sábado, 31 de agosto de 2013

Os Estados Unidos rejeitam lorotas procastinatórias da Síria.

A Casa Branca parecia ontem levar adiante as preparações para atacar a Síria, após desconsiderar o pedido de Damasco de que se aguarde até o final das inspeções da ONU, como apenas uma tática de protelar o ataque militar.
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Em Damasco, Síria, ativistas acusam o governo de ter perpetrado ataque maciço com  armas químicas, que matou mais de mil e cem pessoas nos subúrbios da cidade.

O Presidente Obama disse que “há necessidade que o regime sírio sofra consequências internacionais” pelo ataque com armas químicas contra o seu próprio povo em 21 de agosto último e que está mais do que provado que isso aconteceu por ordem do governo sírio. Acrescentou que “os EUA não têm qualquer interesse em desencadear um conflito bélico aberto com a Síria”, mas completou suas declarações à PBS NewsHour, alegando que “temos que nos assegurar de que quando países passam por cima das normas internacionais e, por exemplo, cometem genocídio com o uso de armas químicas, têm que ser contidos de forma exemplar”. Todavia, esclareceu que ainda não ordenou nenhum ataque ao regime da Bashar al Assad.
Um encontro a portas fechadas com cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU levou seus representantes a considerar a resolução rascunhada pela Grã Bretanha para o uso da força militar para que se evite qualquer uso subsequente de armas químicas na Síria e que vem sendo adiado pela oposição da Rússia e da China.

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21 de agosto de 2013 – Imagem, recebida da Comissão Local de Arbeen, mostra sírios a receber tratamento imediato após alegado ataque por arma química no subúrbio de Arbeen de Damasco.

Por sua vez, as autoridades estadunidenses deixaram claro que consideram tais iniciativas irrelevantes para a decisão de Obama em adotar uma ação militar contra o regime sírio e, muito embora não tenham dado qualquer indicação sobre quando tal ataque militar americano poderia ocorrer, disseram que esperam que os inspetores da ONU saiam da Síria no sábado. Uma vice-porta-voz do Departamento de Estado, Marie Harf, disse que “a Casa Branca não vê nenhuma saída pela via das Nações Unidas em função da oposição continuada da Rússia à ação militar na Síria e que, portanto, os EUA continuarão com suas consultas e tomarão as ações que julgarem apropriadas nos dias que se seguirão. Qualquer que sejam essas ações, que Rússia e China façam o que acharem melhor”.
Tal desconsideração dos EUA parece colocar a Casa Branca e seus aliados em desacordo com a liderança da ONU. O Secretário Geral Ban Ki -Mon, sem definir um prazo ou atender ao pedido da Síria para um prolongamento do tempo de investigação dos seus inspetores, disse que "é  essencial a apuração dos fatos" e que a equipe da ONU "precisa de tempo para fazer seu trabalho".
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Ativistas acusam o regime de Bashar al-Assad de lançar um amplo ataque químico, que dizem ter matado uma multidão pessoas que aparecem cadáveres na foto acima. As agências de notícias estatais afirmam que o uso de armas químicas é uma “afirmação completamente infundada”.

Já o enviado especial da ONU à Síria, Lakhdar Brahimi, disse que a lei internacional exige uma decisão do Conselho de Segurança antes que qualquer ação militar seja posta em prática. “Sei que o Presidente Obama e o governo estadunidense não são conhecidos como agressores gratuitos, mas o que eles decidirão eu não sei”.
Algumas autoridades do governo americano, falando sob a condição de anonimidade, disseram que qualquer ataque das forças americanas no Mediterrâneo teria uma amplitude limitada e cirúrgica em sua extensão e duração, de modo a destruir apenas instalações militares sírias e poupar ao máximo a vida de civis. A força tarefa aeronaval americana está posicionada ao largo do litoral sírio e o Secretário de Defesa dos EUA, Chuck Hagel, já disse que tudo está pronto para começar, dependendo apenas de Obama dar a ordem de atacar.
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21 de agosto de 2013 – Um homem segura em prantos o corpo de uma menina que os ativistas disseram ter sido morta por gás venenoso na área de al-Ghouta nos subúrbios a leste de Damasco. (Foto Reuters)

Rússia e Irã, principais apoiadores da dinastia alauíta síria de Bashar al-Assad há já dois anos, têm advertido sobre o que consideram como “consequências catastróficas” da intervenção militar. A França, que detém o quinto assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, disse que Assad deve ser “punido” pelo genocídio com armas químicas.
A posição de Obama também tem sido fortemente apoiada pelo Primeiro Ministro britânico David Cameron quanto à necessidade de punir o regime ditatorial sírio pela morte de centenas de pessoas. Ambos os países têm sido consultados intensamente pela administração Obama e, de tais consultas surgiu uma resolução britânica que, aparentemente foi proposta com baixa expectativa da Rússia — que vetou as medidas e questionando as alegações para o ataque à Síria ao longo desta semana.
Aparentemente, Cameron também enfrenta problemas em casa na medida em que a oposição cresce à participação da Grã Bretanha ao ataque liderado pelos EUA. Cameron defendeu seu ponto de vista numa sessão parlamentar especialmente convocada para tratar do tema, na quinta feira passada. Sentindo a pressão política, Cameron também tinha na véspera conclamado para uma segunda sessão na terça feira próxima de modo a dar mais um tempo para o debate e a votação final.

