sábado, 23 de abril de 2011

Lula e o poder a qualquer preço.

Lula critica a indefinição ideológica dos ‘antagônicos’ e ordena ao PT que pague qualquer preço para atrair os ‘diferentes’

Se os acordes de O Guarani avisam que vai começar A Voz do Brasil, se o bordão “Bem, amigos da Rede Globo…” informa que Galvão Bueno está no ar, a inconfundível voz roufenha anuncia o recomeço do assassinato simultâneo da lógica, da gramática, da sensatez e da verdade. Lula nunca nega fogo, reafirma o vídeo de 45 segundos que reproduz um trecho da entrevista concedida pelo ex-presidente à TVT, controlada pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Segue-se a transcrição literal do falatório:
“A crise do PSDB é apenas a crise da fragilidade ideológica de um partido político. Ou seja, um partido que não sabe se é PSDB, se é PMDB, se é DEM, ou seja, é um partido com muitas dúvidas,  ou seja, é um partido que não tem um perfil ideológico definido. A crise do PSDB é uma crise de indentidade (sic), ou seja, primeiro tem uma crise interna… Serra, Alckmin e Aécio… ããnn… depois tem a briga nos Estados, ou seja, as pessoas estão desconfortáveis. Sabe… Agora, eles têm o PT como adversário principal. E o PT precisa juntar todos os diferentes para que a gente possa vencer os antagônicos”.
Em menos de um minuto, “ou seja” dá as caras cinco vezes. “Crise”, com seis citações, ganha por duas de “partido”. A língua portuguesa não escapou do golpe baixo: “indentidade” é de deixar grogue até um frei Betto. Dos quatro principais adversários, três foram mencionados. Previsivelmente, ficou fora da discurseira o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O SuperLula evita pronunciar o nome da sua kriptonita. Mas é FHC o destinatário do palavrório tão indigente quanto o raciocínio do analista político.
O PSDB, é verdade, não tem identidade (com um n só) nem perfil ideológico definido. Como todos os outros, berram os fatos. A exceção foi o PT entre o nascimento em 1980 e a chegada ao governo federal em 2003, quando perdeu primeiro a coerência ideológica, depois a identidade e finalmente a vergonha.  Qualquer partido em qualquer país enfrenta crises internas com alguma frequência, e abriga líderes e correntes que duelam permanentemente. Menos o PT, hoje reduzido a um rebanho obediente ao Grande Pastor.
Ali não há líderes. São todos seguidores do mestre, que começou por escolher a sucessora e agora escolhe até candidato a prefeito. Só cabeças toscas não têm dúvidas. Lula não tem nenhuma. É um poço de certezas sem fundamento. Acha-se, por exemplo, um esquerdista moderno ─ mesmo quando contempla fotografias em que aparece abraçado a abjeções do primitivismo ultraconservador como um José Sarney. Acha que o PSDB não pode aliar-se ao DEM, mas ordena ao PT que pague qualquer preço para andar em péssima companhia.
“Nada que atrapalhe os nossos aliados nós vamos votar na reforma política”, comunicou no fim de semana aos companheiros do PT paulista. Ou seja, deveria ter continuado o pregador, a seita está proibida de aprovar qualquer mudança que prejudique os superiores interesses de patriotas como Renan Calheiros (PMDB), Fernando Collor (PTB), Paulinho da Força (PDT), Aldo Rebelo (PCdoB), Valdemar Costa Neto (PR) ou Paulo Maluf (PP),  fora o resto. Há vagas para qualquer um, desde que se converta em devoto. É esse o recado emitido na última frase do vídeo.
“O PT precisa juntar todos os diferentes pra que a gente possa vencer os antagônicos”, decidiu o Guia. Depois de criticar sem ter lido o ensaio de FHC, que recomendou ao PSDB ouvir com mais atenção o eleitorado da classe C, Lula resolveu chegar ao mesmo alvo pelo caminho do pântano. Nada a ver com programas, projetos ou plataformas. Um contrato de aluguel é mais prático. Os “diferentes” da vez são o prefeito Gilberto Kassab, a senadora Kátia Abreu, o vice-governador Guilherme Afif Domingos e outros morubixabas do PSD. Segundo Kassab, o partido “não será de direita, nem de esquerda nem de centro”. O caçador de votos só exige perfil ideológico definido de partidos inimigos.
Um debate entre os ex-presidentes não se limitaria a confirmar a superioridade intelectual de FHC. Também acabaria escancarando a inferioridade moral de Lula. É disso que fogem o mestre e todos os seus discípulos. É aí que o medo mora.

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