A agência de
notícias ‘The Associated Press’ publicou recentemente uma
matéria que mostra o fenômeno relatado pelo título deste pequeno artigo, da
qual seleciono duas fotos emblemáticas incluídas em seu texto.
De repente, em
Havana, um grande estrondo, como um trem passado perto ou mesmo como uma
explosão, acorda de sobressalto a vizinhança da área de Oquendo 308, no
populoso bairro do Centro da cidade. Uma parte do sétimo andar de um velho
edifício desmoronou para dentro do pátio interno, danificando os apartamentos
de baixo. Por sorte, ninguém morreu, mas cerca de 120 famílias que moravam no
prédio ficaram ao relento sem local para habitar.
Apesar dos
terremotos serem ocorrências extremamente raras em Cuba, tais desmoronamentos
costumam acontecer com frequência em especial em Havana, a capital do
país.
É claro que isso
não ocorre nas protegidíssimas áreas onde se situam as residências da pequena
alta burguesia que governa a ilha com mão de ferro. Os desmoronamentos
acontecem onde, por décadas, a falta de manutenção dos prédios e a escassez
socialista da construção civil estatal consistem nos principais problemas
sociais da ilha, sem que até agora seus governantes se disponham a realizar as
reformas prometidas pelo populismo demagógico do novo ‘ditador da vez’ da
dinastia dos Castros, o novo ‘comandante’ Raúl Castro.
De catástrofe em
catástrofe, os sujos refugiados se amontoam em bivaques em parques públicos da
cidade como uma forma de pressionar o governo a lhes providenciar novas
moradias. Enquanto isso, outras famílias passam a morar com parentes ou
aceitam ser levadas para ‘albergues provisórios do governo’, onde vivem
amontoadas já há anos numa espera infrutífera por uma casa própria doada pelo
regime.
No fim de 2011,
Castro “legalizou o mercado” de bens duráveis na ilha – pela primeira vez em
cinco décadas – sob argumentos dentre os quais se destacou o de que a nova
legislação estimularia a construção civil de novas moradias e as reformas das
antigas. Os resultados, até hoje, no entanto são pífios e “o déficit
habitacional poderia ser ainda maior caso a avaliação fosse baseada na
própria definição do governo daquilo que constitui uma ‘moradia adequada’
(tantos metros quadrados, com banheiro e cozinha interna, e etc.)”, nas
palavras do pesquisador Sergio Díaz-Briquets, doutor em demografia da
Universidade da Pensilvânia, nos EUA. De acordo com ele, as estimativas da
carência habitacional em toda a ilha estariam entre 800.000 a um milhão de
moradias. Segundo o Escritório Nacional de Estatística e Informação (ENEI), a
ilha dispõe de um total de 3,8 milhões de “unidades de alojamento” (residências
ou apartamentos).
Com um pacote de
reformas que incluiu a mencionada modificação da lei que regula a compra e a
venda de bens duráveis, as autoridades do regime insular começaram a por em
ação um plano de subsídios às famílias para ampliar, reformar ou terminar suas
casas.
O Vice Primeiro
Ministro da Construção Civil, Angel Vilaragut, explicou que “a medida visou
buscar soluções para o enorme problema do déficit habitacional que flagela Cuba
hoje em dia”. Ele considera que não há um “estancamento” dessas novas medidas e
dos subsídios, mas apenas uma “mudança de política”. “Não se pode suspender a
construção de moradias por meio do estado”, disse Vilaragut, mas “o que se quer
é que a população tenha acesso aos materiais de construção”, como areia,
cimento e tijolos para que possa edificar. Todavia, como ninguém ganha dinheiro
com o processo – como é parte da ilusão comunista – o desinteresse é geral por
parte da própria população afetada, praticamente destituída de qualquer
perspectiva de melhoria social.
Paralelamente, o
governo de Havana decidiu também entregar à população antigos prédios
comerciais, armazéns e outras edificações estatais subutilizadas para serem
adaptadas como moradias. Um simples passeio pelas ruas de Havana mostra como as
pessoas estão a “tirar proveito” do momento para consertar as fachadas, e
incluir um segundo andar a essas construções – nem sempre com a supervisão
adequada de engenheiros qualificados – para agregar mais moradias, numa
verdadeira “cultura do puxadinho”. O resultado é o aumento de cortiços
que crescem desordenada e caoticamente em plena capital do país.
