Um tapa ou um monte deles, qualquer coisa é inaceitável!
Mas a acusação de “racismo” — porque alguns médicos são negros, e os brasileiros acusam a existência de trabalho escravo — é de uma má-fé que impressiona.
Obviamente, os que se manifestam não estão se referindo nem à origem (não é xenofobia) nem à cor da pele dos profissionais.
Estão é protestando contra o regime de trabalho acordado entre os governos do Brasil e o de Cuba.
Eles estão reagindo ao fato de que o nosso país pagará R$ 10 mil mensais por profissional, mas este verá apenas uma pequena parte desse dinheiro — algo em torno de 20%.
A situação é de tal sorte surrealista que as autoridades brasileiras nem mesmo sabem quanto a tirania comunista repassará aos médicos. Isso é lá com ela.
Ora, parece evidente que profissionais bem remunerados tendem a trabalhar mais satisfeitos. Até com os cubanos deve ser assim.
Cabe a pergunta: só haverá negros entre os 4 mil cubanos?
Segundo o censo de 2002, assim se distribuía a população da ilha: 7.271.926 brancos (65,05%), 1.126.894 negros (10,08%) e 2.778.923 mulatos (24,86%).
Ou por outra: em termos percentuais, há mais negros e mestiços somados no Brasil do que em Cuba.
Quando os médicos brasileiros gritaram “escravos!” e os convidaram a voltar às suas respectivas senzalas — na hipótese de que tenha acontecido assim mesmo —, era o regime de trabalho que estava sendo atacado.
Escravo, branco ou negro, “Isauro” ou não, é todo aquele que não tem liberdade de ir e vir; que não é dono do seu próprio trabalho (porque o estado dele se apropriou); que é obrigado a servir a um senhor, caso contrário, virá a punição.
E não é rigorosamente essa a situação dos médicos cubanos que vieram ao Brasil, qualquer que seja a cor de sua pele?
De resto, constato: se os 4 mil médicos forem um espelho da população de Cuba, haverá mais brancos entre eles do que negros.
Caso se verifique o contrário, então será preciso examinar a hipótese de racismo, sim, mas em Cuba.
Não, senhor ministro!
Não, senhor secretário!
As excelências estão apertando o botão do racismo porque sabem que o programa em curso fere diversas leis do nosso país.
Então cumpre evocar essa farsa na aposta de que os absurdos nele contidos se percam num debate lateral.
Escravos, sim!
São escravos porque não são donos do seu trabalho, porque não são donos do seu corpo, porque não são donos de sua própria consciência.
O mais massacrado dos operários, nos momentos mais terríveis da Revolução Industrial, tinha de seu — cabe visitar o velho Marx — o trabalho.
Essa é, afinal de contas, a constatação original, primeira, a gênese mesmo, que vai resultar na proposta da revolução comunista.
Esse operário era, então, segundo a teoria, obrigado a vender essa força de trabalho por um valor inferior ao que ela rendia — não é isso? —, e o patrão se apropriava desse excedente.
Marx pôs seus furúnculos no traseiro para pensar e teve uma ideia: chega de transferir esse excedente para o patrão!
Ele tem de ficar com os próprios trabalhadores.
E isso só será possível, definiu, com a socialização dos meios de produção.
Não confunda!
Abolir também a propriedade privada das cuecas não é ideia de Marx, mas de Pablo Capilé, um pensador que veio algum tempo depois…
Cuba é marxista!
Vejam lá no que deu.
Aprendemos que o socialismo é a pior distância entre o capitalismo e o escravismo. O “patrão” dos médicos cubanos não está se apropriando do seu sobretrabalho, mas de seu trabalho inteiro — e do dono desse trabalho também.
Em troca, os médicos receberão não mais do que uma ração, que ainda é superior àquela que se fornece aos que ficam em Cuba.
Ser escalado para esses convênios, ainda que obrigados a deixar na ilha suas respectivas famílias, ainda é melhor do que lá permanecer.
Preconceito uma ova! Xenofobia uma ova!
Os médicos cubanos — os que não forem agentes do regime, porque os há aos montes , infiltrados no grupo, a exemplo do que se viu na Venezuela — não podem falar eles próprios porque, se o fizerem, sabem qual é seu destino.
Serão imediatamente mandados de volta a Cuba. Como já alertou o buliçoso Luís Inácio Adams, será inútil pedir asilo.
Os asquerosos
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