Marco Aurélio Top Top Garcia confessa: a esquerda vende ilusões baratas, mobiliza os votos e depois não entrega o que promete. Mas a culpa não é dela, não! O valente participou de um seminário promovido no Rio pela Flacso (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais), órgão criado em 1957 pela Unesco, com representação em 12 países da América Latina.
Segundo Marco Aurélio, a esquerda “tem mais votos do que idéias”. Ele não deixa de ter seu momento de sinceridade. Esse vazio seria preenchido, segundo este pensador, pelas teses conservadoras. Talvez a coisa mereça a seguinte tradução: “A gente ganha eleição com o nosso programa e governa com o programa dos nossos adversários”.
Vocês conhecem experiência parecida? E agora atenção para o salto: Top Top tem os culpados por esse vazio e pelo triunfo das teses dos seus “adversários”: a “mídia” — sempre ela! —, que se comportaria como um partido político. Agora entendi. Generoso, ele afirma ser contra o “partido único”. É bom saber que ele nos concede essa folga. Mas diz querer pluralidade da informação, o que, em petês, quer dizer “controle da imprensa” ou, no mínimo, a organização de uma imprensa atrelada aos interesses dos “progressistas”, sinônimo, para eles, de “petistas”. É o que está em curso hoje em dia. O governo federal tem sido muito generoso com o subjornalismo a favor.
Não é a primeira vez que Marco Aurélio, com a clarividência habitual, reflete sobre a importância dos meios de comunicação na formação das massas. Ele já chegou a comparar as TVs a cabo no Brasil à Quarta Frota. Assim como aquela vigiaria, sei lá eu, o “espaço vital” dos EUA, as TVs por assinatura cumpririam a missão de colonizar as mentes dos abestados brasileiros, que precisariam, obviamente, de um governo forte que vigiasse o setor para não deixar os nativos entregues às influências alheias à nossa natureza. Isso me lembra a antiga linguagem anticomunista, agora com sinal invertido. Dizia-se, então, que havia grupos que atuavam contra “a índole pacífica do nosso povo”. Top Top está convencido de que a influência americana contrasta com, sei lá, talvez a “índole socialista do nosso povo”…
Outra preocupação deste gigante intelectual é criar valores para a classe média ascendente. Top Top teme que a melhoria das condições de vida dos brasileiros pobres — que, obviamente, não começou no governo Lula — acabe tornando a população mais conservadora, o que sempre acontece (desde que os conservadores tenham a coragem de mostrar a cara, mas essa é outra questão). Ele quer que essa classe média ascendente tenha acesso a “bens culturais” assim como pode comprar um tênis Reebok. Entendi. Acho que precisamos dar início a uma campanha: “Troque seu Reebok por uma aula da Marilena Chaui em horário nobre”.
Essa Flacso é um Jurassic Park ideológico. No Brasil, é comandado pelo argentino Pablo Gentili, um “especialista” na crítica à “visão neoliberal de educação”. Há alguns vídeos dele na YouTube, plenos de humor involuntário. Emir Sader é o principal conselheiro e responsável pela Escola Latino-Americana de Políticas Públicas e Cidadania. Bem, pelas pegadas, vocês já podem imaginar o tamanho do gigante.
*Por Reinaldo Azevedo http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/
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