Os próprios
analistas cubanos dizem, com os cuidados que isso requer por lá, que “as
soluções adotadas pelo governo às vezes beneficiam uma ou outra família, mas
que os esforços são pouco sistematizados e não conseguem reduzir o déficit
habitacional em seu conjunto”.
Os trabalhos
possibilitados por essa política dirigida pelo estado socialista começaram
fortes em 2008, quando a ENEI relatou a construção e reforma de 44.775
residências, mas, depois disso, a queda dos números se tornou uma tendência
crescente por parte tanto do estado como de iniciativas particulares. Em 2011
apenas 32.540 casas e, em 2012, 32.103 novas casas foram terminadas. Quanto a
2013 ainda não existem estatísticas disponíveis, mas os números preliminares
são inferiores ao esperado.
Após um balanço
do setor de dezembro último na Assembleia Nacional, o ‘parlamento’ unicameral
de partido único – uma caricatura de mau gosto de democracia – o deputado
Santiago Lage revelou que no fim de outubro de 2013, o setor estatal veria ter
terminado 10.450 casas populares, mas apenas 80 por cento da meta foi atingida,
ao passo que o esforço privado de uma população extremamente empobrecida
conseguiu terminar 9.604 novas moradias, o que demonstra a fragilidade da
política governamental para o setor. Com tal projeção, 2013 deverá se inclusive
muito pior que o ano anterior.
O economista
cubano Pavel Vidal, atualmente professor da Universidade Xavieriana da Colômbia
argumenta que “pode ser que essa mudança no ‘mecanismo estatal’ leve algum
tempo ou que o novo sistema não esteja compensando. Caso a responsabilidade da
construção civil de casas populares esteja sendo atribuída aos
“contapropristas” (a nova categoria de pessoas autorizadas a trabalhar por
conta própria), às microempresas e as recém criadas cooperativas, esse novo
setor privado, na escala que tem, com o capital do qual não dispõe,
evidentemente não irá compensar o que o estado cubano vem fazendo, por mais
insuficiente que seja”. E isso sem contar com as dificuldades que os cubanos
têm para comprar uma casa popular já pronta, conforme a nova lei.
Distante umas
poucas quadras do edifício parcialmente desmoronado, mora Lázaro Márquez, de 44
anos, que compartilha com sua esposa Mileivis e sua filha adolescente e incapaz
apena um quarto numa “cabeça de porco” (um cortiço) no Centro de Havana,
descreve que o lugar tem infiltrações de água de esgoto e rachaduras pelas
paredes. O local é lúgubre e fétido. Márquez ganha em média 50 pesos (2
dólares) por dia dirigindo um “bicitaxi”, e há seis anos seu nome está numa
lista – que parece não avançar nunca – de casos que requerem apoio urgente do
estado para que possa sair dali e ir para uma casa popular melhor, uma vez que
sua filha na fala nem anda e tem que ser carregada numa cadeira de rodas pelas
intrincadas escadarias com grande perigo de cair.
Caso não
consigam solucionar por si próprios onde morar, ou seja, construir ou comprar,
os três acabarão tendo que ir para algum albergue estatal, isso se antes o
prédio em que vivem não desabar sobre suas cabeças. Mas, um apartamento de um
quarto pequeno no Centro de Havana custa cerca de sete mil dólares... “Na
verdade, não existe um mercado de bens duráveis liberalizado, mas apenas uma
flexibilização da compra e da venda de casas, todavia com muitas restrições”,
explicou Vidal.
Ou seja, o
regime cubano não pratica nem um capitalismo estatal direcionado a beneficiar o
povo nem tampouco permite que o capitalismo privado se desenvolva para criar
prosperidade e riqueza para as pessoas. No mundo inteiro a procura pela casa
própria suscita um mecanismo financeiro, tanto privado como estatal, que gera
um crédito hipotecário que – em condições normais e sem abusos populistas –
estimula a expansão da indústria da construção civil de novas unidades
habitacionais, que beneficia todas as camadas da população, principalmente as
menos “favorecidas”. Qualquer economista sabe disso.
Mas em Cuba, um
feudo político dos Castros, a coisa não é vista como no resto do mundo e para o
regime, a maior ameaça é o aumento da prosperidade e da riqueza que as pessoas
do povo possam conseguir com seu trabalho diário.
Enquanto isso
não muda, os prédios em Havana continuarão desmoronando, até que um dia
desmorone de vez o malfadado regime socialista que vitimiza a população da
maior ilha caribenha.
*Francisco Vianna, via Grupo Resistência Democrática.
*Francisco Vianna, via Grupo Resistência Democrática.
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