sexta-feira, 19 de outubro de 2012

A insensibilidade moral dos mensaleiros.

A reação de José Dirceu e José Genoíno à condenação pelo STF, no caso do mensalão, merece uma reflexão.
Nivaldo Cordeiro


Eles não apenas repudiam a sentença, mas o julgamento em si, como se aquele tribunal fosse de exceção e eles vítimas de perseguições políticas.


Para ambos, realizar o que se chamou de mensalão não passou de ato de rotina daqueles que chegaram ao poder pelo voto, como se isso os tornasse plenipotenciários e acima do bem e do mal. Com o mensalão, fizeram apenas uma atalho para realizar a vontade do novo príncipe. A oposição legislativa era uma chateação e um obstáculo a ser superado, em face das limitações que impunha ao exercício do poder. Comprar os votos foi o caminho mais curto para fazê-lo.

Estamos aqui diante da mais crua convicção de que os fins justificam os meios. É a mesma ética deformada dos revolucionários que, nos anos sessenta, ousaram tomar armas contra o Estado brasileiro. Tudo em nome da missão messiânica que foi dada a si mesmos por eles.

É problema menor que ambos sejam essa frieza moral petrificada, que lhes veda o sentimento de culpa. O problema maior é perceber que parte ponderável da população endossa essa visão vitimizada da dupla. A prova mais dura dessa realidade é a pesquisa do Datafolha, que indica intenção de votos em Fernando Haddad, no segundo turno para a prefeitura de São Paulo, com consagradores 47%. Aqui podemos dizer que o crime revolucionário compensa e que os fins justificam os meios de fato.

Vemos que um dos mais perversos frutos da revolução gramsciana que se desenvolve há décadas é esse embotamento moral, em que as pessoas deixam de saber diferenciar o certo do errado, o moral do imoral, o legal do criminoso. A imoralidade virou movimento de massas no Brasil, em movimento semelhante ao que se verificou na Alemanha de Hitler, tão belamente descrito no romance As Benevolente, de Jonathan Littell. O Brasil, como a Alemanha de outrora, está prenhe de violência revolucionária. Basta conversar com os partidários de Fernando Haddad sobre o mensalão e suas consequência para se ver o ódio espumante que carregam. Essa gente com poder total fará pior que nazistas.

A imoralidade como movimento de massa, como desdém à ordem legal constituída e a implícita delegação para que o partido dominante faça a sua agenda, a despeito das leis, é doença psíquica grave, de potenciais consequências nefastas. Por sorte o STF deu demonstração de vitalidade, dando a impressão de que a elite estamental do Estado ainda mantém um mínimo de lucidez. Mas bem vimos ministros lamentarem ter que infringir sentença a José Genoíno e mesmo a José Dirceu, por carregarem supostamente uma bela biografia de revolucionários. Apavorante.

O que nos livra da barbárie final por enquanto é a legalidade e sua implícita moralidade. Mas é uma força frágil, que depende da inteireza moral dos governantes. Estamos vendo que essa condição moral está sendo pedida, mormente se Fernando Haddad se eleger prefeito de São Paulo em pleno julgamento do mensalão.

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