sábado, 27 de outubro de 2012

O apagão adverte: Dilma pode ser engolida pela escuridão que Lula fingiu ter revogado.



Por Augusto Nunes
Desde janeiro de 2008, quando virou ministro de Minas e Energia por vontade de José Sarney, Edison Lobão rebatizou de “interrupções no abastecimento de eletricidade” o que os brasileiros comuns chamam de apagão.

Em 3 de outubro, quando mais uma das sucessivas panes no sistema de transmissão de energia escureceu as regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste, coube a Hermes Chipp, diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), recorrer a truques semânticos para fazer de conta que o que ocorreu não havia acontecido.

“O que aconteceu foi um ‘apaguinho’ e não um apagão, como o de 2001″, fantasiou Chipp. “Esse durou pouco tempo”. Por analogia, também não passara de “apaguinho” o blecaute que, dois meses antes, afetara a região Nordeste.

Ao construir o Brasil Maravilha que Dilma Rousseff vem aperfeiçoando, Lula avisou que resolvera proibir aquele tipo de escuridão inventado por Fernando Henrique Cardoso. Como os apagões continuaram, Lula ordenou que mudasse de nome.
Alguém esqueceu de avisar o ministro interino Márcio Zimmermann, surpreendido na madrugada desta sexta-feira pelo sumiço da energia elétrica em todos os nove estados do Nordeste e em parte da região Norte.

O substituto de Lobão também evitou a palavra proibida: nas entrevistas que concedeu, apagão virou “evento”.

Mas, pela primeira vez, uma autoridade do governo não fez de conta que a situação é tão boa que, se melhorar, estraga.

“Há uma diminuição de confiabilidade no sistema elétrico brasileiro”,
gaguejou Zimmermann. “O quadro não é normal”. Já é alguma coisa. Mas é quase nada.

O que o ministro interino qualifica de anormal pode ser a antessala do colapso. Ministra de Minas e Energia entre 2003 e 2007, Dilma Rousseff limitou-se a remendos e palativos, enquanto Lula garantia na discurseira de todo dia que o sistema de abastecimento e transmissão estava perto da perfeição.

A troca de Dilma por Edison Lobão serviu apenas para reafirmar que, no Brasil, o que está péssimo sempre pode piorar.
Em 2001, Fernando Henrique admitiu a existência de carências graves e enfrentou a crise sem malandragens de palanqueiro.

Lula e Dilma preferiram varrer o problema para baixo do tapete.

Vão acordar no meio da escuridão.

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