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“Nicolás perdestes, marionete de Castro”, é o que diz o grafite denunciando uma possível – e provável – fraude nas eleições presidenciais da Venezuela. Grafitagem como essa, está surgindo em muitos lugares em Caracas.
O regime autoritário encastelado no Palácio Miraflores, em Caracas, parece disposto a cruzar a linha vermelha limite, de não retorno, e abandonar qualquer resquício de aparência de democracia na Venezuela, ao planejar e tomar as primeiras providências para levar à prisão o líder da oposição Henrique Capriles – “derrotado” por uma diferença mínima nas eleições de 15 de abril para suceder ao falecido presidente Hugo Chávez – e, assim, silenciar as vozes dos deputados no Congresso e dar a Maduro carta branca para a repressão política.
Tais providências tomadas pelo regime Caracas acontecem num momento em que o governo enfrenta uma crise de legitimidade, com o país amplamente dividido, e a oposição questionando os resultados das “urnas eletrônicas” de domingo último e que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) declarou terem sido vencidas pelo pelego designado por Chávez, Nicolás Maduro, por uma margem inferior a dois pontos percentuais.
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Grafite por sobre propaganda eleitoral governista num muro de rua em Caracas denuncia como sendo fraudulentos os resultados das eleições.
Todavia, a possível e até provável prisão potencial de Henrique Capriles, somada às crescentes dúvidas emergentes sobre a legitimidade do novo mandato de Maduro, poderá incluir, definitivamente, o atual regime venezuelano na lista reservada às ditaduras. “Maduro já tinha ocupado a presidência interina de forma ilegítima ao ser nomeado de forma inconstitucional como presidente em exercício, quando o cargo deveria ter sido preenchido por Dualdo Cabello, presidente da Assembleia Nacional (Parlamento)”, disse o ex-embaixador do Panamá junto à OEA, William Cochez. Falando pelo telefone, Cochez disse ainda que: “agora a coisa é diferente e ainda mais grave, do que quando se apossou do cargo, uma vez que a democracia venezuelana estava enferma. Maduro, então, usurpou o poder em 10 de janeiro e a ilegitimidade do regime desde então só vem se agravando. A democracia, agora, está agonizante e vivendo seus últimos e tristes momentos no país”.
Maduro enfrenta o clamor de mais da metade da população do país para que autorize a recontagem dos votos depositados nas eleições de domingo, em meio às acusações da oposição de que as mais de 3 mil irregularidades detectadas podem ter de fato mudado o verdadeiro resultado da votação.
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Ontem, quarta feira, uma jovem passa em frente a um muro grafitado que denuncia a fraude nas eleições presidenciais da Venezuela no último domingo.
No entanto, as demandas em prol de uma recontagem dos votos foram enfrentadas nesta semana pela repressão policial às manifestações de protesto que os opositores realizavam pacificamente em diferentes cidades do país, ações truculentas que causaram a morte de pelo menos sete pessoas. As ordens foram dadas por Maduro ao obediente sistema judicial venezuelano para que este abra processos contra Capriles, o candidato oposicionista.
Por incrível que pareça, o governo ‘bolivariano’ quer prender Capriles sob a acusação de ser o responsável pela violência exercida pelos organismos estatais de ordem pública. “Vão acusá-lo de crimes de incitação popular à rebelião, de causar desordens públicas e fechamento de vias públicas. Além disso, será investigado pelas mortes e lesões corporais infligidas pela polícia do sistema nos protestos de anteontem”, disse um informante que falou sob anonimato.
O regime socialista de Caracas pretende, assim, silenciar o crescente clamor popular em prol de uma recontagem de votos, que segundo o CNE “é impossível de ser feita nas urnas eletrônicas”, de fabricação brasileira e que não emitem comprovante impresso dos votos, embora sejam projetadas para fazê-lo, o que tem sido considerado por muitos, inclusive no Brasil, como fator causador de fraudes eleitorais pelo sistema eletrônico.
Enquanto isso, Washington já mandou avisar que não reconhecerá o governo de Maduro, caso as suspeitas de fraude eleitoral não se dissipem através de uma recontagem dos votos. Maduro, por sua vez, disse que não está nem aí para o reconhecimento estadunidense do resultado da eleição.
Hoje, em caráter de urgência, foi convocada uma reunião dos principais líderes sulamericanos, a ser realizada em Lima, no Peru, para apreciar a situação institucional que a Venezuela atravessa. Imaginem o que essa reunião pode decidir...
*Texto de Francisco Vianna, com imprensa internacional, por e-mail, via Grupo Resistência Democrática
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