segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Hezbollah experimenta do próprio veneno em atentado da Al Qaeda.

O suposto gênio estratégico do Hezbollah conseguiu meter-se numa guerra contra extremistas ligados à ‘al Qaeda’, que pode vir a ser um mal ainda pior do que seu grupo é capaz de fazer.
Ebaneses chegam ao local onde um carro bomba explodiu no sul de Beirute, no Líbano, na quinta feira .de ontem (foto AP/Hussein Malla)
Qualquer criança de quatro anos de idade, no Líbano e certamente na comunidade xiita, sabe quem foi o responsável pelo ataque de quinta feira (15), no reduto do Hezbollah conhecido como Dahieh, no sul de Beirute, e que matou pelo menos 18 pessoas. Você não precisa ser um agente da inteligência ou um analista de Oriente Médio para reconhecer que grupos sunitas extremistas, que operam como parte da oposição síria, cumpriram sua promessa de atacar o Hezbollah e seus apoiadores em sua própria casa.
O atentado terrorista foi uma resposta à participação dominante do Hezbollah na luta contra os rebeldes na Síria. Na quinta feira de ontem à noite, a "Brigada de Aisha", chegou mesmo a emitir uma declaração assumindo a responsabilidade pelo ato para de deixar bem claro ao Hezbollah por que perpetrou o atentado a bomba.

Coluna de fumaça vista do Monte Líbano em frente ao local da explosão e que também pode ser vista em toda a cidade. (Foto  AP/Ahmad Omar)
E, no entanto, apesar disso, uma série de políticos libaneses, nem todos xiitas, se apressou em insinuar que Israel estava envolvido. Tais alegações são tão ridículas que até mesmo no Líbano são também consideradas um insulto à inteligência – mesmo quando elas são proferidas pelo Presidente Michel Suleiman, que alegou que a explosão tinha as impressões digitais dos israelenses, ou do líder druso Walid Jumblatt, um dos grandes oportunistas do Oriente Médio, que de forma similar levantou acusações não menos ridículas.
A razão para estas alegações é óbvia: esses políticos, incluindo Suleiman, estão preocupados que um ataque como este suscitará uma retaliação por parte do Hezbollah particularmente violento. Ao apontar o dedo para Israel, eles estão tentando fabricar um inimigo comum para todos os libaneses. Suleiman, que há poucos dias exigiu o desarmamento do Hezbollah, entende que um ataque como este em Dahieh poderia eventualmente levar a uma tomada completa do poder pelo xiita Hezbollah no Líbano e habilitar o grupo a fazer um expurgo de todos os focos de oposição – sejam eles extremistas sunitas ou políticos rivais e implantar uma ditadura ainda mais dura no Líbano.
Como muitos no Líbano, Suleiman reconhece que a guerra civil da Síria, que intermitentemente se infiltra no Líbano, na quinta feira de ontem sofreu uma escalada a um nível ainda mais perigoso para o seu país. Notável foi que, no website da emissora de TV do Hezbollah, Al-Manar foi rápido em divulgar os comentários do número 2 da organização xiita, Naim Kassam, que disse que Israel está dissuadido de confrontar o Hezbollah “e verifica mil vezes antes de arriscar qualquer agressão contra nós”. Este foi Hezbollah dizendo a todos os políticos e à sua própria gente que não, Israel não é o problema agora.
Mas o Hezbollah não tem muitas opções boas neste momento. Para começar, ele não tem um alvo claro para revidar ou punir. O atentado a bomba não foi uma surpresa em particular. O Hezbollah disse só recentemente aos seus homens para estarem em alerta em áreas xiitas, por medo de atentados suicidas, carros-bomba, ou ataques de mísseis. Evidentemente, isso não ajuda e representa um amargo experimento de seu próprio veneno.

Populares a procura de sobreviventes na área da explosão. (Foto  AP/Ahmad Omar)
Na última quinta-feira, ocorreu um dos mais duros ataques de terror que Hezbollah já sofreu. E isso deixa de calças curtas e pega mal para a ostensiva ‘sabedoria’ do secretário geral do Hezbollah, Hassan Nasrallah. Este suposto gênio da estratégia cometeu um erro tolo, quando ordenou a seus homens, há dois anos, que aumentasse seu empenho na luta em que se envolveu ao lado das forças de Bashar Assad, na Síria, um erro semelhante ao que cometeu em 2006 quando aprovou o sequestro de soldados israelenses, o que levou à Segunda Guerra do Líbano.
Neste momento, no Líbano, a emissora de TV afiliada ao Hezbollah, TV Al Mayadeen, transmitiu episódios noturnos de uma série dedicada a mostrar essa guerra, que acabou precisamente há sete anos. O próprio Nasrallah é entrevistado nos episódios finais e reafirma sua assertiva de vitória do Hezbollah. Ele parece ter esquecido ter reconhecido imediatamente após a guerra, publicamente, que os sequestros tinham sido um erro e que, se soubesse o preço que o Líbano iria pagar, não os teria aprovado.
É justo supor que na noite da quinta feira de ontem, também, Nasrallah tenha internalizado a dimensão do erro que cometeu quando ele cedeu à pressão iraniana e concordaram em enviar suas tropas para lutar ao lado de Assad na Síria. O atentado de ontem pode ser apenas o começo para os grupos terroristas ligados à Al-Qaeda, que veem os xiitas – não menos do que os judeus e os cristãos – como seu inimigo.
O líder Hezbollah, Nasrallah, pode até estar começando a perceber que agora está em desacordo com as únicas pessoas no Oriente Médio, cuja mentalidade pode ser ainda mais perniciosa do que a sua própria.
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NT – A grande mídia brasileira e sulamericana não disse uma palavra sobre esse atentado. Cada vez mais, temos que recorrer à mídia internacional se quisermos saber como as coisas estão ocorrendo no mundo.
*Avi Issacharoff – Tradução de Francisco Vianna, via Grupo Resistência Democrática

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