O Secretário para Assuntos Externos do Governo, William Hague, disse que reconhece “as profundas preocupações no país em função do que ocorreu no Iraque”, quando o governo britânico anterior, debaixo de forte oposição política e pública, apoiou uma invasão estadunidense com base no que acabou sendo falsas evidências da existência de armas de destruição em massa em poder de Saddam Hussein. “Temos que estar convictos de que estamos determinados a agir contra comprovados crimes de guerra” por uso de armas químicas “numa base consensual”, disse Hague.

Obama tem um compromisso na terça feira de viajar para a Suécia, onde passará um dia antes de ir para a Rússia participar de um encontro dos países do G-20, que poderá se tornar na última porta a ser fechada capaz de impedir um ataque imediato das forças americanas ao regime de Assad.
A Casa Branca espera, também, poder divulgar na terça feira um relatório não secreto da inteligência americana capaz de eliminar qualquer dúvida a respeito da “inegável” responsabilidade de Bashar al Assad pelo ataque químico nos arredores suburbanos de Damasco.
Os investigadores da ONU, encarregados de apenas determinar se armas químicas foram realmente usadas, não terão acesso a queixas de ambos os lados em conflito. “Ninguém, ou quase ninguém, tem dúvidas de que armas químicas foram usadas contra a população e em larga escala na Síria” e a oposição não tem a capacidade de admitir tais ataques, disse Obama. “O ataque, caso haja, não resolve todos os problemas dentro da Síria", disse ele. Acrescentou que Assad precisa entender que “por matar civis e colocar vizinhos aliados dos EUA, como a Turquia e a Jordânia, em risco não apenas quebrou as normas e padrões internacionais de decência", mas também criou "uma situação em que os interesses nacionais dos Estados Unidos foram prejudicados, e isso precisa parar".
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Corpos de dezenas de crianças mortas dispostas lado a lado em Arbeen, subúrbio de Damasco. Há dúvidas sobre se os investigadores da ONU terão tempo hábil para examiná-los. (Foto: Reuters)

Numa carta a Ban Ki Mom, na última quarta feira, a Síria acusou as forças da oposição de terem atacado suas forças armadas em três ocasiões, este mês, com um veneno "parecido com o que chamamos de gás SARIN", o composto letal que os Estados Unidos e outros dizem que foi usado no ataque em áreas controladas pelos rebeldes a leste de Damasco. A carta solicitava aos fiscais da ONU o adiamento do prazo final para a entrega do seu relatório ao Conselho de Segurança, inicialmente prevista para este fim de semana.
Numa resposta debochada, Harf, do Departamento de Estado, disse: "Acho que esse apelo só teria credibilidade se em um dia ou dois, ou no máximo cinco, o regime sírio tivesse parado de bombardear a área para destruir sistematicamente as provas e encobrir o que haviam feito, e realmente tornar inúteis as investigações da ONU nos locais". "Não quero me arriscar a adivinhar por que estão fazendo o que estão fazendo", disse Harf ao governo sírio. "Mas acho que é claro que os EUA não vão permitir que se escondam por trás de uma investigação da ONU sobre o uso de armas químicas, afim de se safarem da punição merecida".
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Mais crianças mortas em outra área da capital síria, todas por gás venenoso do tipo SARIN, o mesmo composto utilizado no atentado terrorista ao metro de Tóquio em 1995. (Reuters)

Uma equipe de 15 pessoas da ONU chegou a Damasco, em 18 de agosto, inicialmente autorizada pelo governo sírio para passar duas semanas investigando alegações de uso de armas químicas em dois episódios perpetrados pelos rebeldes e um pelo governo. Tais missões foram pegas de surpresa pelo ataque de 21 de agosto, mas somente na segunda-feira é que os especialistas puderam visitar a área afetada. Na quarta feira, eles voltaram para uma segunda visita para coletar amostras e entrevistar testemunhas.
Além da divulgação de informações de inteligência e coordenação com aliados, o calendário dos EUA para uma resposta é influenciada por consultas com o Congresso. Os legisladores têm sido amplamente favoráveis à intervenção, mas fizeram perguntas sobre o momento e a justificativa. Numa carta, ontem, de Obama ao Presidente da Câmara dos Deputados (House), John A. Boehner (Republicano de Ohio) ficaram claras as preocupações de que os numerosos peritos externos têm levantado óbices sobre a avaliação de potenciais cenários de pós-ataque do governo sírio.
O deputado escreveu: "Essas considerações incluem o regime de Assad potencialmente vir a perder o comando e o controle de seu estoque de armas químicas para organizações terroristas – especialmente aquelas ligados à al Qaeda, ganhando maior controle e manutenção de seu território".
A Casa Branca, o Departamento de Defesa, e funcionários do Departamento de Estado pretendem informar os líderes do Congresso e os principais membros da Câmara e das comissões de segurança nacional do Senado, pelo telefone, às 06 horas de quinta feira, conforme um assessor do Senado.
*FRANCISCO VIANNA, com mídia internacional, via Grupo Resistência Democrática.

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