miau! Miau! Miau! Miau!)
Dilma levou seis meses para remeter ao Senado o nome do atual ministro Luiz Fux. No caso da ministra Rosa Weber, três meses. Gastou apenas 11 dias para remeter o de Teori.
Lula telefonou para ela antes de Peluso se aposentar. Quis saber em quem ela pensava para a nova vaga de ministro. Dilma respondeu que se o advogado Sigmaringa Seixas concordasse seria ele.
Sigmaringa é amigo de copa e cozinha de Lula. Nunca topou ser ministro do STF. Nas duas vezes em que foi sondado ainda durante o governo Lula, alegou que lhe falta "notório saber jurídico" como exige a Constituição.
Excesso de rigor! Tem ministro no STF que já foi reprovado duas vezes em concurso para juiz de primeira instância. Sigmaringa foi um dos fiadores junto à Dilma da indicação de Teori. Outro fiador: o ministro Gilmar Mendes.
Teori tem fama de homem sério. Por sério não se prestaria a ser peça de uma jogada política. Sua seriedade, porém, o impediria de retardar o exame do seu nome pelo Senado.
Uma vez no STF deixaria de ser sério só por estar disposto a exercer de imediato a função de juiz? Absurdo!
De resto, que juiz sério votaria sem antes estudar o que tivesse de votar? Para estudar, só pedindo vistas do processo. (Miau! Miau! Miau! Miau! Miau!)
Sentado numa daquelas cadeiras do plenário do STF, envergando a toga que parece conferir ao seu usuário a aura de homem sábio e correto, um ministro não deve satisfações a ninguém. Somente a Deus, se acreditar nele, e à sua consciência.
Cada um à sua maneira, é assim que procedem, por exemplo, os ministros Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski, as duas peças-chaves do processo do mensalão.
Ambos ganharam assento no STF graças a Lula. Joaquim por ser negro e ter o melhor currículo entre os juristas negros disponíveis na ocasião. Lewandowski por ter um bom currículo e ser dileto amigo da família de dona Marisa, a ex-primeira dama.
Lula está furioso com a independência de Joaquim e satisfeito com o bom comportamento de Lewandowski, a quem visitou em casa antes do julgamento começar.
Não cobrem de Lula apego férreo ao princípio da separação dos poderes. Lula concorda com todos os princípios que balizam o sistema democrático desde que não lhe sejam adversos. Desde que possa ignorá-los sempre que lhe convier e sem prejuízo para sua imagem.
O mensalão atingiu em cheio a soberania do Legislativo. Pagou-se caro por apoios ao governo. Lula foi contra o suborno de deputados? Disse que não sabia.
Marcos Valério acusou Lula de ter chefiado o esquema do mensalão. Em entrevista à VEJA, deu a entender que Lula só não caiu porque ele, José Dirceu e Delúbio Soares jamais contaram o que sabem.
Lula respondeu o quê? Nada. Acusação tão grave ficou sem resposta dele.
O que Lula teme? Que Valério, uma vez confrontado por ele, faça novas revelações? E que elas acabem forçando a Justiça a processá-lo?
Acionados por Lula, o PT e partidos aliados acusaram setores conservadores da sociedade de pressionarem o STF para que faça do julgamento do mensalão um meio de “golpear a democracia”.
Santo Deus! Sandices! Um monte de sandices que aos ignorantes impressiona e aos mais fracos assusta. Como se o STF fosse formado por um monte de tontos.
A presidente da República é Dilma. Que desfruta, hoje, do sólido apoio dos seus governados. Em que parte do mundo conhecido já se ouviu falar de ameaça de golpe contra ex-presidente?
O PT denuncia a iminência de um golpe contra Lula! Ahahahahah!
O PT está no poder há 10 anos. Oito dos atuais 10 ministros do STF devem o emprego a Lula e à Dilma. E no entanto... Tem um golpe em marcha contra Lula! Ahahahahah!
À distância ouve-se o barulho das esteiras dos tanques nas estradas asfaltadas que convergem para São Bernardo, onde Lula mora.
No país da jabuticaba, golpe contra ex-presidente é coisa nossa, e somente nossa! Quanto a golpe a favor de ex-presidente... Miau!
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